sábado, 24 de janeiro de 2009

Capitulo 4

1940. Eu lembro que chovia muito. Era uma noite de tempestades. O hospitais na época eram cheios de médicos, terminando a faculdade as pressas para a guerra. Fui a primeira a ser atendida. Tinha entrado em trabalho de parto em uma madrugada. Meu querido Mitch e eu íamos ter a nossa primeira filha, em segredo. Apenas a família dele sabia. Para o governo do hospital, eu era casada. Mas na verdade, era apenas noiva. Sempre achei feio mulheres entrarem na igreja com um barrigão. Parecia que ela iria se casar somente para poder criar o bebê. Mas no meu caso não. Eu ia casar, já com uma filha. Faltava um mês para o meu casamento com meu querido Mitch.
- Vamos querida empurre. Eu sei que você consegue. Você é forte. – ele segurava minha mão.
Era parto natural. Eu fazia toda a força do mundo. Eram pessoas falando comigo. Eu suada, e usando todas as minhas forças, para minha primeira filha nascer. De repente, silêncio. E logo em seguida choro.
- Parabéns senhora Wodsen, é uma menina.
Como o meu querido Mitch disse que seria. Uma bela menina. Foi ele que suspeitou que eu estava grávida. Mitch, e agora minha filha, são tudo que eu preciso. Colocaram – na no meu peito. Enrolada em uma toalha branca com um bordado de uma rosa vermelha, que destacava aquela criançinha cor-de-rosa.
- Oi minha criança – eu sussurrei. Ela parou de chorar. Ela abriu os lindos olhos azuis como o mar.
- E então querida, já escolheu o nome?
- Sim. Vai se chamar Emma. Emma Van der Wodsen.
- Mas e o seu sobrenome?
- Ah!Deixa pra lá!Não combina mesmo...
Tiraram Emma de mim, para limpar e pesar. O médicos levaram Emma para outra sala.
Eu achei estranho.
- Por que em outra sala? Eles não podem limpá-la aqui?
Mitch segurou a minha mão.
- Já vão trazê-la. Estou orgulhoso de você. Você é muito corajosa.
Eu sorri.
- Mesmo assim. Procure - a Mitch, por favor.
- Claro. – ele beijou a minha testa, e saiu.
Eu estava tão cansada que acabei dormindo. Mitch voltou horas depois. Já era de manhã, mas nem parecia.Ainda estava chovendo forte.
- Eu ainda estou orgulhoso de você. – ele acabou me acordando.
- Oi, querido. – disse esfregando os olhos – onde está a Emma?
- Os médicos queriam te contar, mas achei melhor eu. Médicos são muito frios.
Achei estranho, o tom e jeito direto que ele falava. Fiquei preocupada. O que aconteceu com a minha filha?
- Emma nasceu prematura de 4 semanas. Nasceu com problemas respiratórios.
- Mas ela vai ficar bem, não vai? - Mitch estava calmo. Não estava chorando. Tinha apenas dó, estampado em seu rosto. Dó do meu estado.
- Ela nasceu muito pequena, muito fraca. Não conseguiram fazê-la respirar direito. Ela não agüentou.
- Você quer dizer, que a nossa filha...
Eu comecei a chorar. Chorei como se fosse o último momento da minha vida. Minha filha havia morrido. Mitch me abraçou. Mitch era forte e não chorou, ele era mais forte que eu. Apesar de eu ter chorado, ele me fez mais forte, mas mesmo assim, não tanto.



Eu fui andando de costas até a porta, e saí correndo. Rápida como nunca.
- Para onde ela foi? – disse Sam, que passava a mão na garganta olhando para o corredor.
- Só tem um jeito de saber. Você! – disse Ryan apontado para Joey.
- Quem, eu? – disse Joe, que estava totalmente desligado, ainda tentando se soltar do grande garfo em seu pescoço. – eu só a conheço, sabe... Eu a conheci ontem pra falar a verdade.
- Mentira! – gritou Sam – Para onde ela foi!? – ele disse batendo na parede com o punho fechado.
Sam tirou do casaco uma seringa com sangue de cadáver (Sério, quantas seringas esses caras têm!?). Encostou no pescoço do Joe.
- Se a gente perder a Midori de vista será você que a gente vai entregar pra esse tal de Wodsen.
- Ok, ok. Ela provavelmente foi até a filha dela. No cemitério Molly Garden.
- Cemitério?
- Emma era a filha dela, que morreu no parto, há 67 anos. E Mitch era o pai. Que também era vampiro, e teoricamente, quando ele transformou a Mi em vampiro, ela o matou.
- Então ela não é louca?
- Claro que não!Eu ia ao casamento dela, mas perdi o navio. Quando eu cheguei no dia seguinte, soube que a igreja tinha pegado fogo, e todos haviam morrido. Naquela época era difícil achar e identificar os corpos. Mas... Coisas começaram a acontecer e eu comecei a procurá-la. Eu a achei dois messes depois, em um beco, em Seattle. Ainda renascida, ela estava suja, com fome e molhada, e prometi que eu ia ser o Sire dela.
- Então você é o... Sire dela? Não namorado, nem primo, nem nada dela?
- Não! Ela não tem mais família, somente eu. Ela sempre foi muito independente, apesar disso.
Sam tirou o garfo do pescoço dele. Eles saíram atrás de mim.




Chovia forte. Eu estava ensopada, e a grama pinicava minha perna. A lama começava a entrar nas minhas unhas. Eu cavava sem parar. Na lápide já antiga e com manchas de musgo, quase não se podia ler: Emma Van der Wosden. 1940. A letra era miúda e meio apagada pelo tempo, mais ou menos como o que esperava ver dentro do caixão.
Comecei a ter visões da minha filha de todos os jeitos que eu gostaria que ela fosse. Indo pela primeira vez na escola, de Maria Chiquinha, saia xadrez e uma blusa pólo branca. Brincando de bonequinhas de porcelana, todas que eu pudesse comprar. Tomando sorvete sábado de manhã comigo.
Eu estava tão cansada de cavar que comecei a chorar. Não conseguia parar. Tinha que vê-la. Ver se Mitch está de volta, e com a minha filha. Se é tudo uma ilusão. Tenho que descobrir a verdade. Cavei por uns quarenta minutos. Até que achei o caixão. Nessa exata hora um carro chegou ao longe. Não quero nem saber quem era. Desenterrei o pequeno caixão. Ele era mogno, todo fechadinho. As pessoas andaram em minha direção. Arranquei a tranca do caixão. Meu coração estava aos pulos. Abri, e estava vazio. Apenas forrado com um pano branco, agora sépia. O caixão parecia rir de mim, ali, aberto e vazio. Minha filha nunca esteve naquele caixão.
Exausta e com sede, me sentei no buraco que eu cavei. A chuva fria caia no meu rosto. Em pé fora do buraco estavam os três irmãos Sullivan, olhando para mim, juntando os fatos. Eu não sabia se estava feliz, por minha filha, de algum modo estaria viva, ou brava com Mitch que me tirou meu sonho, minha filha, um pedaço de mim, e fez sei-lá-o-quê.
- Minha filha nunca esteve aqui. - Eu parei por um momento. – Até nisso ele conseguiu. Trazer-me até o velório. No velório de ninguém. Todos esses anos... Trazendo flores, derrubando lágrimas, para ninguém! – os três ficaram olhando com dó de mim, com guarda chuva sem saber o que fazer. – Ela está viva...
- Vamos, você está toda suja e molhada. Além do mais, vai clarear daqui a pouco – disse Sam estendendo a mão pra mim. Eu peguei e saí do buraco. Kurt colocou o guarda chuva em cima de mim. A chuva grossa caía sobre o cemitério. Eu estava com frio, por que eu só estava com um casaco por cima do meu pijama da Chanel. Bom, era um pijama, agora é apenas uma calça capri e uma camiseta baby look com estampa de sapinho, cheia de lama e grama.
Entramos no carro. Antes de me sentar, Ryan pegou toalhas no porta malas, forrou o banco, e me deu outra toalha para me secar. Notei que o carro era maior, diferente.
- Agora você precisa explicar essa história direito. – disse Kurt.
- Eu não quero falar sobre esse assunto agora. – disse curta e grossa. Notei que não estava mais chorando. Minhas mãos começaram a formigar. – Meninos, eu vou até Atlantic City com vocês.
- Você... Vai? – disse Sam. Ryan estava dirigindo. Entramos na estrada.
- Vou. Mas primeiro quero pegar as minhas coisas e me despedir do Joey.
- Tudo bem. – disse Ryan com ar de ‘‘isso foi muito fácil’’.
Fiquei quieta a viajem toda. O dia estava clareando quando chegamos ao Hotel. Subi para o meu quarto, enquanto os Sullivan ficaram no saguão do Hotel. Estava tudo arrumado, pois a camareira deve ter vindo. Fechei todas as janelas. Infelizmente estava um dia ensolarado. Eu tomei um bom banho, fiz um bom lanche, e empacotei tudo. Joey bateu na porta do meu quarto.
- Vamos pra onde, flor? – ele estava irresistivelmente lindo com camisa azul, aberta, com uma regata branca por baixo e calça jeans. Ele diz ter ´32´´, mas eu acho que ele foi mordido com 25.
- Não vamos. Eu vou, com eles.
- Como é que é?!Ficou maluca?! – Ele disse mal se sentando na cama.
- Você mesmo disse para eu ir! Por que está se fazendo de desentendido?Afinal, quero tirar essa história a limpo.
- A Emma...
- Não estava lá. E eu vou saber o que aconteceu com ela.
- Eu acho muito corajoso da sua parte ir, mas... Sei lá! Acho que Mitch quer tirar essa história a limpo também. Você aprontou muito também, já te falei um monte de vezes que...
- Eu sei o que eu fiz ta legal?E também sei quantos parentes dele, que não vieram na cerimônia e sabiam o que ele ia fazer, eu matei. Não adianta mais sermão. Eles também eram a minha família...
- E também me traíram! Eu sei, sei... Mas tenha cuidado ok?
- Claro que eu vou ter, afinal, você me ensinou tudo o que eu sei. – eu disse fechando a minha quinta mala .Agora eram cinco malas, uma nécessaire e uma geladeira térmica, com tudo que eu preciso de sangue.
- Mas não ensinei tudo o que eu sei. – ele me abraçou. Eu abracei de volta. Respirei fundo e senti aquele cheio gostoso de.. Joe. Ele me soltou.
- Ah! Quase esqueci! – ele colocou a mão no bolso – aqui está um sache inut. Assim você sempre vai sentir minha presença.
Aquilo de fato não parecia ser um sache, pois afinal era uma correntinha com um de coração de metal com strass. Mas, assim que eu coloquei senti aquele mesmo cheirinho gostoso dele.
- Adorei! Nem parece um sache! Obrigada Joey.
- Dentro do pingente tem uma flor-de-noiva. A flor mais poderosa da religião pagã. Ela atrai quem você quiser, dependendo do ritual. Pode atrair desde pessoas, até demônios e deuses.
Coloquei as malas no carrinho bagageiro que estava no corredor. O moço das malas já estava lá. Eu desci de elevador. Ver Joey do lado de fora do elevador, e a porta se fechando, me partiu o coração. Entrei no saguão.
- Todas essas malas são suas e de mais quem? – pergunto pasmo, Ryan.
- Minhas. São todas minhas – duuuh! De quem mais seriam?
Quando saímos do Hotel eles entraram em um Mitsubishi Montero preto. O homem das malas colocou as minhas no porta malas, que estava vazio. Entrei o carro, e logo perguntei.
- Vocês podem me explicar de novo como é que vocês trocaram de carro assim, do nada?
- Ah, aquele carro? Era alugado. Esse aqui que é realmente o nosso.
Legal, gastei meu único sache hodoo em um carro alugado. Ninguém merece!

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