domingo, 25 de janeiro de 2009

Capitulo 20

A mansão da Drei Kronen fica em... Bom você não precisa ficar sabendo necessariamente de tudo, certo? Com uma noite de viagem chegamos novamente a Denver. Ryan estava exausto. Paramos em mais um hotel barato. Fiquei pensando se tudo foi culpa de Anne Marie ou se foi culpa de Mitch. Eu tenho o diário dela, mas nunca tive coragem de abrir. Não me lembro de ter visto na minha mala. E sinto que nunca mais vou vê-la, nem ela, nem o diário. Bom, eu espero. Eu igual Ryan, cai na cama (mas não na mesma) e morri. Eu acordei no final do dia seguinte sem dores, arranhões, dor nas pernas e sem marcas no pescoço. Exceto a mordida de Mitch, que terei para sempre. Olhei para o lado. Não vi o Joey. Sua presença era constante, mas sua imagem, ou seu toque estavam longe. Como eu queria abraçá-lo. Sentir aquele mínimo sentimento, de que alguém me ama, e que se importa comigo. Como será que ele esta? Lembro da ultima viagem que fizemos.
- Tudo pronto Mimi? – Ele pegou as malas e foi para o hall. Ele estava pronto para fechar a porta.
- Pegou o seu passaporte?
- Esta na gaveta da minha cômoda lá no meu quarto. – eu o encarei. – Ah! É mesmo... – Ele foi pegar.
Passamos ótimos momentos juntos. Quase nunca discutimos. É claro que passamos algumas noites juntos, não posso negar. Mas foram raras, pesando em 67 anos. Mas mesmo assim, eu tenho medo de apaixonar e de me sentir traída, e me descontrolar novamente. E quebrar a promessa que eu fiz a Emma, quando eu matei os... Bom, melhor deixarmos isso para outro dia.
- Meu Deus! – gritou Sam, olhando um aparelho velho que apitava.
- O que foi Sam? – perguntou Jennifer, sentando- se ao lado dele.
- A quantidade de níveis eletro magnéticos em uma casa aqui perto é enorme!
Eu olhei pro relógio. Eram quase nove da noite. Em duas horas o sol ia aparecer, e essa é a hora mais perigosa para os vampiros. Os meninos já estavam na porta com energia toda, já que dormimos o dia inteiro.
- Você vem? – perguntou Kurt.
- Vou né? Se não é capaz de alguém morrer. Isso me lembrou de uma coisa – Ah! Kurt – ele parou – Nunca mais entre numa casa de vampiros ok?
- Claro que não né? Se não é capaz de alguém morrer. – Nós saímos e ele trancou a porta.
A casa não era tão perto, mas chegamos. E não era uma casa, era a casa. Mansão, bela, mas típica de praia. Muitos vidros, no alto de um morro e coloridos jardins. Na grade da cerca, inúmeras placas de venda. Pulamos a cerca de metal. Jennifer resolveu ficar no carro, ela tinha trocado de blusa, mas ainda se sentia suja. Ela parecia muito abalada.
Logo que entramos na casa, senti um cheiro fortíssimo de gasolina, até os meninos sentiram. A casa estava vazia. Tinha apenas uma cortina branca na porta aberta que dava para o maravilhoso quintal lá fora, que balançava com vento. Havia uma lareira do outro lado, onde na parede tinha uma espada pendurada. Ela era velha e enferrujada. Ryan chegou mais perto, e pegou a espada. No pé da escada havia dois galões de gasolina, destampados. Kurt pegou os galões, apesar do cheiro. A casa era toda branca tanto por dentro quanto por fora. O cheiro estava sufocando os meninos, e eu também, então saímos para o quintal, que mais parecia um clube. Era super bem cuidada, chão de pedra, com oásis de flores e paineiras, com decoração, um espaço para churrasqueira, uma fantástica piscina, e ao longe, iluminado pela lua, podia-se ver um tabuleiro gigante de xadrez. Olhei novamente a casa. Acima do segundo andar, havia uma torre com um relógio. Simplesmente lindo.
- Olha que esquisito – disse Sam apontado para a piscina.
Alem de enorme ela era realmente muito peculiar. Estava com o seu fundo quebrado, mas aparentemente, havia uma sala de baixo da piscina e partes do teto corromperam. Agora no fundo havia grandes buracos imersos na escuridão com algumas vigas de madeiras ainda a vista. A água brilhava a luz da lua, e refletia nos olhos hipnotizados de Sam. Ele se abaixou para tocar a água. O relógio da torre badalou. Eram cinco horas. Antes que eu dissesse que não, a água já fazia ondas, do toque de seus dedos. O chão estremeceu. Mas os meninos não notaram. Um som agudo começou a soar. Incomodava, levei as minhas mãos aos ouvidos. Os meninos me olhavam sem entender o que acontecia. De repente bolhas saiam dos buracos do fundo da piscina. Ele aumentou e parecia que agulhas dilaceravam meus tímpanos. Eu caí de joelhos. Era uma dor, um barulho de gritos agudos que me ensurdecia. Sam começou a gritar de dor. Suas costas estavam sendo arranhadas por criaturas invisíveis. Ele se contorcia e fazia movimentos violentos com as mãos para impedir seja lá o que o ataca. Kurt e Ryan não sabiam direito o que fazer, nem quanto a mim, nem quanto ao Sam. Sam se debatia e sangrava, ceio em minha direção. Ele se desequilibrou e esbarrou em mim, e ambos fomos para dentro da piscina, onde detalhe: eu não sei nadar.
O barulho tinha sumido quase que por completo, mas eu estava em volta de uma nuvem de bolhas de ar. Elas foram subindo para a superfície, mas eu não sabia o que fazer. Estava dentro de uma massa fria, que me envolvia por completo. Comecei a movimentar braços e pernas, mas eu continuava no lugar. Vi Sam, ele continuava se debatendo em uma nuvem de sangue. Eu debati as minhas pernas como se estivesse andando na horizontal. Lentamente fui me deslocando. Tinha que salvar Sammy. Eu nadei (pela primeira vez) até o Sam, que estava quase ao meu lado. Eu me deitei no chão da piscina debaixo dele, dobrei as pernas e o empurrei com toda a minha força. Sam saiu da água. Ouvi um grande estalo. O azulejo que me sustentava se quebrou, eu fui afundando junto com a cerâmica azul e as vigas de madeira. Vi um grande clarão borrado na frente da casa. Algo tinha explodido. Não! Eles não podem ter morrido! Eu fichei os olhos e comecei a me debater. Eu só afundava e afundava. De repente algo caiu na água. Eu abri meus olhos, era Kurt, e vivo! Ele nadava em minha direção. Eu estiquei as mãos. Minha visão ficou embaçada e meu peito doía. Eu me sentia fraca e não conseguia me mexer. Tudo estava ficando azul escuro e fora de foco. Meu peito estava duro, eu precisava de ar! Eu estava me afogando! . Suas mãos quentes pegaram em minhas mãos frias. Ele me puxou e me deu um abraço. Ele encostou os lábios nos meus. Ele estava me beijando enquanto eu morria? De repente ele assoprou o melhor ar que já tinha respirado. Sintonizei-me novamente. Eu olhei aqueles olhos mais perto do que eu já tinha visto. Eram lindos. Ele me puxou e fomos nadando para cima. Quando chegamos à superfície, o ar parou a dor conforme ia descendo pela garganta. Kurt estava tão ofegante quanto eu.
- Por que raios você não nadou?! – ele saiu da água, e me estendeu a mão.
- Por que eu não sei nadar. – Eu segurei a mãos dele. Ele me deu um puxão. – O que aconteceu? Que clarão era aquele?– eu vi o estado de Sam. Ele estava de pé, mas apoiado em Ryan. - Sam!
- Depois que você caiu na água, Kurt acabou deixando o galão de gasolina cair no chão, e já estava tirando os sapatos pra ir atrás de vocês, mas eu o impedi, pois era capaz dos monstros comerem ele também. Mas então o Sam saiu voando da água, e ele caiu bem depois da poça de gasolina, ai eu raspei a espada no chão de pedra e bam! Explosão de monstrinhos.
- E nos podíamos ter morrido também, Ryan. Você tem que pensar antes de agir. Você é muito irresponsável.
Ryan fechou a cara e continuou a carregar Sam. Eu acho que ele foi muito corajoso. Isso é o que eu teria feito se eu não virasse um espetinho. Kurt voltou para o carro para pegar umas tolhas para nós. Sam estava meio descordado.
- Ai Ryan você é muito irresponsável, e não sei o que, e bla, bla, bla, bla, bla. Não agüento mais ouvir isso.
Eu acalmei Ryan. Ele estava muito irritado. Ele ficou quieto depois disso, mas não ficou mais tão bravo. Chegamos ao carro e eu enrolei Sam na toalha, depois me enrolei. Quando chegamos ao quarto, Kurt foi buscar comida e Ryan ficou no quarto enquanto eu e Jennifer limpávamos o Sam. Jennifer amassava algumas folhas num potinho enquanto eu limpava as feridas das costas com um algodão com água morna.
- Isso dói! – Sam reclamava.
- Você quer que eu limpe com a língua? Por que se achar melhor eu faço! - ele parou de reclamar.
As feridas eram cortes, arranhões de garras, não muito fundos, mas compridos e em grande quantidade e pelo corpo todo. No rosto não havia, era mais no pescoço, nas costas e nos braços. Havia duas na barriga. E que barriga!
Jennifer espalhou a missinha verde nas feridas, que causou um alivio imediato em Sam. Ele suspirava.
- Bem, bem melhor.

Capitulo 19

- Saiam! Saiam!- Midori gritou pequenina perto da multidão enfurecida que corria atrás dela. Uma vampira loira estava quase a alcançando. Nós voltamos para fora e esperamos Midori passar para fechar a porta.
- Isso aqui é muito pesado, não vamos conseguir fechar! – Jennifer exclamou. Começamos a movimentar a porta. Ela era realmente pesada. Eu e Ryan de um lado, Sam e Jennifer do outro. A porta começou a se mexer e lentamente a se fechar, pegando velocidade. Ela estava quase se fechando, mas Midori passou. Um segundo antes da porta se fechar por completo uma loira passou raspando. Socos tremiam a porta que nós quatro fazíamos força para manter fechada. Midori e a loira começaram a brigar feio. Entre socos, chutes e golpes elas travavam a batalha mais legal entre mulheres que eu já tinha visto. Não sei se ela está ganhando, mas as duas apanham bastante. A porta começou a se abrir novamente pela força dos vampiros. Não havia nada que pudéssemos usar para bloquear a porta.
A loira estava em cima de Midori pegando-a pelo pescoço. Ela não pode morrer! A porta balançava, e uma mão saiu tentando agarrar Ryan. Aquilo estava saindo fora do controle. Mas como pegaríamos a corrente no carro? Jennifer desencostou da porta.
-Sei de um jeito. Kurt, Sam vão pegar a corrente, eu e Ryan cuidamos disso.
- Cuidamos?! – Ryan exclamou.
Jennifer bateu uma palma e com as mãos fechadas se concentrou. Murmurou umas palavras e bateu com as duas mãos na porta, que começou a esquentar a partir de suas mãos. Ryan logo desencostou da porta. Os vampiros de trás da porta rugiram. As mãos voltaram para dentro. Gritos de dor podiam ser ouvidos, e algumas mãos que estavam presas na porta começaram a queimar. Ryan voltou correndo para o carro, que estava estacionado na frente do jardim. Porém, as mãos agora quebravam as janelas, que graças ao metal dos vitrais não conseguiam passar. Mas mesmo assim, era assustador. Ryan voltou e jogou um facão para Jennifer.
- Hora de cortar alguns dedos. – ele disse sorrindo. Ele adorava ação, sangue e adrenalina.
Jennifer, encabulada, olhava o facão. Ela nunca tinha pegado em um, e muito menos usado. Ela fechou os olhos e começou a cortar. Sangue espirrava na blusa dela. Ryan cortava braços, cabeças, dedos, o que saia pelos buracos da vidraça, ele decepava. Eu e Sam voltamos segurando metros e metros de correntes. Eu fiquei de um lado da porta enquanto Sam saiu correndo por volta da casa. Parei para olhar Midori. Elas começaram a discutir ofegantes, mas separadas. Midori sangrava no nariz e a loira tinha cortes por todo corpo.
- Me deixa adivinhar. Ele te faz tomar pílulas para gravidez? Por que você não esta grávida porcaria nenhuma. Não há coração nenhum batendo dentro de você.
- Cala boca! Você não sabe nada de mim! Você nunca quis saber. E nunca saberá. – Midori deu uma gargalhada.
- Você sempre foi patética. A dedo duro da irmã mais velha. E você sabe que eu vou aceitar numa boa a separação, você só quer me matar por está com medo...
- Cala boca! – a loira gritou.
- Medo de ele escolher a mim do que você!
A loira correu para cima de Midori. A Midori olhou para nós, e acenou com a cabeça. Ela tinha entendido o plano. Era só o círculo se fechar. O s vampiros desistiram de sair pelas janelas, mais ainda se ouvia gritos horrendos de dor. Ryan se aproximou de mim com o cadeado. Ela se esquivou dos ataques furiosos da mulher, ficando mais próxima da porta. Sam apareceu na outra ponta da casa. Ele estava correndo o mais rápido possível. Eu acenei para ele, apontado a loira. Eu e ele corremos em direção da loira. Estávamos somente a alguns passos, quando Midori deu um ultra empurrão nela. Eu e Sam fechamos o círculo e Ryan fechou com o cadeado. Fechamos o círculo com uma corrente de prata. Agora todos estavam paralisados. A casa ficou em completo silêncio.
- Ótima idéia meninos – disse Midori enxugando o nariz sangrando com a mão. Ela se aproximou da estatua da mulher loira, completamente paralisada. Ela cuspiu nos pés dela. – Tenha dó Anne Marie, desde quando você pensa que pode competir comigo?E eu só não te mato, por que eu prometi para Emma.
Ela saiu andando e entrou no carro, sem dizer uma palavra. Nós a seguimos. Afinal de contas, podia chegar a qualquer momento um vampiro que simplesmente quebre a corrente.

Capitulo 18

Era hora do almoço. Eles desceram do carro, mas eu fiquei. O carro estava estacionado em frente a pequena e simpática lanchonete, na sombra. Eles se sentaram à mesa da janela, para ficar de olho em mim. Kurt e Sam não tiravam seus olhos de mim, e de vez em outra murmuravam alguma coisa. Ryan e Jennifer estavam conversando e rindo. Eu me virei e almocei ali sozinha, no saquinho de canudinho, apenas ouvindo o rádio, mas sem prestar atenção. O sangue estava sem gelo. Eu prefiro ele frio do que quente, pois ele só fica bom assim, quando fresco. Sam se levantou e falou da janela, que estava aberta.
- Você quer companhia? Quer conversar talvez?
- Eu quero... Gelo.
Ele ficou parado um momento, mas se virou, quando logo voltou para a janela.
- Você ouviu?
- O quê?
- A notícia. Vai vir uma tempestade no fim de semana em Indiana. Melhor nos apressarmos.
Ele entrou na lanchonete, todos arregalaram os olhos, era hora de ir. Voltaram para o carro e dessa vez Ryan que corre mais, foi dirigindo e foram calculando o tempo até Indiana. Viram rotas alternativas, ficar parado um dia no lugar, não parar até chegar a Atlantic City. Mas nada parecia muito seguro. Resolveram esperar para ver a intensidade da tempestade, se não, ia ser com chuva mesmo. As coisas estavam se arrumando e era melhor eu me preparar. Mas me preparar para que? O que Mitch pretendia afinal?
Olhei para o lado. Jennifer olhava entediada com seus olhinhos azuis para fora. O que será que ela pretendia, afinal? Matar Mitch? Não sei nem se eu consigo. Descobrir a verdade? A troca de que? Não vai trazer Dixon de volta...
- Jennifer, por que você quer ir conosco mesmo?
- Pelo mesmo motivo que você. Descobrir a verdade e tirar o peso de culpa. E afinal, foi você que me chamou.
É mesmo, mas... Culpa? Quem falou em culpa? Não me arrependo do que fiz. Todos mereciam. Sem exceção. Lembrei de uma coisa que ela comentou.
- Aquela Mia, Mey... Por que ela quer me matar mesmo?
- Mia, é uma ministra, muito amiga de Sirus. E bom, algo que eu me esqueci de comentar. Para você assumir o trono de ministro, como Sirus, Genus e Louis, você precisa ser casado. Para você não se distrair de seu posto em busca de mulheres.
Fiquei paralisada. Era isso que Mitch pretendia. Ter eu de volta. Mas nem por toda eternidade! Eu não posso ir. De jeito nenhum. Pare o carro! Eu quase gritei. Mas estava o maior sol lá fora. Vampiros não podem tomar sol de forma prolongada, pois somos alérgicos a vitamina K. E eu já estou passando mal.
- Acho melhor pararmos. Eu estou passando mal, com tanto sol lá fora.
- Tem certeza que não agüenta aí? – Ryan disse olhando pelo espelho retrovisor.
Tenho que adiar essa viagem. Pelo menos enquanto não souber o que fazer. Eu cai no colo de Jennifer.
- Midori? – ela me cutucou – Ela não esta respirando!
Gente como eu sou atriz! O carro fez a curva. Colocaram um pano em cima de mim e acho que Kurt me carregou no colo ate um lugar coberto. Fui colocada numa cama e acabei cochilando.
Eu acordei com um lençol no meu rosto. Estava muito quente. Eu empurrei o lençol, mas ele estava apertado. Apalpei com as minhas mãos, mas não havia saída! Tinham me colocado num saco ou coisa parecida.
- Kurt? Sam? Ryan? Jenn? – Comecei a me debater.
- Oh, Jenn, salve-me, salve-me! – uma voz feminina disse de longe, do outro lado do cômodo. A voz parecia familiar. Eu parei.
- Quem é? – Eu gritei. – O que você quer?
- Mas que exagero. Até parece que você é indefesa... Qual é! Mostre sua face de assassina sua monstra! – Monstra? Não fui que aprisionei uma pessoa num saco! Transformei-me. Rasguei o saco e senti o ar fresco da liberdade. Os cabelos loiros e curtos em Chanel com os olhos azuis, uma barriga redonda, e um sorriso cruel. Não reconheci o rosto da mulher de preto. Mas reconheci a voz. Era Mia.
- Você parece muito do mal, para alguém que fez uma cerimônia pedindo desculpas para mim.
- Pedido de desculpas? – ela começou a rir. – Cada coisas que as bruxas querem... Viu por que não gosto de votações? É nisso que dá. Eu trouxe Mitch de volta secretamente, mas a notícia se espalhou. Um erro entre tantos outros! E você é um deles Rachel!
Ela veio correndo em minha direção. Eu me desviei e acabei caindo no chão. O quarto era grande e com uma mobília cara. Onde eu estava? Eu me levantei rápido. E corri para a janela, que estava tampada por grossas cortinas, eu as abri. Entrei em choque. Estava escuro, mas pude ver aqueles jardins iluminados. Eram da Drei Kronen. Eu estava rodeada por vampiros. Dos quais 90% me odeiam. E o dono da casa, é o meu ex – sogro. Não podia estar em um lugar pior.
- Como você entrou aqui?
- Do mesmo jeito que você, pela porta – bruxas são tão engraçadas às vezes... – Como sei que você é meio desinformada, deixa eu te explicar
- Sinceramente, eu já tenho uma bruxa que explique tudo.
- Você ainda é casada com Mitch, e para nós nos casarmos, vocês precisam terminar primeiro.
Como? Eu estava casada esse tempo todo? Ela deve ta de brincadeira comigo!
- Você deve ta brincando...
- Eu estou ate grávida, meu bem. – ela apareceu com uma faca. Ela não estava brincando. – Do seu marido. – agora ela já estava pegando pesado.
- Pois então, pode ficar! – Eu disse. Eu queria fugir, mas sem ser vista. E não podia gritar. Eu tinha que ir para algum lugar. Tinha que voltar para os meus meninos. Tinha que sair dali.
Ela tentou me dar uma facada, e desviei, e parei perto da cômoda.
- Escuta Mia, o que eu precisar assinar, eu assino. Eu estou indo pra Atlantic City justamente para falar para o Mitch que eu não quero voltar pra ele.
- Não! Você não vai vê-lo nunca mais! – ela soltou a faca e deu um soco, mas eu peguei seu braço. – E não confio em alguém que já tentou matá-lo!
Ela tentou com a outra mão, mas eu segurei. Ela era muito forte para uma bruxa. Ficamos ali paradas medindo forças. O seu coração estava disparado. Mas se ela estava grávida, deveria haver dois corações batendo ali. Não havia. E o cheiro de vampiro reinava no ar. E o cheiro de bruxa era quase imperceptível, até pra mim.
- Então me diga? Há quanto tempo vocês se vêem?
- Você quase o matou. Eu o achei no hospital algum dia depois, estava horrível. Não tinha quase nem formato de humano. Com muitos anos de cuidados e ervas, ele hoje é saudável e não tem nenhuma cicatriz. Nenhum traço de que você ou que a sua filha existiu.
Como ela sabe da minha filha? Como ela sabe tanto de mim? A força dela era gigante. Para ela ter salvado Mitch dias depois, ela tem que ter mais ou menos a minha idade. Mas alguns passos e eu caio pela janela.
- Então, Rachel? Você ainda dança? – eu fui empurrada. Como ela sabia que eu dançava? Que era ela? Será que Mitch contou tudo sobre mim para essa aí?
- Ele te contou tudo foi?
- Não minha querida, eu sei de tudo eu vivi tudo. Não se lembra de mim? – Não pode ser... – Sim, eu sou Anne Marie! Eu não tomei champagne aquela noite por que eu tinha somente 15 anos. Mas eu era apaixonada por Mitch e mereço-o muito mais do que você! – Aquilo entrou nos meus ouvidos e me deu um soco no estômago. Era Anne Marie, a minha caçula chatinha que vivia dedando tudo que eu fazia!
Ela usou uma forca tão grande que nós duas estraçalhamos a janela e saímos voando. Eu a peguei pelo pescoço. Caímos no pátio da fonte, pela clarabóia. Apesar de ser pátio da fonte, nós caímos no chão de pedra. Eu caí em cima dela, ela estava meio zonza. A qualquer momento alguém iria me achar ali, com a barulheira que fizemos. Eu aproveitei e saí correndo. Eu acabei em um corredor com mármore vermelho, e a minha frente havia uma grande espada em espiral, com uma espécie de sala de estar a minha direita. Eu só estive na mansão uma vez, então não sei me localizar. Mas descer para o térreo, onde há a entrada principal e eu saio correndo adoidada. Parece-me um bom plano.
A casa é um tanto barulhenta. Vozes de conversa, música, televisão, e risadas enchem a casa de uma vida morta. Eu fui até a escada, para ver se eram muitos andares. Ok, eram 7 andares. Um grupo de vampiros chegou ao pé da escada. Uma moça (Oh - oh) olhou para cima e gritou.
- Ei! Você! Midori! – a voz dela ecoou pelo saguão. A casa silenciou. PÉSSIMO sinal.
Eles começaram a correr pela escada. Algumas portas no corredor se abriram e cabecinhas apareceram na escada. Mas que... Eu corri até a sala de estar e comecei a empurrar uma namoradeira vermelha em direção da escada. Ia ser muito complicado atropelar todo mundo. Empurrei para a grade, perto da escada, fazendo força contra a grade, que arrebentou sem esforço. Eu peguei impulso e pulei pra cima do sofá que foi caindo. Os vampiros ficaram parados com cara de bobo, e começaram a descer. Eu cheguei ao chão com uma aterrissagem forçada. Havia um grande corredor de mais ou menos 70 metros que chegava ao hall, e lá a grande arqueada porta de madeira entalhada que significava liberdade. Ouço um baque. Era Mia. Ela tinha pulado todos os andares sem sofá, sem nada. Sua face estava furiosa. Os vampiros estavam andando grudados nas paredes, como se uma enorme mancha estivesse se espalhando pelas paredes, eles rosnavam e murmuravam coisas tenebrosas. Não podia lutar contra todos. Pelo menos agora as coisas não podiam piorar.
De repete a porta se abriu. E para melhorar a situação, entraram Kurt, Sam, Ryan e Jennifer. Maravilha! Três caçadores humanos e uma bruxa entrando numa sede de vampiros com 120 vampiros furiosos mais a minha irmã era o que eu precisava. Depois dessa nunca mais falo que não pode piorar. Mas, eu tinha o melhor plano possível em mente.
Sair correndo óbvio!O que você achava?
- Eu pego a Midori, e vocês ficam com a janta! – Anne Marie gritou.
Não pensei duas vezes. Corri em direção da porta.

Capitulo 17

Incrível. 685 canais, e só passa propaganda de comida. Isso é irritante. Não, sei talvez eu pegue uma bala de prata e atire na minha própria cabeça. Como os dias são entediantes, fala sério. É tão chato que eu não consigo nem ir dormir. Mas por que a Mimi teve que ir sozinha? Joey me disse que ela foi fazer uma entrega em Atlantic City, mas e se ela encontrar ele?Eu sei que o negocio de roubar é com ela, mas tão tenho muito que fazer aqui. Denver é muito chato. Alguém bate na porta. Será que é o Joey?Acho que não, ele estava indo atrás dela pelo que eu sei. Mas sim, era.
- Você não vai acreditar no que eu acabo de por as mãos, Melinda.
- Em um banquinho e uma corda? Por que to tão entediada que estou pensando em suicídio.
- Jason, o mordomo veio entregar uma caixa que a Midori esqueceu no quarto. Eu não resisti e abri. Tem um diário de uma tal de Anne Marie. Você sabe quem é?
- Não. – Minha curiosidade explodiu. – Passe pra ca!
Joey me passou o diário. Tinha capa marrom amarrado com duas cintas. Eu abri. Era antigo, devia ser da década de 30. A letra era péssima.
- Anne Marie não era o nome dela, era?
- Não, não era. – disse Joey. Ele se sentou ao meu lado. Lemos juntos o que não devíamos.

1/03/1935
Querido Diário.
Que ódio que eu tenho da Rachel. Ela sempre pode tudo, e eu não posso nada. Eu sei que ela é bailarina e tal, mas ela sempre pode passar o dia dançando. Por eu não posso passar o dia todo na biblioteca? É de graça e ninguém usa! Ela já esta dormindo, mas são duas da manhã e ela chegou à meia hora. Eu tive que voltar para casa às seis, e ainda levei bronca. ‘Você só tem nove anos mocinha! Isso não é hora de criança ficar fora de casa!’... Que ódio! Ok que a Rach tem 15, mas não é justo!Que raiva! A minha vontade é de... Não sei, mas estou enfurecida.

Havia muitas páginas arrancadas. A próxima era de dois messes depois.

14/05/1935
Querido Diário.
Hoje foi a vez de Matt me irritar. Mas com ele eu não ligo. É da natureza dele fazer isso. Hoje eu levei uma bronca da mamãe por causa do papai. Eu tinha mexido nas coisas da Rachel novamente. Ela é tão perfeitinha que eu tenho que descobrir algum podre dela. Mas voltando ao assunto, eu já me livrei da mamãe. Ela disse com tom autoritário ‘‘O que foi que seu pai disse sobre mexer nas coisas da Rachel?’’ E eu logo respondi: ‘‘ Não deixe te pegarem. ’’. Sei que o que meu pai fez foi errado, mas ele como Matt, gosta de tirar a autonomia da mamãe. Mas quando ele chega muito irritado, ele desconta em todo mundo. Quando ele pega pesado com a gente a minha mãe que apronta. No domingo, papai tinha perdido dinheiro na aposta de cavalos e ficou muito bravo. Ele começou a gritar quando chegou em casa. E até bateu no Matt. Ele reclamou da comida da minha mãe. Então ela foi até a cozinha e nos chamou para ajudar. Ela pegou a comida enlatada do cachorro e misturou com alho e cebola na frigideira. Papai comeu e até repetiu. Foi legal por que Rachel estava no teatro e perdeu a melhor cena do mundo. Ela não merece nada de bom, não mesmo. Dançar nem é tão difícil, é bobo, não sei por que acham tão legal. Se ela fosse igual a mim, seria tudo diferente. A gente passaria horas lendo, e não horas revendo a mesma dança e a mesma musica e o mesmo musical. Nem sei por que ela foi chamada para o papel. Na historia que eu li, era pra ela ser loira, não morena. Até o diretor ficou cego por causa da minha estúpida irmã. Ai se eu pudesse arrancar uma perna dela...

Apenas algumas páginas tinham lá. O diário de Anne Marie, dizia por si só. Era a irmã mais nova da Midori. Depois de lido algumas páginas. Qualquer um com um pouco de QI pode afirmar que Anne Marie era uma garota invejosa. Pouco me lembro da minha irmã, mas eu ficaria chateada se soubesse que ela me odeia.
- Já passei poucas e boas por essa garota, mas esse ódio da irmã dela eu não esperava.
- Que poucas e boas?!
- 1985, era uma festa de amigos e ela não queria ir de jeito nenhum. Quando voltamos eu estava com o nariz sangrando e ela quase morreu. Mas em ódio tal fatal quanto da irmã? Olhe isso – ele virou algumas páginas que eu não li. A data era de 1940. Meu queixo caiu.

Capitulo 16

Domingo, 1971. Passei a tarde sentado, assim como agora, fingindo ler jornal, mas espiando o mar azul entre as persianas fechadas. Mesmo não estando em casa, o cheiro de Midori fica no quarto. É quase tão engraçado quanto quando ela sai correndo do banheiro para o quarto enrolada na tolha. Moramos juntos há 30 anos e ela ainda tem vergonha. Mitch a escolheu perfeitamente. Por isso estou tão farto de suas ligações semanais, que recebo há 30 anos, perguntando por ela. Ela é esperta, inocente e infelizmente com instintos assassinos. Vou explicar o porquê.
Alguns momentos depois de Mimi ter saído daquela igreja, percebi que algo havia de errado. Não em não querer virar vampiro, mas sua reação. Seu desejo de vingança era insaciável a ponto dela se satisfazer torturando aqueles como ela os chamou ‘traidores’. Desde os tempos de Freud eu me apaixonei pela psicanálise secretamente. Ninguém sabe, mas Midori é a minha paciente involuntária, por ser um caso especial. Nem ela mesma sabe que tem um problema. Eu sei. E é um problema sério, e ainda não estudado. A elite da psicologia, entretanto, é pequena. E Midori intriga a todos nós.
Quem conhece sabe: Midori é uma menina especial. Para minha idade, menina sim. Não sei dizer ao certo o que ela é, mas sei dizer o que ela não é: uma pessoa singular. É um pessoa plural, por assim dizer. Elas sofre de um tipo de distúrbio de múltipla personalidade, cuja suas parte sabem das existências das outras, assim é difícil compreendê-las, conversar, interagir e estudar cada parte. Dividimos Midori em três partes: Mi, Do e Ri. Não ache idiota. Mi, chamamos de Michelle. Do, Dafne Ohio, e Ri, de Rose Insten. A escolha dos nomes, não foi feita por acaso, mas sim, pelo subconsciente da paciente. Michelle, Dafne e Rose, foram pessoas importantes para ela. Michelle e Dafne eram amigas de escola. Michelle, a delicada, ela, Dafne, a esperta, e ela, ambos. Rose foi sua heroína. E também condenada à morte por dezesseis assassinatos, tortura, invasão de propriedade, calúnia, e enterrar as vítimas debaixo da própria horta, e como se não bastasse, vendeu os legumes a toda a cidade em que morava. Legumes que cresceram nutridos da carne de seus próprios vizinhos, irmãos, filhos e pais. E no dia de sua condenação, ela morreu rindo. Rose Insten foi considerada a primeira mulher psicopata do mundo.
Entre oscilações de humor e cadastros de hotéis, é perfeitamente capaz de se distinguir que pessoa está ativa em Midori. Michelle é fraca, a parte inocente, graciosa, mãe, delicada, fresca, e a mais próxima de sua humanidade, voltada ao passado. Dafne parte pilantra, esperta, sedutora, trapaceira, materialista, improvisa tudo no caminho, é seu modo de relação com as pessoas ao seu redor, sua parte vampira. E Rose, a parte sanguinária, agressiva, sedenta, psicopatia. Agradeço todos os dias por isso, só ficou ativa por seus dois primeiro messes de vampira. Foi por isso que sai que doido procurando – a. Ela cometeu horrendos assassinatos. 14 para ser mais específico. Assassinatos todos a vampiros. Desde crianças, a grávidas, homens e mulheres. A maior parte da família de Mitch que ela considerava sua família também.
Claro que depois de ver esta definição detalhada sobre Midori, deve achar que ela é completamente louca. Mas, neste caso não. Vampiros tendem realmente a se dividir entre seu lado fraco, o humano, e seu lado forte retraído a lado vampiro. A existência do segundo é puramente para encobrir o primeiro, pois tiveram que fazer certos sacrifícios que os tormentam pela eternidade. Mas não no caso de Midori, pois nenhuma parte sua é feita para encobrir outra. A que tecnicamente chegar perto dessa definição, seria Dafne.
Com ela longe de mim tive que rastreá-la, monitorando suas personalidades. Não vou mentir, mas Mitch é a fonte do se pior lado. Por isso temo que Rose volte, e caso isso aconteça não temo mais só por ela. Mas temo por todos nós.

Capitulo 15

Graças a Carol (ou não) eu tive o gosto (ou o desgosto) de conhecer Mitch, e que, sem ele, você não estaria sabendo da minha história, então pelo menos uma coisa boa ele me deu. Claro que o nosso relacionamento era espantoso, de tão bom que era. Para você ter uma idéia, nos 29 messes que passei com ele, não houve uma briga sequer. Contudo, o nosso relacionamento foi igual à pular de um penhasco de 100 metros. É muito legal nos primeiros 99 metros, mas horrível no último, como diria Chuck.
O sol estava alto, e minhas pernas começaram a arder. Coloquei a jaqueta de Kurt que estava jogada atrás do meu banco no colo, assim me dando um enorme alívio. Contudo, O couro começou a esquentar com forme passava o tempo. A Melinda me atendeu.
- Melinda? – eu perguntei. Havia muito barulho no fundo. – Onde você está?
- Mi?! Midori?! É você?! – A ligação estava cortando.
- Sim, sou eu. Onde você está? E que lugar barulhento é esse em plena luz do dia?
- Escute, eu acho que – ficou mudo por alguns instantes. – vá pra Atlantic City.
- Ahn, quê? Sim, eu estou indo para lá... A ligação está cortando Mel. – ninguém me respondeu – Mel?!
- Mimi, ele está... – a ligação caiu.
- Que estranho... – melhor ligar mais tarde.
Contudo aquela ligação me preocupou bastante. Era de Mitch que ela estava falando. Disso eu tenho certeza. Toda essa história explodiu na minha mente. E quando eu chegar lá? O que vai ser de mim? E se ele quiser reatar comigo? E se ele quiser se vingar? E a Emma? Ela é uma criança vampira? Ou ela é uma humana de 67 anos, que viveu órfã, sendo que sua mamãe viveu todo esse tempo?Será que ela vai sentir raiva de mim, achando que eu a abandonei? E como eu vou explicar para ela o que houve?E se ela achar que eu sou louca? Ou será que ela viveu com Mitch? O que será que ele disse de mim para ela? ´´Mamãe tentou matar papai?´´ Meu Deus! E se tudo for uma farsa? E se ele não estiver com ela coisíssima nenhuma? Não... Ele não seria tão baixo assim.. Ou seria?E os meninos? Eles vão me deixar lá, pegar a grana e ir embora?E a Jennifer? Ela vai fazer o que com o Mitch? Vai interrogá-lo sobre a morte do irmão? Eu comecei a sentir uma forte dor de cabeça..
- Você está bem, Midori? – Sam me perguntou. Ele sabe quando não me sinto bem, o que me intriga muito.
- Sim, estou. – ele notou que eu estava mentindo.
Olhei pro Kurt. Ele olhava para todos os lados, com a testa franzida. Ele parecia meio perdido.
- Onde nós estamos? – Jennifer perguntou.
- Boa pergunta... – ele murmurou.
- Como assim, você não sabe onde estamos?! – Ryan grasnou.
- Não, não sei. Acho que não peguei o caminho para Denver. Acho que estamos indo para Aspen.
Finalmente uma boa noite teremos hoje.
- Graças a Deus! Conheço ótimos hotéis em Aspen.
- Hotel aberto, você quis dizer...
- Por quê?
- Por que Aspen no final do verão não tem neve! – ele disse alto. Realmente, não tinha pensado nisso.
Kurt voltou um pouco na estrada, já que Aspen não fica aberta no verão. Ficamos na ponta de uma cidade chamada Glenwood Springs. A cidade era bem diferente sem neve, assim como qualquer outro lugar. Tinha pouca coisa, algumas pessoas na rua, e a estrada seguia o percurso de um rio. Kurt parou o carro em um Motel de esquina. O hotel parecia coisa de cinema. No mau sentido.
- Por que paramos aqui? Eu conheço hotéis melhores em Aspen, que fica mais pra frente...
- Só são cinco horas? Por não vamos para Denver? Fica duas horas e meia daqui.. – sugeriu Jennifer.
Ryan deu um sorrisinho.
- Hein, Kurt? Por que você está adiando Denver?
Kurt fugiu com os olhos.
- Parei aqui, para amanhã sairmos mais rápido. E não vamos para Denver hoje, por eu estou cansado.
- Então tudo bem... Achei que era por causa da Julia.
Sam deixou escapar uma risada.
- Por quê?Quem era Julia?
- A ex-esposa dele. – esposa?Por essa eu não esperava.
- Ela não era minha ex-esposa, por que eu não casei com ela. Eu só morei uns anos com ela...
- Uns anos? Você morou com ela tipo, 8 anos, só brigavam, não tinham sexo, e a casa ainda ficou com ela. Diga-me se isso não era casamento. Fora que vocês só brigavam por causa daquele laboratório idiota.
Kurt não respondeu, e Sam parou de rir. Embora tudo fosse realmente engraçado, pois não consigo imaginar Kurt levando a pior de uma mulher, mas algo naquele comentário sobre o laboratório os fez calar a boca. O será que houve?
Nós saímos do carro, e fui correndo para a sobra da recepção. Lá dentro era meio quente, mas dava para agüentar. Só tinha um quarto disponível com duas camas de casal e um sofá cama. Ryan alugou aquele. Não acreditei. Eu ia dividir o quarto com... Eles. Espero sobreviver.
Eu nem tirei as minhas coisas do carro, só peguei uma muda de roupa e minha nécessaire, eu preciso de um banho gelado. Logo depois de ter entrado no quarto eu fui direto para o banheiro. O banheiro era espaçoso e limpinho, e bem melhor do que o de Green River. Eu me deparei com espelho. Meu rosto estava branco como sempre. Eu sei que não tenho rugas nem marcas de idade, mas não estou acostumada ainda a viver a eternidade. Lembro-me que quando era pequena a minha mãe sempre procurava pés de galinha antes de dormir, e eu a imitava toda noite, e toda noite ela me perguntava o que eu estava fazendo. Nem eu mesma sabia responder. Ela me dizia: você não vai ser jovem para sempre. Quando você tiver rugas, você procura. Ela sempre me dizia brava, mas depois ria de tudo. Ela era assim. Ficava irritada com tudo, mas depois ria. Infelizmente ela estava errada. Tantos anos ouvindo a minha mãe, e quase nada do que me disse se aplicou. Isso é algo que eu lamento muito. Uma brisa trouxe um cheiro de cachorro molhado para dentro. Era um lobisomem, e pelo som, estava há uns dois quarteirões. Alguém bateu na porta.
- Tá viva ainda? – era Kurt. – O seu celular ta tocando de novo. – ele passou o meu celular por de baixo da porta. Isso é algo que devia virar propaganda.
Eu ia falar para o Kurt sobre o lobisomem, mas vi que quem estava ligando era alguém bem mais importante. Eu liguei o chuveiro para eles não ouvirem a conversa, afinal era de negócios. Após ter falado com o velho, fiz o maior negócio. Ia vender um amuleto raríssimo por um milhão e duzentos mil. Era só integrar hoje a noite em Denver as oito em um galpão. Mas e agora? Eu estou sem carro, e também sem o amuleto, o que geralmente não é problema, só vai dificultar um pouco. Tive uma idéia. Eu tomei banho, fiz uma ligação e saí.
- Finalmente, achei que tive criado raízes.
- Não... Já que você me pagaram a noite, eu pedi uma pizza ótima para vocês, fica dois quarteirões daqui, foi uma amiga humana que me indicou.
- Pediu de quê? – Ryan perguntou. E agora?
- Metade de queijo, metade de pepperoni... – eu chutei.
- Nossa, onde fica a gente vai agora! – deu certo! – Me dá o endereço.
- Você.. – Eu olhei pela janela, e entre as persianas eu vi uma grande letreiro- É na Domino´s pizza do outro lado da rua.
Eles saíram. Olhei pela janela e vi que estavam a pé. Que bom, assim não vou ter que roubar nenhum carro, além do deles. Peguei a minha nécessaire no banheiro e as chaves do carro que estavam jogadas no aparador, e abri a porta.
- Aonde você vai? – uma voz veio até mim, do sofá. Sam estava lendo. E agora?!
- Eu vou... Pegar comida no carro.
- Oh sim, e mandou todo mundo sair pra quê? – ele é mais inteligente do que eu pensei. – Pois eu vou junto. Se eu te perder de vista eles me matam.
Não sei se sou mais esquisita do que eu pensei, mas na minha teoria, ele tentaria me impedir e não ir comigo, certo?A não ser que ele saiba que ele só não conseguiria me impedir. Fantástico! Um caçador com uma incrível capacidade de raciocínio lógico... Ou a raça humana está ficando mais inteligente... (olha a besteira que eu estou falando).
- Por que você não foi comer pizza?
- Por que eu, ao contrário dos 99% dos humanos, não gosto de pizza. – por essa eu não esperava. Ele se levantou. – É bom nós irmos logo já que eles vão devorar a pizza e voltar.
- Eles vão demorar, eu tenho certeza. Mas e você não vai comer?
- Não estou com fome. Para onde você vai? – não acredito que estou levando uma criança comigo...
- Vou fazer uma entrega. Eu recomendo você não ir.
- Entrega de quê?
- Melhor você não saber. – Nós saímos e entramos no carro. Já estava escuro.
Sam se viu no banco do passageiro. Ele franziu a testa quando me viu no volante.
- Você sabe dirigir?
- Claro que eu sei. – eu olhei para os pedais nos meus pés. Por algum motivo, havia três ali.
- Não entendi. Como assim tem três pedais? Eu só tenho duas pernas!
- Isso aqui é um carro manual não automático. – legendas, por favor. Ele deu um suspiro – O pedal da esquerda é a embreagem.
- Ok, ok, eu me viro. – Eu liguei o carro e saí dirigindo. Não era tão difícil assim. Pensei no plano da entrega. Por que bem... Eu não tenho o que ele me pediu, mas estou acostumada com isso. Peguei o celular e adiantei a entrega e o local. Sete horas em ponto na cidade anterior a que estamos Gleenwood Springs. – Em quinze minutos chegamos.
Sam parecia m tanto desconfortável.
- O que foi? Você parece tenso.
- É que se esse seu plano der errado eles me matam.
- Mas eles não vão descobrir.
- Você acha mesmo que o tempo que você gastar para ir a Gleenwood springs, entregar, receber e voltar, vai ser o mesmo tempo deles devorarem uma pizza?!
- Meu querido, você se esqueceu de uma coisa. Eu sou a Midori lembra? Eu já pensei nisso. Há um lobisomem atrás da pizzaria, e eu pedi três pizzas, o que vai demorar para ficar pronta. Então eles vão sair para tomar um ar fresco, e se deparar com o lobisomem e ai vão caçá-lo, e quando voltarem, estaremos sentados no sofá assistindo friends.
- Ah... Bem pensado, mas ainda tenho uma pergunta. Como é que eles vão caçar um lobisomem, se as armas estão aqui no carro?
Mas qual é a desse garoto?! Ele tinha total razão de novo.
- Eles tem a Jennifer. Ela não precisa de armas – Ha! Peguei ele agora.
- A Jennifer não tem poderes. Ela não os recebeu ainda.
- Eu já lutei com muitos lobisomens na minha vida, e eles são tão burros que nem é necessário armas. Pode ficar tranqüilo.
- Se você diz... – ele continuou a viagem desconfortável. Realmente o entendo. Ele não parece o Ryan, que enfrenta os irmãos. Ele parece fazer uma espécie de política de boa vizinhança. Achei melhor conversar com ele para quebrar um pouco o gelo.
- Então Sam. O que me conta de você? Por que você preferiu caçar monstros – o que é uma completa e total perda de tempo – do que sei lá... Arrumar um emprego, ou fazer faculdade?
- Nossos pais sempre disseram que não importa o que nós três temos que permanecer juntos. Então quando eles morreram e o laboratório foi destruído, nós meio que... Mudamos o nosso rumo. Resolvemos caçar monstros antes que eles fizessem mais estrago.
- Sobre esse laboratório... O que tem ele?
- Nossos pais eram cientistas em uma clínica. Depois de alguns anos de casados eles resolveram montar um laboratório. Ele ficou muito famoso e nossa família brigou muito por causa dessa droga de laboratório, por que todo mundo queria ter uma parte dos lucros, mas meus pais não queriam de jeito nenhum. O laboratório era a herança de Kurt, eu ia estudar e trabalhar lá. Mas...
- E o Ryan?!
- Ele nunca levou jeito na escola. Então ele foi o que teve mais sorte pois ele podia ser o que quiser. Eu tive que abrir mão da minha vaga de faculdade, e eu tenho ainda o dinheiro da dela. o Ryan não gastou quase nada do que recebeu só comprou o carro. Kurt não recebeu um centavo dos nossos pais, a sorte dele é que ele passou 8 anos casados com a Julia, e ela era rica. Ele disse que não era casado, mas era sim, por que o processo de separação foi realmente um divórcio.
Por essa história eu não esperava. Eles perderam todos os sonhos. Todo o futuro por causa de...
- O laboratório era de quê?
- Na fachada era de exames de sangue, raio x e DNA. Mas o forte era o estudo de criaturas como vampiros, lobisomens, sereias, pessoas que tem poderes sobrenaturais. Por isso acreditamos de primeira que a morte foi por criaturas como essas.
... De uma ciência que pesquisava o proibido.
- Mas vocês vão falir se ganharem dinheiro, ou tem bastante?
- Nós somos bons em multiplicar dinheiro, tenha certeza.
Ficamos em silêncio novamente.
- Não vou contar para ninguém sua história.
- Eu sei que não vai... Mas e você, o que me conta? Você teve uma filha, a Emma. E também foi transformada em vampira no seu casamento. Então a igreja pegou fogo e você sobreviveu. Meio doida essa história, não?
Eu encostei o carro.
- Chegamos. – saímos do carro – A minha história é um tanto confusa, comprida e complicada, você não vai querer saber...
- Não, vou sim. Eu contei a minha, agora eu quero saber da sua. – ele tinha um cabelo lindo, castanho claro e olhos azul bebê de baixo de sobrancelhas grossas. Ele era ainda mais bonito debaixo da luz da lua.
- Tá bom... Eu te conto no caminho, tenho que comprar uma coisa primeiro.
Fomos andando. Eu contei por cima, sem o drama de sempre. Eu conheci Mitch no teatro, tivemos uma filha que morreu com ´´insulficiência respiratória´´, ele me transformou em um mostro e eu o matei, mas aparentemente ele conseguiu voltar.
- Achei que você gostasse de ser vampira.
- Finjo apenas. Eu odeio não poder estar ao sol, como todo mundo. Ter que roubar para viver. Ou matar. Ter que mudar a cada dois anos. Tudo na minha vida é apenas temporário.Foi uma injustiça o que aconteceu comigo. Eu não queria isso para mim. Eu não tive nem escolha. Nem tenho como desfazer o que ele fez comigo. Vocês humanos que tem sorte. Poder se apaixonar, tiver filhos, envelhecer, e o melhor de tudo, poder escolher.
- Ter... Filhos?
- Vampiras não podem ter filhos. Por isso tem que transformar crianças ou engravidar uma humana. Foi o que Mitch fez comigo. Mas uma coisa é certa. Vocês são meio burrinhos.
- Nós ou toda a raça humana?
- Todos no geral. Eu quando era humana também era.
A cidade estava fresca. Era escura, mesmo com todos os postes de iluminação. As lojas já estavam fechando. Achei a loja que eu queria. O dono já estava na porta recolhendo o tapete. Eu parei na vitrine giratória onde giravam vários anéis. Os preços eram ridículos, de 80 a 200 dólares. Eu escolhi um anel de metal preto com uma pedra verde escura bem pequena. Eu me virei para o dono.
- Eu quero o número 23, por favor. – nós entramos. Eu comprei o anel fomos a pé para trás de um grande galpão de supermercado fechado. Esperamos ali, no silêncio. Começou a ventar frio. Uma van preta chegou a alta velocidade. Ela parou na nossa frente. O Senhor Reinalds desceu.
- Boa noite senhora, - ele disse com sua voz grossa. – Boa noite garoto. – Sam acenou com a cabeça.
- Aqui está senhor. – eu entreguei a ele - A forma de pagamento...?
- Está depositado na conta em que Paul me disse. – Ao menos ele consegue falar com Joey. Paul é o nome de trabalho dele. Um segurança de aproximadamente 1,90 de altura abriu um laptop mostrando a transferência de 800 mil dólares. Sam franziu a testa.
- Muito bem, negócio fechado.
- Sra. Dafne. Posso perguntar uma coisa? Gostaria de não sei... Um jantar?
- Não obrigada. Tenho negócios em Seattle pela manha e tenho que pegar um avião com urgência. – fazer negócios com o meu mini vestido azul mesclado com preto, não funciona.
- Deixe – me levá–la no meu jato. O seu motorista pode ir também. – Haha, o Sam como motorista.
- Não, muito obrigada, meu namorado me levará.
Eu virei às costas e andei rápido. Sam me seguiu. A van fez o contorno pelo supermercado e sumiu do outro lado do galpão. Chegamos até o carro.
- Estamos sendo seguidos.
- Como assim?
- Não sei se ele acreditou no anel falso que eu dei para ele.
- E agora?
- A gente despista eles.
Eu liguei o carro e virei da avenida para o bairro. Dei várias voltas.
- Pegue meu celular na minha bolsa, por favor. - ele pegou.
Eu programei para controle remoto. Eu abri a garagem de uma casa e entrei com o carro. A van passou reto e nem me viu. A garagem estava escura, então liguei a luz interna do carro e desliguei o motor.
- Que casa é essa?É sua?
- Não. Espere uns dez minutos e sairemos de novo.
- Como você fez isso com o seu celular? – ele estava com o coração acelerado.
- Ah, isso?Não é nada demais.
- Mas e se tiver gente na casa? Eles com certeza ouviram a gente entrar.
- Não tem ninguém na casa. Pelo menos não alguém vivo.
Ficamos um tempo quietos. Começou a me dar a maior fome. O coração acelerado de Sam mexia comigo. Ele olhou para mim, inevitavelmente, pois não desgrudava os olhos dele. Ele era com certeza, o melhor pedaço daquela família. Pena que teve uma vida tão desgraçada. Minha barriga rugiu. No meu peito algo queria explodir, e eu sabia o que era. Eu ia pular naquele pescoço a qualquer momento. Depois de três minutos eu liguei o carro novamente, antes que eu fizesse besteira, e chegamos no quarto de motel quinze minutos depois. Não tinha ninguém no quarto.
- Será que eles estão bem? – Sam perguntou.
- Claro que sim. – eu me sentei no sofá e liguei a televisão. Friends já tinha acabado.
Fui até o carro, peguei minha comida e voltei. Acho que nunca comi tanto sangue de uma vez só. Kurt, Jennifer e Ryan chegaram rindo.
- Vocês estão bem? – Sam perguntou.
- Sim, claro. – Kurt disse. – por que?
- Ah, nada.
- Vocês não encontraram nenhum monstro hoje? – eu perguntei.
- Não, apenas comemos muita pizza. E vocês?
- Nada demais. – eu disse. Sam concordou com a cabeça. Eles nem sequer encontraram o lobisomem.
Sam foi tomar banho e saiu com a Jennifer para comprar alguma coisa para ele comer, e Jennifer ia com ele para comprar mais band- aids, depois Ryan foi tomar banho. Kurt e eu arrumamos todas as camas. Eu e Jennifer íamos dormir numa cama de casal, Ryan e Sam em outra e Kurt no sofá. Ryan saiu do banho e Kurt entrou. Ele estava usando uma calça de pijama e nenhuma camisa. Ele realmente tinha um corpo muito bonito.
- E ai? Sam beija bem?
- Ahn? A gente não...
- Eu sei, estava brincado. Mas bem que a gente podia digo, Kurt demora no banho.
- Não, não faço caridade. - ele se sentiu ofendido.
- Caridade?! Tudo bem, é você que tá perdendo a chance.
- Eu? – ele deve tá brincado – Escuta aqui, que tal você arrumar o que fazer? – eu me deitei. E vi minhas mensagens no celular.
Kurt saiu do banho e Sam e Jennifer voltaram. Eu corri até o banheiro e pus pijama, me enrolei no roupão, antes de sair. Quando eu sai todos já estavam dormindo e tinham apagado a luz. Eu fui à ponta dos pés até a minha cama. Eu me deitei. Afinal não foi tão ruim assim dividir o quarto com eles todos. Logo adormeci.
Acordei do jeito que eu mais odeio. Com o sol da manhã, o mais fatal, passando entre as persianas e indo direto para meu rosto. Abri os olhos, tentei tampar a luz com a mão, mas ela estava presa. Havia um braço passando pela minha barriga, e uma pessoa colada nas minhas costas. Virei o pescoço e me vi numa cena não muito bonita. Eu peguei o braço e o puxei, fazendo Ryan cair no chão.
- O que aconteceu?O que foi?! – ele nem sabia mais onde estava. – Você? – ele olhou para mim. – Qual é seu problema?!
- O meu problema? – notei que todos acordaram com o barulho de Ryan. Jennifer estava dormindo na outra cama sozinha, e Sam estava dormindo ao lado de Ryan no outro lado da cama. Cheguei a uma triste conclusão. – É que eu dormi na cama errada...
Ótimo. Maravilha. Não podia ser melhor. Eu saí andando e me troquei no banheiro. Fui para o carro logo em seguida. Eu tomei um monte sangue, tanto que até um pingo caiu na no meu vestido azul. Eu estava brava. Muito brava. Pode até ser besteira, mas não sei... Eu nunca dormi na cama de um cara em 67 anos. O único homem com quem dormi junto foi Mitch. E hoje, dormi não só na mesma cama que Ryan, mas que Sam também. Que nojo. Senti um arrepio na espinha. Minhas mãos começaram a suar e a formigar. Dividir o quarto foi bem pior do que eu pensei. De repente todos entraram no carro. Sam foi dirigindo, Ryan foi na frente. Kurt ao meu lado e Jennifer do outro. Sentei no meio para escapar do sol.
Hoje eu acordei brava, e continuo brava. Chegamos a Denver, mas Sam não parou nenhuma vez. Kurt estava aliviado ao meu lado, parecia tranqüilo. Ninguém teve a péssima de tirar uma da minha cara. As ruas de Denver, como sempre eram movimentadas, com um monte de gente andando na rua e um monte carros refletindo sol na minha cara. Que final de verão era aquele afinal? Pelo retrovisor vi uma van preta aparecia e sumia atrás de nós. Dei um suspiro. O Senhor Reinalds era tão previsível, que nem me preocupa. A não ser pelo fato que há 4 humanos comigo carro. Estávamos sendo seguidos novamente. O que é um problema, pois pode muito bem não ser o Senhor Reinalds, então todos nós estaremos perdidos. Mesmo assim, para não colocar os meus meninos, e principalmente o Sam em problemas, então eu cuido deles mais tarde. Meus olhos começaram a arder por causa dos reflexos da luz. Se o ar condicionado não estivesse bem frio, eu já teria morrido.
- Ei? Para onde foi o som? – Kurt me encarou, mas não disse nada. Esticou o braço e deu o som para Sam.
Eu me virei abri uma das minhas malas e peguei um lenço e uns óculos escuros. O enrolei na minha cabeça e ombros, e pus os óculos escuros. Senti um alívio imediato. Nem prestei atenção na música, pois estava pensativa. O que eu ia fazer quando chegasse lá? E minha filha? Todas aquelas perguntas voltaram a minha cabeça. Eu ia precisar de um plano muito mirabolante para sair dessa. Fiquei confusa. Nunca havia misturado meu lado pessoal, com o de trabalho. Minha cabeça voltou a doer, mas dessa vez muito. Algo queria sair do meu peito, algo forte. Minhas mãos começaram a suar e formigar. Vozes e lembranças ecoaram na minha cabeça todas ao mesmo tempo. Uma delas era muito familiar, a minha: Como eles puderam?Como? Lembrei-me de tudo que houve antes do casamento. E pior, o que houve depois dele. Sangue. Muito sangue em todas as minhas roupas, escuridão, chuva e fome. O rosto de Joey, debaixo de uma guarda chuva. As festas, minha teimosia. Meu escritório, minha vida de negócios. As bruxas. Os recados. Meus sonhos com Emma. Ah! Minha querida Emma...
Emma dando seus primeiros passos, suas primeiras palavras. Pares de pequeninos sapatinhos lilases. Comendo bolo sábado a tarde, com chocolate em volta de boca rosinha. Emma dançando no balé. Indo no parquinho, brincando de bola, na areia. O brilho de seus cabelos ruivos mexendo enquanto balançava. Ela brincando pela primeira vez em um carrossel, colorido e iluminado. Seus olhinhos azuis observando cada enfeite dos cavalos. Sua risada ecoando em minha cabeça. Seus vestidos de renda. Sua escola, viagem com as amiguinhas. Por quê? O que aconteceu com a minha menina? Tinha tanto a viver. Eu tenho tanto amor para dá–la. Eu não escolhi o que aconteceu. Eu não tive culpa em virar um monstro. Eu não escolhi, nem opinei nada disso. Não foi justo o que aconteceu. Vivi uma vida que eu não escolhi. E depois que eu tentei concertar, ficou pior ainda. Destruindo qualquer chance de ter uma vida mais normal. E conhecer outro monstro? Não! Eu quero um humano, normal. Que não me traia, e nem seja traiçoeiro. E que eu tenha pelo menos, a minha filha de volta. Mas que infelizmente, não terá uma mãe que se orgulhe muito. Talvez seja por isso que não a consegui. Mas do mesmo modo, se não fosse ele, minha vida teria um rumo diferente e eu estaria, agora, descansando, em paz, e não tendo esses pensamentos horríveis.
- Emma... Sinto muito. – Eu acabei murmurando o meu pensamento.

Capitulo 14

A última noite do grande espetáculo era hoje, e a estrela era eu. O teatro lotado, e ingressos esgotados, vendidos a preço de ouro. No meu camarim lotado de flores e presentes que ganhei nas duas últimas semanas, eu estava me arrumando, prendendo os últimos botões do meu espartilho, que vai logo debaixo do meu vestido. Dei uma boa olhada naquele lindo branco em cima da mesa de centro, todo rendado, costas semi- abertas. Ele era o resultado de seis árduos anos de trabalho neste teatro. Ele era meu prêmio, meu orgulho. Hoje era a minha despedida dele.
Faltavam poucos minutos para o início da apresentação. Claramente, podia – se ouvir gritos, correria, atores atrasados, produtores controlando a ansiedade dos bastidores. Alguém bate na porta, então entra Carol, minha melhor amiga até então.
- Tenho uma surpresa para você! – ela andava na pontinha dos pés, em um vestido rosinha bebê, de bailarina. Ela usava hoje, não um coque, mas um cabelo mal preso com cachos aparentes, igual ao meu. – Pegue! Abra! – seu olhar negro era pura alegria. Ela estendia uma pequena caixinha azul bebê com fita branca.
Eu peguei, sem hesitar, e abri. Era um enorme bombom de chocolate escuro com listras de chocolate branco, e com um cheiro forte de cereja. Eu dei uma mordida. Na minha boca um líquido grosso invadiu a minha boca. Ele era melado e muitíssimo doce. Ele entrou debaixo da língua, grudou nas bochechas, secou a saliva. Tentei cuspir, mas ele endureceu e não deixou a minha boca se abrir. Não conseguia nem engoli-lo, nem cuspi-lo. O que Carol tinha feito comigo?
Olhei para ela. Ela ali, parada na porta com o meu vestido nos braços, tinha um brilho ainda mais negro nos olhos, e maldade incrustara neles. Fechou a porta e quando o som do trinco sendo trancado ecoou na sala estalou puro pânico dentro de mim. Meu coração disparou, pude senti-lo mesmo sem tocá-lo no peito. A risada de Carol surgiu na minha mente, quando tínhamos lá uns 15 anos.
- Vamos! Quero te mostrar uma coisa, se prometer que vai dividir comigo!
- Prometo, Carol. – eu disse.
Fomos correndo para o camarim da estrela. Era lindo. Todo decorado com flores de todas as cores. Escondido atrás de um buquê de gérberas havia um furo na parede onde antigamente havia uma lâmpada.
- Olhe pelo buraco! É o palco. É como se você estivesse em um camarim. Não é legal? - Seu olhar profundo, entre malícia e inocência sempre me intrigou. – Quando eu for estrela você vai poder-me assistir daqui, que é bem melhor que os bastidores.
Carol tinha um raciocínio lógico puramente fantástico e agora sei, totalmente voltado para hoje. A vida dela era planejada para hoje, o dia em que ela iria finalmente brilhar me substituindo, se colocando em meu lugar, e logo eu que esforcei tanto, sua mente estava, este tempo todo, me traindo. Uma imagem explodiu em minha cabeça: as pétalas de uma rosa branca tocando a ponta de seus dedos fez a minha perna balançar. Eu caí no chão com a mão no peito. As minhas mãos começaram a formigar.
Corri até a porta e comecei a arranhar e a socar em puro desespero, tentei gritar, mas nenhum som saía da minha voz. Isso me fez socar com mais força. Bati. Bati. Bati. Bati de novo. Ninguém me ouviu. Os corredores estavam silenciosos. O show iria começar em poucos minutos, e eu tinha muito menos para impedi-la. Parei de socar a porta quando o som da orquestra entrou na sala. Era tarde demais. Mas não! Não podia ser! Não podia! Lágrimas começaram a escorrer em meu rosto. Eu corri até o buraco da parede e lá estava ela. Cantando como um pássaro em seu ultimo dia, mas como se fosse o primeiro entre tantos que ela vai fazer, agora que ela era a estrela. Percorri o olhar para cada acento do camarote. Ela estava cantando no palco mas ele, meu amor, não estava lá para assisti-la. Minhas mãos pararam de formigar. Dei um longo suspiro, tentando liberar o nervosismo de mim. Corri até o buraco da parede. Carol ainda não tinha entrado, estavam no palco as bailarinas. Posição que eu estava há 7 anos atrás. Eu consegui ouvir meu coração. No camarote, que alívio, ele não estava lá.
- Mais calma? – uma voz grossa falou atrás de mim.
E lá estava ele. O amor da minha vida estava bem ali na minha frente. Muitíssimo bem vestido como sempre e segurando uma rosa branca na mão, igualmente como sempre. Estava confusa. Como ele entrou aqui? Ele era muito mais belo de perto do que lá de cima.
- Deve estar se perguntando como entrei aqui. Quando me procurou na platéia, não precisou de palavras para me dizer que estava me chamando. Qual é seu nome.
Tentei dizer, mas ele não viu nenhum som e sim uma gosma marrom e dura dentro da minha boca. Ele deu uma risada abafada. Senti uma enorme vergonha que não pude conter uma lágrima que escorreu na lateral do meu nariz.
- Não chore.. – Ele secou a minha lágrima com a rosa. - Além de bela, é ingênua. - Ele andou até a mesa de maquiagem e serviu um copo de água. Veio ate mim. – Tome. Vai diluir o doce.
Eu peguei e tomei. O doce se quebrou em partes pequenas e minha saliva pode molhar minha boca novamente e começou a diluir-se lentamente. Ele se sentou em minha poltrona e ficou me fitando. Eu, tímida, sentei no pufe, ao lado da porta, olhando para os meus pés, e sentindo o sabor diluído de cereja na minha boca. Fiquei ouvindo a música da orquestra. Era a parte em que o casal da história dança pela primeira vez, juntos.
- Me permite? – Ele perguntou para mim, com a mão direita estendida.
- Claro. - Eu peguei sua mão. E dançamos aquela valsa a noite toda, até o fim da peça.

Capitulo 13

Naquele silêncio, pensei na próxima parada. Denver. Morei tantos anos lá. Lá e em vários lugares dos Estados Unidos. Quando me envolvo com humanos, quando sou descoberta ou desconfiam de mim, eu me mudo. Nunca em 67 anos, eu comprei um lugar como fiz há alguns messes atrás em Los Angeles. Sempre morei no apartamento de Joey ou em algum quarto de hotel. Me lembrei de algo importantíssimo, que definitivamente explicaria o porquê do silêncio.
- Meu celular! – exclamei – Digam que vocês não o jogaram fora!
- Não. – Kurt colocou a mão do bolso e me entregou - você não tem para onde fugir sem que a gente saiba.
Eu liguei o celular. Estava louca para falar com Joey. Apareceu na tela a mensagem: 348 ligações perdidas. Meu queixo caiu,
- O quê?! – eu gritei – 348 ligações perdidas em uma semana?
- Ah, sim, ele tocava a cada cinco minutos e eu desliguei por que não agüentava mais o trim trim trim desse celular. Quase que o Ryan o jogou pela janela.
Fui ver a lista. Quase todo o mundo me ligou. Inclusive pessoal dos meus negócios. Tapei o rosto com as mãos.
- Eu não acredito! – Ai que ódio!
Kurt riu. Como ele pode ficar feliz enquanto eu me mato aqui?
- Você me vê brava assim e ri?!
- Você fica engraçada assim. Tão...
- Tão o quê?! Brava?! Irritada?!Louca da vida?!
- Como a minha ex.
Ryan começou rir feito louco. Realmente, muito legal da parte deles. Depois de passar uma hora de ver a lista notei que: 110 ligações eram de negócios, 50 eram chamadas desconhecidas, 98 eram de conhecidos, incluindo Joey, 31 eram de pessoa a quem eu devo, 20 eram a cobrar, e o outros 39 eram do meu escritório ( sim, eu tenho um escritório).
Comecei a fazer as ligações, começando pelos conhecidos. Joey, Melinda e Chuck. Eu tenho vida social mesma sendo meio isolada por causa do passado. Falei com o escritório e disse que tinha que resolver alguns problemas de moda em NY, já que ‘assaltaram’ meu apartamento (e me levaram junto). Cecília riu, mas concordou comigo. Para logo você que não está entendo nada do que eu falo nesse capítulo, vou esclarecer a minha vida no presente.
Eu tenho um escritório comercial onde vendo e compro (sendo representado pela formula: comprar = tomar para uso lucrativo sem devolução, e, vender = trocar por dinheiro, mesmo que eu não tenha a mercadoria). Trabalham comigo Joey, na pesquisa, Cecília vendas internacionais, e eu, compras. O nosso público alvo são idosos milionários que tem medo de perder tudo e que acreditam em amuletos valiosos que realmente funcionam. Nosso escritório não é fixo, é divido em três notebooks para facilitar a fuga anual que fazemos. É normal dos vampiros migrarem a cada dois anos, ou a cada cinco, quando são descobertos, ou quando conseguem um trabalho de pouca duração, pois os humanos envelhecem, nós não. Joey não atendeu o telefone, então eu deixei um recado. Apesar de ser famosa, eu não tenho muitos amigos. Melinda é a minha melhor amiga com certeza, mas fica difícil de confiar em qualquer pessoa desde que a minha primeira melhor amiga me deu a primeira maior facada que eu levei.

Capitulo 12

Depois de encher o tanque, todo mundo ter comido aquela comida nojenta, fizemos compras para Jennifer, e eu comprei muitas roupas fofas para ela. Voltamos para o carro. Dessa vez, Kurt foi dirigindo, enquanto Ryan Jennifer e Sam foram dormindo no banco de trás, e eu me sentei no da frente.
Reparei que todo aquele silêncio poderia ser diferente: eles têm aparelho de som no carro. Como eu sou desatenta!
- Pode ligar o som? – perguntei para Kurt.
Ele ligou o rádio. Começou a tocar uma música Gun’s. “...I used to love her... But I have to killed her...”. Assustada eu desliguei o som.
- Deixa para lá. – disse envergonhada. Aquilo era a minha história com uma mudança de gênero.- Não... Aquela música era legal. – ele ligou o rádio. “…I had to put her, six feet under…”. Eu desliguei logo rapidamente, mas ele o religou logo em seguida “.. and I can still hear her comp...”, eu desliguei. Aquilo já estava me assustando. Ele, teimoso ligou de novo.- Qual é seu problema?! – ele reclamou . “…I knew I'd miss her, so I had to…”. Eu ejetei a frente removível do som do carro e joguei em cima da tampa do porta malas, por cima das cabeças de Ryan, Sam e Jennifer, atrás de nós. Finalmente silêncio, sem perturbações.- Chega de música! – eu falei alto.- Você é estranha, Midori. – ele reclamou.- E você nem sabe o resto... - Você vai ter tempo para me contar, não se preocupe. - Como assim?- Vamos chegar tarde hoje na próxima parada porque a próxima parada é muito perto, então chegamos a Denver – ele olhou para o relógio, eram 16:12 – lá pras oito. Ótimo. Simplesmente ótimo. A estrada não estava cheia, o que me preocupa. Pois não é muito normal uma estrada, principalmente a rodovia 15, não estar movimentada. Notei que uma grande nuvem cobriu o céu, tampando aquele sol infernal, pelo menos. De repente o carro começou a balançar. Eu me segurei na porta. Kurt encostou o carro. Ele saiu e voltou bravo, batendo a porta.- Estourou o pneu de trás. - Tem step?- Tem, mas o Ryan vai me matar. Melhor trocar rápido. - Quer que eu troque? – eu já troquei mais pneu que mecânico, acredite.- Você? – ele deu uma risada – Não. Vai estragar a unha. Ok agora me ofendi. Tirei a chave do câmbio mais rápido que ele, sai e tranquei a porta. Andei até o porta-malas e destranquei. Kurt pedia irritantemente para que eu voltasse para dentro do carro. Eu tirei as minhas malas e abri o compartimento do step. Eu, como vampira sou mais forte que um humano, por isso não assuste. Eu me agachei em frente ao pneu. Eu olhei de um lado e do outro da estrada. Não havia ninguém a não ser areia e pedras. Com a audição aguçada não ouvi ninguém vindo. Levantei com as mãos, o carro para que o pneu saísse do chão e apoiei no joelho dobrado. Desrosquiei os parafusos com as mãos e troquei o pneu. Guardei tudo e entrei no carro. - Viu? Não quebrei a unha e nem manchei o meu vestido.- Mas... Eles acordaram. Notei que os três me olhavam como se eu fosse de outro mundo.- Que foi? Nunca viu, não?- Não! – os três responderam. Aquele balanço que Midori fez quando trocou o pneu do carro, me acordou. Logo depois de termos voltado a viagem, meu olhos ainda estavam pesados de sono. Mas por algum motivo ( talvez seja por que Kurt e Ryan não calaram a boca ainda sobre o pneu) não consigo dormir. Me virei para a janela e vi aquele sol batendo na areia que voava com o vento. Me lembrou do único verão que realmente posso chamar de, feliz. Num mustang branco, conversível, em couro vermelho, rodas 18 polegadas, peças originais, rodei as mais maravilhosas milhas ao lado de Susan, minha namorada. A mesma que morreu, transformada em vampira e logo depois, decaptada com as próprias mãos de alguém que chamo de demônio, pois só um poderia fazer mal ao meu anjo. O vento quente do verão bagunçava os longos louros cachos de Susan.- Eu amo essa música! – ela aumentou o som – Sweet home Alabama! Ela parecia criança quando sorria. Ela balançava os braços no alto e dançava no lugar, cantando alto, era uma figura engraçada. Só ela me fazia rir desse jeito. E acho que nunca mais vou rir assim.- Cante também, Sam!- Eu não gosto de cantar., Susan...- ela cantava com uma vivacidade, que tinha medo de estragar com a minha timidez. De dia criança, de noite criança, no piano, mulher. Ela era uma pianista maravilhosa, intocável com sua áurea, com sua graça. Bem me lembro que em suas cartas (já que sou San Francisco e ela, de Nova York), ao invés de escrever um simples no final, seguia a frase você é o meu fá. Claro, que na época eu não entendia, mas agora posso compreender. Um piano sem a nota fá, é completamente inútil.Agora, meu lindo louro piano se foi e o que sobrou? Uma lamentável nota sozinha, tocando, fa...

Capitulo 11

Sempre gostei de dança e de peças. Desde pequena sabia que ia ser atriz de teatro. Com 15 participei de uma peça de Romeu e Julieta, como figurante. Os aplausos no final eram o que importava para mim, mas um orgulho nasceu no peito e saia pelo enorme sorriso no meu rosto. Com 19 fui uma coadjuvante, e com 20 já era a famosa estrela da peça Dama da Noite, um musical.
- Você vai se atrasar! – Julie, a produtora e minha segunda mãe, me disse na porta do camarim.
- Já vou, já vou! – eu passava a última camada de pó no rosto. Ao espelho, eu estava perfeita. Vestido branco, quase sem costura, escorria pelo meu corpo magro, mangas soltas como fantasmas, e o corpete era bordado com pedras reluzentes, que brilhavam sem cor. No pescoço, o meu maior orgulho, a gargantilha Isabelle, feita de diamantes.
A peça era linda e a platéia aplaudia de pé. As críticas dos jornais eram ótimas. Todos me reconheciam nas ruas. Até meus pais pararam de brigar. Mas para mim pouco importava a opinião dos outros, a não ser de uma pessoa. A única coisa que queria ouvir era de quem realmente importava: aquele homem que assistia cada peça minha lá do alto, do camarote. Ele era lindo e muito bem vestido. Vinha sempre acompanhado por um homem e uma mulher, que creio eu, sejam os pais. A mulher me fitava e o senhor, me olhava debaixo para cima com suas mãos apoiadas em uma bengala dourada. O homem ficava debruçado e assistia atentamente cada movimento meu com um brilho nos olhos. Era ficava maravilhado, curioso, encantado. Quando eu não participava, ele não vinha, mas quando eu estava na peça, mesmo sem falas, lá estava ele e seus pais, no mesmo camarote. O dono do teatro nunca soube me dizer seus nomes, o que me despertou uma curiosidade particular. Ele era o primeiro a chegar, e sumia na hora de ir embora. Tantas vezes eu tentei segui-lo, mas antes mesmo que pudesse sair do palco, ele já havia sumido do ar. Mas ele sempre me deixava uma coisa, uma rosa branca, enorme e sempre cheirosa. Entre tantas vermelhas jogadas, a dele era diferente. A dele continha um poema escrito a mão preso na rosa por uma fita vermelha. Apenas a dele eu pegava e trazia comigo, a produção pegava o resto e trazia para o meu camarim. Os buquês no meu camarim eram todos vermelhos, com apenas uma rosa branca. Um buquê de rosas vermelhas com um branca, é igual a toda a platéia com ele no camarim. Ele era especial. Eu só pensava, nos ensaios, conseguir aquele brilho de tom verde inexplicável em seus olhos. Florescia algo novo em mim. Seu sorriso fazia parte da peça. Sem ele a peça não tinha sentido nenhum. Sem ele, nenhuma peça tinha sentido. Sem seu sorriso, minha vida não tinha sentido. E satisfação com o meu trabalho só conseguia quando tocava as macias pétalas da rosa.
Foi assim que eu me apaixonei. Infelizmente, assim como sino só é sino quanto é tocado, amor só é amor quando compartilhado. Apaixonei-me pela idéia de estar junto a ele, ou como chamam, amor não correspondido. O que na minha condição não é verdade, pois mesmo sem dizer nada, eu sei, que ele também me ama.

Capitulo 10

Dor, muita dor pelo corpo inteiro. Não conseguia me mexer. Havia muito barulho de gente falando e correndo. Eu estava sobre uma mesa acolchoada com rodas, andando, balançado freneticamente. Abri os olhos e vi branco. Branco do teto com luzes redondas ainda mais brancas passando pela minha cabeça. Havia várias pessoas vestidas de branco, com toucas e máscaras chamando meu nome.
- Senhora Wodsen? Você está acordada?Senhora Wodsen? – uma mulher negra repetia.
- Mais 3 ml de vicodin. – um homem ao meu lado disse.
- Ela acordou Doutor Robert. – a mulher disse.
- Senhora Wodsen? Há alguém para chamarmos? Algum contato? Senhora Wodsen, você me ouve? Há alguém para chamarmos? Você tem alguém? Você não está no registro, por isso precisamos de algum contato para avisar que você está aqui!
Eu estava em um hospital com corredores estreitos que faziam eco. Não me lembrava o que aconteceu. Nenhum acidente. Nada. Apenas aquelas vozes repetidas na minha cabeça com um eco enlouquecedor.
- Há alguém para chamar? Você tem alguma família? Senhora Wodsen? Senhora acorde!
Eu realmente acordei. Na minha cama em Green River, com sol entrando pela janela. Era um pesadelo. Apenas um pesadelo. Jennifer saiu do banheiro.
- Sonho agitado? – ela perguntou. Já estava trocada, a cama dela arrumada, havia um copo de sangue no criando mudo – os meninos já estão chamando. Achei umas roupas molhadas na sua mala, fui na lavanderia e as sequei na secadora. Não encolheu, relaxe.
Eu me sentei e esfreguei os olhos para me certificar que eu tinha saído daquele sonho horrível. Fiquei ali parada por alguns instantes. Aquele sonho era extremamente estranho não pelo o que nele estava contido, mas nele em si. Eu não sonho há anos. E todos os meus sonhos depois de vampira eram quase iguais. Ou era sobre a minha filha ou esse, no hospital.
- Midori. Você parece um tanto abalada. Conte-me sobre esse sonho, eu sei ler até os mais complicados.
- Não. É melhor irmos. – Eu me levantei e entrei no banheiro. Tomei banho, joguei as roupas de ontem no lixo. Tomei o copo de sangue que Jennifer fez para mim, lavei – o ( por é quase todo dia que a camareira pega para lavar um copo com resquícios de sangue, não é?), e me arrumei, fiz as malas e liguei para a portaria levar as minha malas. Entrei no carro. Dois minutos depois, o mesmo cara de ontem pegou as minhas malas e as colocou no porta malas. Os meninos estavam alegres e acordados, enquanto eu estava meio de mal humor.
- A próxima parada é em Clifton para almoçar.
- Almoçar? Que horas são? – eu perguntei.
- Quase uma hora. – disse Kurt – dormiu demais ou acordou muito cedo, Midori?
- Haha, que engraçado você. – sinceramente essa gente não têm boas piadas.
Por toda a viagem Jennifer e os outros conversaram bastante e até riram bastante. Eu fiquei quieta toda a viajem, olhando pela a janela. Aquelas vozes, as luzes, a dor. Eu senti, eu não sonhei, aquilo realmente aconteceu, era real demais para ser sonho.
- Jennifer – eu disse espontaneamente, todos ficaram quietos, surpreso pela minha fala – eu quero que você leia o meu sonho.
- Você lê sonhos? O Kurt tinha pesadelos constantes quando era pequeno. Com um...
- Nossa, é verdade. Com o monstro de madeira.
- Calem a boca, crianças.
- Ahn... Claro, pode falar.
Eu contei até os mínimos detalhes.
- E ela ficava repetindo Senhora, há alguém para chamar?Algum contato? Senhora...?
- E havia? – ela perguntou.
- Havia o quê?
- Havia alguém para chamar?
O que mais me surpreende agora não é mais o sonho, e sim a resposta daquela pergunta: não. Não é sempre que Joey está comigo, e ele tem a vida dele. Às vezes ele some por dias! Não há ninguém para eu chamar. Ninguém que se importe se eu estou bem, se eu estou viva, ou com problemas. Eu não tenho ninguém. Eu... Sou só. Continuei a olhar pela a janela.
Melhor relaxar, por que afinal sonhos são bobos, pura besteira se preocupar com eles. Sonhos entram em ação para o cérebro organizar informações na memória, e decididamente, eu tive um dia cheio de informações ontem. Foi a primeira noite depois da notícia de que Mitch havia voltado. Não vou mais me preocupar com isso.
Passou-se meia hora depois do que eu falei, e chegamos a Clifton. Cidade do interior, bem maior que as outras que paramos. Mais casas, ruas pavimentadas, casas e pessoas nas ruas. Pessoas caipiras, claro.
- Então Jennifer, o que você vai querer comer? – Ryan parou o carro no acostamento, na frente de um quiosque, onde tinha vários pequenos restaurantes, um do lado do outro – Comida italiana, panquecas, donut’s, pretzels, comida australiana, tacos ou Mc Donalds?
- Comida australiana eu acho que nunca comi. – Ela disse, confusa com as ‘deliciosas’ opções. Não posso culpá-la.
- Então é comida australiana mesmo!
Eca. Sem comentários. Hoje em dia humanos comem muita porcaria. O sangue de 60 anos atrás era de melhor qualidade do que os de hoje. Vampiros estão engordando com a quantidade de gordura, colesterol, antioxidantes, estimulantes, sal, açúcar e vitaminas em excesso, sem falar das drogas. Outra vantagem de apenas tomar de banco de sangue. São sangues selecionados de boa qualidade, do jeitinho que eu gosto. Saímos do carro. Eu fui quase encostada na parede, andando pela sombra. Os meninos, pelo sol. Essa é nossa maior diferença. Às vezes me esqueço disso.
Entramos no restaurante australiano. As paredes eram de uma cor terracota e havia pelúcias de coalas e cangurus logo na entrada. Quadros e pinturas enfeitavam as paredes. O restaurante era um tanto escuro e abafado. Havia mesas de fast – food, como outro qualquer restaurante. Agradeço todos os dias que eu não consiga sentir cheiro ou gosto de comida humana. Sentamos-nos e pediram comida. A cada dez opções no cardápio, onze eram com pimenta.
- Como vocês escolhem mal a comida, credo!
- E você é muito fresca. – disse Ryan com a boca cheia. Ele tinha um prato cheio de batata frita.
Aquela comida amarela me deu um nó no estomago. A única comida que aparentemente prestava ali, era a de Jennifer, que pediu salada. Todos estavam conversaram e minha cabeça girava com aquelas bolhas de gordura saltando das onions rings. Jennifer esticou o braço e pegou algumas batatas e comeu. Os meninos paralisaram.
- Ei! – Ryan questionou. – Essa batata ai era minha!
- Ah não Ryan, você não vai brigar por algumas batatas, não é? – ela disse.
- Escuta não é minha culpa você ter escolhido salada, mas pegar a minha batata?!
- Grande coisa! São batatas! – ela argumentou.
- O problema não são as batatas, mas o que elas significam para mim!
- E o que raios elas significam para você, Ryan?! – Jennifer exclamou.
- É tudo comida!
- É verdade, Jennifer, o Ryan não divide comida – disse Sam.
- Faça isso de novo, e é capaz de você perder alguns dedos. – Ryan comentou.
- Isso é ridículo! – aquilo já estava me matando.
- Eu vou ao banheiro, com licença. – eu disse.
- Hm! – Jennifer murmurou com a boca cheia, depois de engolir, disse – Eu vou com você.
Levantamos-nos e entramos no banheiro. Eu usei o toalete e Jennifer também.
- Essa comida é boa pelo menos? – eu perguntei curiosa, e mudando daquela ridícula discussão.
- É. Mas achei que não se interessasse pela vida dos humanos.
- E eu não me importo. Mas, não sei. Aquilo é tão cheio de gordura. É definitivamente uma péssima escolha. – eu saí da cabine e fui lavar as mãos.
- Nem todo mundo que come gordura todo dia passa mal. Ryan come e é um palito. – ela saiu da cabine.
- Mas o colesterol deve ser alto. Estou falando, essa escolha de comida é o último erro que você vai perceber que fez.
- E você? – ela abriu a torneira para lavar a mão – Qual foi seu último erro?
Fiquei pensando por um tempo, enquanto as minhas mãos se lavavam.
- Aceitar uma rosa – fechei a torneira.

Capitulo 9

- Krassen era... O pai dele? – eu perguntei pasma.
- Era. Quer dizer, é... – ela estava sentada ao meu lado na cama.
Veio o meu casamento na mente. Quando entrei na igreja, olhando para mim na primeira fileira, estavam na respectivamente ordem Duas ex-namoradas dele, Kristen e Anna, lindas com seus vestidos vermelhos com branco, os amigos de Mitch que eu conhecia faz tempo pois eles sempre estavam na casa dele, e o suposto pai, que não era Krassen, pois ele tinha cabelos grisalhos com um rosto diferente, mais sério. Ele nunca sorriu. Nem uma vez sequer. Ele sempre usava luvas de couro, mas nunca me perguntei o porquê. Eu sempre o vi, e o conheci como pai de Mitch. Eu acordei como um estalo.
- Mas então quem era aquele no meu casamento!? – eu indaguei.
- Bom... Você casou antes mesmo que eu nascesse, então fica difícil de ajudar.Como ele era?
- Moreno e bem alto, uns 45 anos, cabelos grisalhos sempre usa roupas finas e usa luvas de couro pretas nas mãos, com algum tipo de símbolo, já foi DK... SK ou UK... Mas nunca me interessei.
- Você disse luvas?Sempre de luvas?Com letras onde? No dorso?! – Ela se entusiasmou.
- Era, o K era a segunda letra. A outra eu não me lembro...
- Minha nossa... – ela disse pálida. Pensou alguns instantes, mas logo retornou – Ok, deixe- me te explicar. Meu irmão foi mordido por uma vampira, e ele fugiu da família, amigos e trabalho em um suicídio encenado, e ele só mantém contato comigo em segredo, por que afinal, ele vai viver pra sempre. Em uma época que ele ficou muito triste por que sentia muitas saudades, e me pediu desesperadamente por uma cura. Eu me converti em bruxa para salvar meu irmão da eternidade, e depois para descobrir que não há nenhum tipo de cura. – ela suspirou – ele conseguiu muitas coisas quando era vampiro. Ficou rico, se mudou para a Europa com o seu novo ‘‘trabalho’’, - ela fez as aspas com as mãos – messes sem contato até que uma noite ele me ligou e me contou sobre seu novo trabalho. Ele agora era a mão direita de Genus Krassen, o Imperador, um grande traidor vampiro como outras me falaram. Ele fundou a sede Drei Kronen, que é a última esperança para os vampiros que estão morrendo dia após dia, com caçadores e outros inimigos como demônios, bruxas e principalmente lobisomens. Para proteger a espécie, essa nova aliança nasceu e se tornou uma potência, pois seus donos, a família Krassen, originalmente das regiões da França, norte da Itália e Áustria. Eles são riquíssimos, e somam suas riquezas e poder desde o século IX. Outras alianças nasceram depois, como a Sirus Kingston, fundada pelo irmão de Genus, Sirus, que controla o comércio entre os vampiros, e a Kermesse Union, fundada por Louis XVIII da França, que é um banco mundial.
- Jura? Por que eu não sei disso? – eu perguntei. Caramba, eu sou muito desinformada!
- Continuando, Sirus e Genus brigaram há uns dois séculos atrás, pois Genus queria ampliar a Drei Kronen para lobisomens, demônios, deuses e etc., mas estes teriam pagar. Sirus e Louis protestaram, por que a Drei Kronen era uma relíquia internacional. Louis disse que se Genus ampliasse, muitas brigas ocorreriam nas mansões, principalmente com lobisomens que já declaram guerra aos vampiros inúmeras vezes.
- Por que? – eu perrguntei- e da onde surgiu esse tal de Louis?
- Comida. – ela respondeu – Ele se casou com a filha de Sirus, Anne. Ela era vampira e prima de Mitch. Quando Sirus e Genus quebram laços definitivamente, Mitch já era vampiro. Sirus e Mitch eram muito apegados e acho que em algumas épocas do ano, eles moravam juntos, Sirus Suzie, esposa de Sirus, Anne e Mitch e Fiona, irmã mais nova de Anne.
- E o que eu tenho a ver com isso? – hellooooou! Aqui a história é minha!
- Calma, estou chegando lá. Meu irmão foi adotado por Genus para ser o herdeiro do Drei Kronen, e isso causou um grande impasse para Mitch com o pai. Eu sempre falei para o meu irmão que isso era um joguinho de ciúmes entre Genus e Mitch. Um dia o Mitch morreu como você sabe, e Sirus, desesperado, recorreu as bruxas. Meu irmão me contou tudo há alguns messes atrás, quando descobriu que quem ia herdar a Drei Kronen era ele.
- Espera um pouco, você disse que quem pediu para reviver Mitch era o pai dele, não o tio.
- Quem pediu foi Sirus, e ele disse que era o “pai” - ela fez as aspas com as mãos – dele, na época acreditamos, depois descobrimos a história pelo meu irmão. Mas ele foi morto há alguns messes, justamente quando estava montando uma nova família de vampiros, e estou atrás da família Krassen justamente por isso.
- Quem você disse que era seu irmão mesmo?
- Não disse. Meu irmão se chamava Dixon, Dixon McHarper.
Meu coração pulou. Era meu amigo, Dixon! Que foi morto por Gordon!
- Meu Deus! Ele era meu amigo!
- Era?! – ela perguntou confusa.
- Sim! Eu o conheci há uns 6 anos atrás. Mas... Ele foi morto por Gordon McBean, um caçador.
- Como assim? Ele... – ela murmurou pálida – então tudo, absolutamente tudo que eu fiz por ele era besteira? Foi por absolutamente por nada?! – ela começou a chorar.
Eu a abracei. Era melhor eu não a ter corrigido. De repente ela disse:
- Não pode ter sido por humano, não. Eu fiz um feitiço contra isso. Apenas não humanos poderiam ter feito, eu tenho certeza, Midori. Tenho sim.
- Então faça o seguinte – olha a besteira que eu vou falar – venha conosco para Atlantic City e descubra.
De repente a porta do quarto se abre bruscamente, e assustados caem Sam, Ryan e Kurt no chão. A cena era óbvia, eles tinham escutado tudo por de trás da porta (ninguém merece!). Se levantando meio envergonhados, Ryan diz;
- Será que posso falar com você um pouquinho?
- Pode – eu me levantei, e junto com os três, saio do quarto.
- O que deu em vocês!? – eu exclamei – Escutar a conversa por de trás da porta é uma coisa muito infantil! Nunca ouviram falar em privacidade?!
- A pergunta aqui é outra! O que deu em você!? Chamá-la para vir conosco para Atlantic City?! – Sam reclamou. Ele fica muito fofo quando bravo. Ele parece modelo de certos ângulos... De todos os ângulos, na verdade.
- Se vocês ouviram a conversa toda, vocês sabem que ela tem que vir! – nenhuma resposta foi dada – Viu? E afinal, qual é problema? Eu pago tudo para ela. É o mínimo que eu possa fazer, por que afinal ela me explicou muito da minha história.
- Reunião de família! – exclamou Ryan. Os três viraram as costas e foram até o carro, a uns 50 metros do meu quarto, no meio do pátio, onde é o estacionamento. Eles voltaram dois minutos depois.
- Muito bem, ela pode ir. – disse Sam, sorrindo.
- Agora dêem – me licença, por que eu pretendo tomar banho, e agradeceria se vocês não ficassem atrás da porta. – eu entrei no quarto. Jennifer estava ainda sentada na cama, com os olhos fixos no chão.
- Eu vou tomar banho, e acho que você precisa também. Você trouxe alguma coisa?Qualquer coisa?
- Não. – ela disse – Nadinha.
Eu suspirei.
- Vamos comprar algumas coisas na farmácia para você, como escova de dente, fio dental e etc. As roupas nós compramos amanhã de manhã. – eu abri a porta – Vamos?
- Claro... -Ela se levantou meio envergonhada.
Para não ter perseguidores, melhor avisar os meninos. Eu fui até o quarto 91, o deles, e bati na porta.
- Nós vamos comprar algumas coisas para ela está bem?
Kurt abriu a porta, e saiu.
- Ah é?!Tipo o que? – ele perguntou, cruzando os braços.
- Tipo... Escova e pasta de dentes, escova de cabelos, xampu, absorventes...
- Está bem! – ele exclamou. Logo ele fechou a porta.
Nós andamos 100 metros e já achamos o centro. Só a farmácia estava aberta, mas também não poderia culpar ninguém, já passava da meia noite. Compramos um anti-alérgico, comprimidos para cólica, escova de cabelo, pente, escova e pasta de dentes, fio dental, dois esmaltes, um hidratante de cabelo, e outro de pele, remédio para machucado, band-aid, absorventes para emergência,elásticos de cabelo, xampu, condicionador, sabonete, um kit básico de maquiagem e removedor de esmalte e de maquiagem.
- Você tem certeza que preciso de tudo isso? – ela perguntou.
- Tenho. – ela não usava nada, e estava toda ralada (ao contrário de mim, que como vampira meus machucados cicatrizam em minutos), por causa da nossa aventura perto do rio.
Jennifer voltou para o quarto, enquanto eu ia para a recepção e alugava mais um colchão, com aquela simpática recepcionista. Entrei no quarto, tomei um banho bem gelado, me arrumei para dormir e comi bastante, e me deitei debaixo das cobertas. Jennifer arrumou a cama dela, depois tomou banho, e deu um jeito nos machucados.
- Tem certeza que não está com fome? – ela não tinha comido nada.
- Tenho sim. Estou até meio enjoada. – ela estava colocando band-aids nos ralados das pernas, sentada no colchão ao lado da minha cama. – Sabe, ser vampiro deve ser muito mais legal que ser bruxa, por que bruxas morrem, e bruxas não tem machucados curados instantaneamente, e se eu fosse vampira acho que até teria salvado meu irmão. Não acha?... Midori? Hm, dormiu. – ela se virou e apagou a luz do abajur que estava acesa, deitou e dormiu.

Capitulo 8

- Preciso ir mesmo? Depois de tudo o que eu fiz, você não entendeu Joey?Eu não quero mais falar sobre isso.
- Mas você não vai!Ninguém vai. Por favor, você vai disfarçada, vê – mostrando uma peruca loura – é comum vampiras usarem perucas, ainda mais hoje, em 1950 todas querem parecer a Marilyn Monroe. Imagine há 300 anos! Pareciam moitas depois de uma noite.
- Onde é a festa?Se for a algum tipo de antro nojento...
- Antros são coisa de rebeldes. A festa é logo depois que entramos pela porta da frente. Vê aquela ali? – apontando a porta daquela majestosa mansão a dez metros do carro.
Meus olhos brilharam. A casa era linda, branca com várias longas janelas e floreiras com flores vermelhas. A porta aberta mostrava uma grande movimentação de gente bem-vestida e sorridente, rindo alto e bebendo em longas taças. Tinha um lindo jardim, colorido com colunas-vivas, cada uma com uma cor de flores diferentes, com uma linda iluminação que destacava a casa e o jardim, assim como uma rosa se destaca em um vaso florido.
Peguei a peruca e coloquei, me maquiei e estava pronta, já que meu vestido de 1850 foi presente de Joey, que ele me deu antes de sairmos de casa, falando que ia me levar para uma surpresa.
Estava tão feliz que quase fui até a mansão pulando. Chegando lá, a casa maravilhosamente decorada em mármore, cheia de flores nas colunas e com dois grandes salões um de cada lado, e uma enorme escada de mármore, com direito a tapete vermelho e um brasão, de quatro cores. Ao lado da escada, uma pequena recepção vazia, do outro uma porta que não fechava, de tanto garçom que entrava e saía com taças de sangue, cheias e vazias.
Um homem, vestido com fraque, cabelos castanhos penteados cuidadosamente para trás, com um olhar negro profundo em uma cara cansada, talvez pela idade, se aproximava com um enorme sorriso.
- Joseph! – falou ele alto, com os braços abertos.
- Lord Krassen! Há quanto tempo...- ele estava com um sorriso amarelo, e visivelmente, uma vontade enorme de sair correndo - Não achei que o senhor ainda estaria nos Estados Unidos..
- Minhas intenções não eram voltar... É mesmo uma pena aquele casamento não ter dado certo... Mas quem se importa?! – ele riu, e logo se virou para mim, pequenininha perto deles – Vejamos quem está aqui! Uma novata! Mas... Não achei que Joey seria Sire um dia – ele disse rindo para dentro – Seja bem-vinda! Aqui é a sede do Drei Krönen! Uma parte da realeza vampira que se estende mais do que a imaginação humana! Ela abriga qualquer um que seja vampiro! Pode ser pobre, rico, bom, mal alto, baixo, homem, mulher... Só basta ser vampiro! E é de graça, mas você precisa arrumar sua própria comida.
- E... Sem pagar nada? – eu perguntei curiosa.
- Nadinha! Só não pode três coisas, por isso preste bem atenção, não pode trazer humanos para dentro, não contar desse lugar para não-vampiros, e... Não entrar no meu escritório, sob nenhuma ou qualquer circunstância. Boa festa! – e ele saiu andando.
- Esse cara me deu arrepios – eu cochichei pra Joey – Quem é ele?
- É o dono da casa, Lord Krassen. Ele fundou uma mansão dessas para vampiros em todos os países nobres... Mas ainda não acredito que ele se mudou para algum lugar que não fosse a Europa.. Ele é o filho de Genus August Krassen, o primeiro vampiro que existiu. Ele é considerado o rei para nós, então não arrume confusão aqui. Ele nem parece abalado, por que um dos herdeiros dele, o mais velho foi morto.
- Que pena... Sei como é perder um filho... Há quanto tempo foi isso?
- Bom, para alguém que viveu mais que 900 anos, semana passada praticamente. Mas deixe isso de lado, ok?
- Ele nem perguntou meu nome... – alguém que me deixa morar em sua mansão, teria que ao menos saber qual é meu nome!
- Faça o seguinte: vá até a recepção e escreva seu nome no caderno aberto em cima do balcão.
- E que nome eu ponho? Digo não posso colocar o verdadeiro... E por que mesmo ele não perguntou meu nome?
- Por que sendo vampiro, ninguém quer saber seu nome verdadeiro, por que quase todos mudam o nome depois de algum tempo, então ponha um nome da qual você quer ser chamada.
- Então seu nome não é Joseph?
- Não, Joseph era o nome do meu pai. Meu nome é Pierre.
- Você é francês?
- Sim. Agora vá lá, escreva e vamos à festa! – ele disse já me empurrando.
Cheguei perto do balcão, onde em cima dele estava aberto um caderno com muitas páginas, e em todas, nomes escritos. Ao lado do caderno estava uma pena grande vermelha com dourado num tinteiro. E agora, que nome eu ponho?
Não poderia ser o verdadeiro, claro. Mas não pode ser qualquer um, pois afinal o nome é algo importante e todos vão saber me chamar pelo nome não por uma simples palavra. Aquele seria o nome que eu me chamaria para sempre. Todos os meus feitos poderiam ser feitos sob meu nome, já que meus antigos, gostaria que não estivessem no nome de ninguém.
Minha mãe se chamava Mary, nome muito comum. Olhei para o caderno e nada. Minha imaginação não estava muito apurada, talvez pelo fato de eu não ter comido não ainda. Com o canto dos olhos vejo ao lado três mulheres, uma ruiva, uma loira e uma morena, com vestidos brancos e colares de brilhantes, rindo perto de mim, pareciam se divertir muito enquanto conversavam. Lembrou-me da minha adolescência, onde eu tinha amigas inseparáveis, nós passamos muito juntas. Fico triste quando me lembro disso, pois sei que nunca mais poderei vê-las novamente. Ah... Que saudades eu sinto da Michelle e da Dolly... Tive uma idéia! Misturei os nossos nomes e...
- Midori. É assim que vou me chamar a partir de agora.
Como um estalar de dedos, eu voltei à superfície da realidade.

Capitulo 7

- Para onde elas foram? – eu perguntei.
Ryan desligou o carro. Tudo ficou silencioso e o som da música continuava bem baixinho. Kurt estava concentrado.
- Elas estão cantando a música do lamento. - ele murmurou.
- Lamento?Isso quer dizer que elas perderam alguém? – perguntou Ryan.
- Pode ser. Ou elas fizeram algo que se arrependeram. – ele respondeu.
Eles negaram a idéia na hora.
- Não é melhor seguirmos a música? – eu sugeri.
Eles saíram do carro. Lá fora o chão era uma areia bege, bem clarinha com uma grama seca rasteira. Na borda do rio apenas lama. Atrás do carro, há uns 50 metros de distância onde a estrada fez a curva que virou para a esquerda por causa de uma grande pedra com moitas cheias de espinhos na encosta do rio. Um vento frio soprava de dentro dos canyons.
Atrás da pedra, em fila indiana seguiam as bruxas, que por algum motivo, não nos viram. Elas estavam subindo a montanha, não muito íngreme, mas cheia de pedras. Elas sumiam no topo, que entravam por uma passagem larga entre duas grandes rochas.
Kurt prestava atenção para decifrar o canto.
- Elas estão arrependidas. Elas trouxeram o mal de volta. – murmurou Kurt.
- Como assim? – disse Ryan – Pára de falar besteira...
- Você deve estar brincando não é? – murmurou Sam. – Bruxas? Arrependidas?
- Bruxas também são humanas. E vão para o inferno quando morrerem. Elas têm muito mais motivos para estarem arrependidas do que eu.
Resolvemos segui-las. Iríamos andar a partir do momento que a última bruxa entrasse pela passagem. Os meninos colocaram um saco de sal em cada mochila. Eu levaria as lanternas
e outros artifícios. A última bruxa sumiu na montanha antes que terminássemos de arrumar as coisas. Fomos correndo silenciosamente. A subida era muito íngreme, de areia e pedras que escorregávamos muito para subir. Porém as bruxas subiam a montanha como se flutuassem. Quando chegamos ao topo entre a passagem, vimos como era cheia de curvas. Não tinha idéia de como aquele caminho ia acabar e nem onde ele ia dar, mas a canção das bruxas em fila indiana nos dava alguma idéia: era uma reunião. Andamos meio abaixados e lentamente. Sam começou a ficar enjoado de tantas curvas que davam naquele caminho entre as paredes de pedra. Não paramos nem um pouco por quarenta minutos.
- Isso aqui é um rio seco. – Kurt murmurou.
- E como você sabe? – perguntou Ryan.
- Por que as pedrinhas do chão são redondas. E por que as paredes são em formato de V.
- E por você sabe disso? – perguntou Sam.
- Por que eu sou nerd. – ele retrucou.
- E porque eu vou precisar saber disso? – eu perguntei, mas ele não respondeu.
Continuamos andando e ouvido aquela musica melosa de enterro por mais uma hora. Estávamos cansados. Já era uma hora e quarenta minutos de caminha vendo as mesmas paredes, o mesmo céu, a mesma lua, ouvindo a mesma música e a mesma respiração pesada dos meninos, com as mochilas pesadas.
A luz da lua tem o mesmo efeito em vampiros, do que o sol para humanos. Ela esfria a nossa pele e nos causa uma sensação boa, de paz e tranqüilidade. Aquela música começou a me dar sono. E o eco era irritante. Já eram três horas de caminhada, naquele passo lento. A caminhada de deu enjôo, pois o caminho era repleto de curvas. Acho que em nenhum momento andamos em linha reta. Tive a impressão de as paredes estivessem se afastando. Parei um momento e olhei. Estava errada, eu acho. Continuei a andar. Impliquei com a suspeita. Se isso era um rio, e suas margens se afastam, vira um lago... Então cabem muito mais bruxas, e se for este o caso, estamos com problemas.
- Como vocês pretendem acabar com todas essas bruxas?
- Se elas estiverem possuídas, nós fazemos um circulo de sal em volta delas, e exorcizamos – respondeu Ryan.
- Mas se forem bruxas vivas, então destruímos o livro mágico, e elas ficam sem fazer feitiços – respondeu Kurt.
- E se forem todas bruxas lendárias, que morreram há tempos e voltaram, nós fazemos os dois planos. – respondeu Sam.
- São todas boas opções... Mas em alguma delas, inclui ficar vivo? – eu perguntei sarcástica - Qual é! Mais de 100 bruxas contra três caçadores medíocres e uma vampira?
- Isso nunca é incluído no plano. – respondeu Kurt.
Minha impressão se agravou, junto com o eco a música, que aumentou de volume. Agora tinha quase certeza de que as paredes estavam se afastando. Antes que pudesse comunicar em voz alta o perigo, a altura das paredes diminuiu bruscamente, e acabamos em grande campo arenoso e seco, em volto de enormes muralhas de canyons do outro lado, que resultam em um antigo lago, com várias ramificações que eram outros rios, minhas possíveis rotas de fuga. Se não fosse, claro, pelo pequeno fato de ter mais ou menos, 300 bruxas, preenchendo cada metro quadrado do lago, que parecia uma piscina com aquelas muralhas em volta. Elas estavam em inúmeros círculos e ocupando as minhas três escapatórias, se reunindo em torno de uma fogueira de 4 metros de altura, com suas chamas roxas e reluzentes como seda. Minhas pernas ficaram moles. Ryan me pegou pelo braço e me puxou para trás de uma pedra que era um grande bloco, do tamanho de uma mesa, onde atrás dela estavam agachados Sam e Kurt.
Eu estava assustada. Aquelas bruxas eram apenas pequenas parte do coro de vozes, um lamento desconhecido. Os meninos estavam boquiabertos. Nunca tinha visto, ou ouvido algo igual. Por elas estavam lá? Por que a música de arrependimento? Por que elas estavam em volta de uma fogueira formando inúmeros círculos?Tantas perguntas, mas nenhuma resposta. Pelo menos não ainda.
Aquilo era grandioso de fato. Uma reunião de bruxas não pode significar boa coisa. Pelo menos não tem haver comigo. Muita coisa estava se passando agora, mas isso não pode ter nada haver comigo enfim. A não ser que e tenha perdido a conta de quantas pessoas eu enganei, extorqui e roubei. A música parou de repente. Todas ficaram em silêncio e abaixaram a cabeça. Uma bruxa, de vestido vermelho e lenço preto subiu em uma pedra a uns cinco metros da grande fogueira. Todos olharam para ela. A lua soprou um vento gelado, que esfriou até o fundo da minha alma, e apagou todas as velas que elas seguravam. Apesar da fogueira ser roxa, sua luz era branca como a da lua. A luz iluminava rostos e formas, nada mais. Não iluminava corpos, paredes, nem as poucas nuvens que voavam baixo. No lago eram apenas areia e pedras, nem um matinho vivo, apenas galhos secos intactos.
- Apenas pedimos perdão e renegamos a recompensa! – gritou a mulher de cima da pedra – Mas agora é tarde demais. Pedimos para aquela, cujo sangue é a chave e a lua a esperança, perdão!
Sangue é a chave? Isso definitivamente é coisa de vampiro. Nada é mais estranho do que bruxas pedindo perdão a vampiros! Isso é tão estranho que chegar ser engraçado! Elas tem ter aprontado a valer para estar se renegando. Bruxas e franceses tem algo em comum: eles são muitíssimos orgulhosos.
- Eu não acho que o nosso plano se estende a tantas bruxas! – sussurrou Sam, com os olhos fixos para a mulher de vermelho. Os meninos se entreolharam.
- Como pudemos ser tão estúpidas?- continuou a mulher de vermelho - Trouxemos aquele-que-nos-fez-mal de volta! Aquele que não gosta de satã! Satã agora quer algo dele, mas como negociamos com aquele-que-nos-fez-mal?
Silêncio. Do que raios aquela mulher estava falando?
- Nós fazemos hoodoo. – ela disse, explodindo uma gargalhada naquela multidão de bruxas.
Elas começaram concentradas a falar palavras em latim, em um tom que me dava medo. Vozes retumbantes como tambores, e vozes finas como pássaros faziam um coro que tremia algumas pedrinhas ao lado dos meus pés. Eu agachada, cai sentada. O que elas pretendiam afinal?
A fogueira passou do roxo para o púrpura. Um vento trouxe nuvens que tamparam a lua. Relâmpagos piscavam no céu. A fogueira começou a aumentar, erguendo – se para o alto, como uma planta procura o sol. Ela começou a ficar vermelha na base, roxa passando por um púrpura no meio e chamas brancas, quase tocando o céu. As vozes começaram a ficar mais altas, assim como os ventos, que já tinham bagunçado todo o meu cabelo.. Eu segurava forte a pedra, e apertava os olhos para não entrar areia. Os meninos o mesmo. Eu não sabia o que fazer. Nem eles. Só ficamos parados ali, assistindo aquele show de horrores.
A enorme fogueira iluminava as nuvens em um tom de cinza escuro incomum em uma noite de fim de verão. Um relâmpago iluminou o lago e um raio subiu da fogueira iluminando de branco tudo. Fechei os olhos, pois a luz era demais. Durou apenas dois segundos, depois escuro, silêncio e vazio. O lago estava vazio. Só havia nós e as nuvens, que ainda davam relâmpagos. No lugar da fogueira apenas uma moita queimada contorcida, com algumas brasas no centro.
- Para onde elas foram? – perguntou Ryan – Acabou assim? Elas somem e ficamos aqui? Perdidos?
Nós nos levantamos. Andamos um pouco procurando velas, panos, fios de cabelos, qualquer coisa. Nada.
De repente ao longe se ouve um grito continuo, agudo. Virei-me procurando o som. Os meninos faziam o mesmo. O aumentava como se tivesse chegando mais perto. Os sons estavam vindo de cima. Olhei e vi uma mulher caindo do céu, bem em cima do Ryan. Ele gritou tanto de susto quanto de dor. Chegamos mais perto dele a da moça, fazendo uma roda em volta de Ryan, estatelado no chão.
- É bruxa – eu disse – e consigo ouvir o coração dela batendo.
- Tira ela de cima de mim! – Ryan gritou.
Sam e Kurt arrastaram – na, e a deixaram deitada. Kurt analisou – a procurando ferimentos e lesões. Ryan se levantou meio cambaleante.
- Esta viva, e acho que não se machucou.
- É como eu sempre digo: vaso ruim não quebra, e muito ruim nem trinca. – disse Ryan tirando um facão da mala. Eu o peguei pelo braço.
- O que você acha que você está fazendo?
- Acabando com o trabalho.
- Como é que é?! Ficou maluco? Vai matá–la sem ela ter feito nada?
- Feito nada? Ela é uma bruxa, já fez algo! Ela pode ter roubado, hipnotizado, extorquido, matado, torturado... E já vendeu sua alma para o demônio!
- E pode ter salvado vidas também! Não vou deixar você matá-la!
- Ela tem razão, Ryan. Não é assim que resolvemos as coisas. Temos que ter certeza, e o que afinal foi essa reunião de doida! – disse Kurt se levantando.
Dei uma boa olhada na mulher. Ela era ruiva, branquinha e magra. Usava uma calça e uma blusa regata preta, sem o lenço que a adornava na cabeça.
- Acho que ela não estava na reunião de bruxas. – eu disse.
- Por que você acha isso? – perguntou Sam se agachando para analisá-la.
- Está faltando o lenço. Todas as bruxas, sem exceção tinham um lenço preto ou branco na cabeça.
Como uma pluma do céu, caiu um lenço negro ao nosso lado.
- Ou... Não.
A mulher começou a soltar gemidos e acordou assustada. Ela olhou para todos nós. Kurt e Ryan e pé e eu e Sam agachados ao seu lado. Ela não se mexia.
- Moça? Você ta bem? – Sam perguntou.
Como hipnotizada ela fixou seu olhar no meu.
- Midori! – ela gritou, e eu assustei, caindo sentada – Era você sim que estava aqui! Mas..O que você ta fazendo aqui?! Ai meu deus... Me desculpa! Mil desculpas! Não só de mim, mas de todas nós, – ela dizia desesperada, completamente aflita. Do que ela ta falando? – ele ainda estava... Por favor, me perdoa!
Ela se sentou de frente para mim.
- Você tem acreditar em nós! Você tem! – ela começou a ofegar – A gente não sabia!
- Saber do que? Do que você ta falando?
- Então você não sabe? – sua face se tornou confusa – Mas...
- Moça, qual é seu nome? – eu perguntei.
- Jennifer... Como assim? Ele disse que..
- Você precisa falar com calma, Jennifer. Do que você está falando?
- O Mitch!- ela começou a falar tudo atropeladamente - Nós que o trouxemos de volta. Ele disse que você sabia que tinha voltado, e você ia ao encontro dele e juntos iam ser rei e rainha, mas quando Lord pediu, nós não sabíamos que ele era mau, então nós o trouxemos de volta. E agora Mia quer te matar por que ela quer o trono! Me desculpa. Por favor! – seus olhos começaram a marejar.
Uma explosão de pensamentos passou na minha cabeça. Era tanta dúvida junta que nem sabia começar. Os ventos começaram a ficar mais fortes.
- Temos que sair daqui! Elas vão voltar!
- Quem vai voltar? – perguntou Sam.
- Mia e as outras! – ela se levantou e saiu correndo ladeira acima sozinha. Ela parou e olhou para nós – o que você estão fazendo ai parados!? Vamos!
Eu me levantei e começamos a correr. Entramos novamente entre as paredes de pedras.
- Pra onde a gente ta indo? – Kurt perguntou – E de quem estamos fugindo?E por que?
- Estamos indo pra longe, pra longe da Mia e por que ela é a Midori e vocês são caçadores!
- E como você sabe? – perguntou Ryan.
- Por que você está com um facão na mão.
Como se não bastasse ter que andar todo o caminho, temos que voltar correndo. Os ventos aumentaram e os relâmpagos também. Uma grande luz saiu do céu, para o chão provavelmente do lago, como um grande raio. Os ouvidos zumbiam com o forte vento que vinha do lago, nos empurrando para frente. Começamos a correr mais rápido. Com o canto do olho, olhei para trás. Uma enorme bolha de luz saia do lago e aumentava rapidamente, tudo sumia quando era engolido pela claridão. Não queria saber o que estava dentro da bolha e nem pretendo descobrir.
- Mais rápido! - Jennifer disse.
A bolha já estava a uns cinqüenta metros de nós. Era difícil correr naquele caminho de rato, pelas curvas que a trilha fazia e as pedras no caminho eram difíceis de desviar. Olhei para trás novamente e a bolha só estava a dez metros. Estava cansada. Eu nunca corri tanto na minha vida. Eu tropecei, mas me levantei rapidamente. A bolha estava quase nos alcançando. Meus pés doíam muito.
Minha sombra tinha sumido de tão perto que a bolha estava.
- Não vamos conseguir! – gritou Sam.
- Vamos sim! – gritou Jennifer.
Agora era linha reta até o fim. A bolha era fria e já pegava nos meus calcanhares. O fim estava próximo, agora era tanto da bolha quanto do caminho. O fim do rio era uma ladeira. Quando chegamos ao fim da trilha rolamos ladeira a baixo, na frente de uma nuvem de poeira. Com os pequenos segundos que eu pude ficar com os olhos abertos, pude ver a bolha retrair rapidamente. Cheguei ao final da ladeira, perto já do rio, toda ralada. Levantei-me resmungando. Olhei para Os meninos e para Jennifer, todos igualmente ralados e sujos. Minha blusa de lã norueguessa verde, ombro a ombro com uma blusa preta de alçinha por baixo, estava tão suja que nem pareciam ter custado 400 dólares. E minha calça legging então... Virou uma calça arrastão, de tantos buracos. Meus sapatos... Bom, Sask’s pra trilha não é bom, eu perdi um pé e arrebentei o outro.
- Definitivamente, eu preciso comprar roupas baratas pra andar com vocês! Caramba é a terceira roupa que eu estrago!
- É melhor sairmos daqui. – disse Jennifer.
Fomos correndo (mancando) para o carro. Ryan ligou o carro e voltamos para a cidade.
- Jennifer, você precisa me explicar melhor essa história.
- Claro... Então vocês são daqui? – ela perguntou para os meninos.
- Não. – Sam respondeu – Por quê? Você é?
- Não. E acho que como fiquei para trás não vou ter onde dormir essa noite. Quando vamos a convenções de emergências não costumamos a levar bolsas...
Os meninos olharam para mim.
- Que foi? – eu perguntei. Eles não seriam doidos de pedir que divida o meu quarto com essa bruxa desconhecida, não é?Bom, mesmo assim eu não tenho muita escolha... – Ta bom... Jennifer, você pode dormir no meu quarto.
- Ah! Obrigada! E eu aproveito e conto tudo sobre o...
- Eu já entendi Jennifer.
- Mas pra onde vocês estão indo? Caçadores e vampiros juntos só não pode ser coisa boa.
- Estamos indo para Atlantic City.
-Mas o Mitch está em Atlantic City... Aaah! Entendi. Então vou com vocês.
Os meninos protestaram. Óbvio!Que garota folgada!
- Como é que é? – Engasgou Kurt
- Uoou garota vai com calma ai... – Ryan disse parando o carro no meio da rua escura deserta.
- Eu sei o que esse cara aí pode fazer. E eu também sei como detê–lo.
Eu abri a porta do carro e sai antes que acabasse batendo nela. O que essa garota está pensando? Ela é bruxa, é pirralha, se acha a tal, é mandona e principalmente parece sabe mais da minha vida do que eu. Tudo estava acontecendo muito rápido. Ryan ligou o carro e devagarzinho foi seguindo ao meu lado. Ryan abaixou o vidro.
- O que foi?Ela também te irrita? – ele cochichou.
- Mais ou menos. Eu só preciso de um pouco de ar, ok?
- Qual é!? Você é vampira! Nem sei se vampiros respiram...
- Claro que respiram! – eu disse rindo. Que coisa boba...
- Então entre no carro. Não sei se conseguimos ficar com essa aí sozinha.
- Se você só vocês dois aposto que você conseguiria.
- Disso todos sabem.
Eu entrei no carro de novo.
- Tudo bem com você, Mimi? – ela perguntou. Que garota ousada!
- Que tal não me chamar de Mimi? Eu mal te conheço...
- Ah. Claro.
Andamos cinco minutos em silêncio.Todos estavam cansados. Não dormíamos há quase 24 horas. Ryan estacionou e saímos do carro. Cada um foi para seu quarto e Jennifer foi até o meu. Logo que fechei a porta eu perguntei:
- Pode começar a falar. – eu disse me sentando na cama. Ela sentou ao meu lado.
- Ahn... Sim. Vejamos por onde começar...
- Você falou que um ´´Lord´´ pediu para fazerem isso.
- Claro, Lord Krassen, pai de Mitch.
Eu já tinha ouvido aquele nome. Me perdi em meu passado, voltei naquela noite.