domingo, 25 de janeiro de 2009

Capitulo 10

Dor, muita dor pelo corpo inteiro. Não conseguia me mexer. Havia muito barulho de gente falando e correndo. Eu estava sobre uma mesa acolchoada com rodas, andando, balançado freneticamente. Abri os olhos e vi branco. Branco do teto com luzes redondas ainda mais brancas passando pela minha cabeça. Havia várias pessoas vestidas de branco, com toucas e máscaras chamando meu nome.
- Senhora Wodsen? Você está acordada?Senhora Wodsen? – uma mulher negra repetia.
- Mais 3 ml de vicodin. – um homem ao meu lado disse.
- Ela acordou Doutor Robert. – a mulher disse.
- Senhora Wodsen? Há alguém para chamarmos? Algum contato? Senhora Wodsen, você me ouve? Há alguém para chamarmos? Você tem alguém? Você não está no registro, por isso precisamos de algum contato para avisar que você está aqui!
Eu estava em um hospital com corredores estreitos que faziam eco. Não me lembrava o que aconteceu. Nenhum acidente. Nada. Apenas aquelas vozes repetidas na minha cabeça com um eco enlouquecedor.
- Há alguém para chamar? Você tem alguma família? Senhora Wodsen? Senhora acorde!
Eu realmente acordei. Na minha cama em Green River, com sol entrando pela janela. Era um pesadelo. Apenas um pesadelo. Jennifer saiu do banheiro.
- Sonho agitado? – ela perguntou. Já estava trocada, a cama dela arrumada, havia um copo de sangue no criando mudo – os meninos já estão chamando. Achei umas roupas molhadas na sua mala, fui na lavanderia e as sequei na secadora. Não encolheu, relaxe.
Eu me sentei e esfreguei os olhos para me certificar que eu tinha saído daquele sonho horrível. Fiquei ali parada por alguns instantes. Aquele sonho era extremamente estranho não pelo o que nele estava contido, mas nele em si. Eu não sonho há anos. E todos os meus sonhos depois de vampira eram quase iguais. Ou era sobre a minha filha ou esse, no hospital.
- Midori. Você parece um tanto abalada. Conte-me sobre esse sonho, eu sei ler até os mais complicados.
- Não. É melhor irmos. – Eu me levantei e entrei no banheiro. Tomei banho, joguei as roupas de ontem no lixo. Tomei o copo de sangue que Jennifer fez para mim, lavei – o ( por é quase todo dia que a camareira pega para lavar um copo com resquícios de sangue, não é?), e me arrumei, fiz as malas e liguei para a portaria levar as minha malas. Entrei no carro. Dois minutos depois, o mesmo cara de ontem pegou as minhas malas e as colocou no porta malas. Os meninos estavam alegres e acordados, enquanto eu estava meio de mal humor.
- A próxima parada é em Clifton para almoçar.
- Almoçar? Que horas são? – eu perguntei.
- Quase uma hora. – disse Kurt – dormiu demais ou acordou muito cedo, Midori?
- Haha, que engraçado você. – sinceramente essa gente não têm boas piadas.
Por toda a viagem Jennifer e os outros conversaram bastante e até riram bastante. Eu fiquei quieta toda a viajem, olhando pela a janela. Aquelas vozes, as luzes, a dor. Eu senti, eu não sonhei, aquilo realmente aconteceu, era real demais para ser sonho.
- Jennifer – eu disse espontaneamente, todos ficaram quietos, surpreso pela minha fala – eu quero que você leia o meu sonho.
- Você lê sonhos? O Kurt tinha pesadelos constantes quando era pequeno. Com um...
- Nossa, é verdade. Com o monstro de madeira.
- Calem a boca, crianças.
- Ahn... Claro, pode falar.
Eu contei até os mínimos detalhes.
- E ela ficava repetindo Senhora, há alguém para chamar?Algum contato? Senhora...?
- E havia? – ela perguntou.
- Havia o quê?
- Havia alguém para chamar?
O que mais me surpreende agora não é mais o sonho, e sim a resposta daquela pergunta: não. Não é sempre que Joey está comigo, e ele tem a vida dele. Às vezes ele some por dias! Não há ninguém para eu chamar. Ninguém que se importe se eu estou bem, se eu estou viva, ou com problemas. Eu não tenho ninguém. Eu... Sou só. Continuei a olhar pela a janela.
Melhor relaxar, por que afinal sonhos são bobos, pura besteira se preocupar com eles. Sonhos entram em ação para o cérebro organizar informações na memória, e decididamente, eu tive um dia cheio de informações ontem. Foi a primeira noite depois da notícia de que Mitch havia voltado. Não vou mais me preocupar com isso.
Passou-se meia hora depois do que eu falei, e chegamos a Clifton. Cidade do interior, bem maior que as outras que paramos. Mais casas, ruas pavimentadas, casas e pessoas nas ruas. Pessoas caipiras, claro.
- Então Jennifer, o que você vai querer comer? – Ryan parou o carro no acostamento, na frente de um quiosque, onde tinha vários pequenos restaurantes, um do lado do outro – Comida italiana, panquecas, donut’s, pretzels, comida australiana, tacos ou Mc Donalds?
- Comida australiana eu acho que nunca comi. – Ela disse, confusa com as ‘deliciosas’ opções. Não posso culpá-la.
- Então é comida australiana mesmo!
Eca. Sem comentários. Hoje em dia humanos comem muita porcaria. O sangue de 60 anos atrás era de melhor qualidade do que os de hoje. Vampiros estão engordando com a quantidade de gordura, colesterol, antioxidantes, estimulantes, sal, açúcar e vitaminas em excesso, sem falar das drogas. Outra vantagem de apenas tomar de banco de sangue. São sangues selecionados de boa qualidade, do jeitinho que eu gosto. Saímos do carro. Eu fui quase encostada na parede, andando pela sombra. Os meninos, pelo sol. Essa é nossa maior diferença. Às vezes me esqueço disso.
Entramos no restaurante australiano. As paredes eram de uma cor terracota e havia pelúcias de coalas e cangurus logo na entrada. Quadros e pinturas enfeitavam as paredes. O restaurante era um tanto escuro e abafado. Havia mesas de fast – food, como outro qualquer restaurante. Agradeço todos os dias que eu não consiga sentir cheiro ou gosto de comida humana. Sentamos-nos e pediram comida. A cada dez opções no cardápio, onze eram com pimenta.
- Como vocês escolhem mal a comida, credo!
- E você é muito fresca. – disse Ryan com a boca cheia. Ele tinha um prato cheio de batata frita.
Aquela comida amarela me deu um nó no estomago. A única comida que aparentemente prestava ali, era a de Jennifer, que pediu salada. Todos estavam conversaram e minha cabeça girava com aquelas bolhas de gordura saltando das onions rings. Jennifer esticou o braço e pegou algumas batatas e comeu. Os meninos paralisaram.
- Ei! – Ryan questionou. – Essa batata ai era minha!
- Ah não Ryan, você não vai brigar por algumas batatas, não é? – ela disse.
- Escuta não é minha culpa você ter escolhido salada, mas pegar a minha batata?!
- Grande coisa! São batatas! – ela argumentou.
- O problema não são as batatas, mas o que elas significam para mim!
- E o que raios elas significam para você, Ryan?! – Jennifer exclamou.
- É tudo comida!
- É verdade, Jennifer, o Ryan não divide comida – disse Sam.
- Faça isso de novo, e é capaz de você perder alguns dedos. – Ryan comentou.
- Isso é ridículo! – aquilo já estava me matando.
- Eu vou ao banheiro, com licença. – eu disse.
- Hm! – Jennifer murmurou com a boca cheia, depois de engolir, disse – Eu vou com você.
Levantamos-nos e entramos no banheiro. Eu usei o toalete e Jennifer também.
- Essa comida é boa pelo menos? – eu perguntei curiosa, e mudando daquela ridícula discussão.
- É. Mas achei que não se interessasse pela vida dos humanos.
- E eu não me importo. Mas, não sei. Aquilo é tão cheio de gordura. É definitivamente uma péssima escolha. – eu saí da cabine e fui lavar as mãos.
- Nem todo mundo que come gordura todo dia passa mal. Ryan come e é um palito. – ela saiu da cabine.
- Mas o colesterol deve ser alto. Estou falando, essa escolha de comida é o último erro que você vai perceber que fez.
- E você? – ela abriu a torneira para lavar a mão – Qual foi seu último erro?
Fiquei pensando por um tempo, enquanto as minhas mãos se lavavam.
- Aceitar uma rosa – fechei a torneira.

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