domingo, 25 de janeiro de 2009

Capitulo 6

Senti minha respiração voltando. Eu estava na sombra, e estava no frio. Senti que havia um cheiro de metal no ar, e estava semi submersa na água com cubos de gelo. Aquilo era muitíssimo refrescante. Toda minha pele estava formigando, e acho que nunca senti tanta fome na minha vida. Abri os olhos e não reconheci onde eu estava. Deitada com as penas dobradas na minha barriga, dentro de uma caixa de metal branca com duas tampas de vidro no teto, e uma delas estava com uma fresta com um ar quente que ardia meus pés. Do lado de fora, o vidro estava coberto por uma jaqueta e também tinha... Bom, alguém sentado encima do vidro acima da minha cabeça. Mas o que eu estava fazendo aqui? Onde eu estava?
Eu bati no vidro e o homem saiu de cima da caixa. Quando ele abriu a janela, vi que era Kurt. Eu me sentei e fiquei somente com a cabeça para fora da geladeira. Estava extremamente quente lá fora, mas algumas árvores faziam uma boa sobra em mim. Já devia ser 15:00 horas.
- Você sobreviveu?Que pena... – ele disse com um sorriso de alívio.
- O que... Como eu vim parar aqui?
- Eu achei que você que tinha morrido, por você estava toda pálida, quase azul, mas Sam insistiu que você estava viva. A gente te pôs no carro e não achamos nenhum hotel aberto, então te colocamos ai
Olhei a minha volta. Era os fundos de um restaurante-hotel, e eu estava dentro de uma geladeira de sorvete do lado de fora. Foi então que eu notei que eu estava de roupa. Minha linda calça skinni preta com barra de tecido de zebra Calvin Klein, minha blusa branca de manga comprida, ombro a ombro branca com duas tiras xadrez preta como alçinha da Dolce & Gabanna, e minha calçinha e sutiã da Victoria Secret’s estavam esse tempo todo, submersas no gelo. Mas os meus pés tocavam o fundo liso da geladeira. Pelo menos eu estava sem sapatos, né?
- Cadê meus sapatos da Sask?!
- Sam insistiu em tirar. Ele achou que você ia ficar louca da vida de a gente te colocasse aí com sapatos. Ele namorou a Susan e ela era toda fresca...
- Bom, eu estou louca da vida por vocês terem me colocado vestida de Victoria Secret, Calvin Klein e Dolce&Gabanna no gelo, e só terem salvado meu sapato! – Kurt não respondeu, acho que ele nem saberia responder essa – Mas tudo bem, vai... Melhor que vocês tirarem minha roupa ...
- Foi o que Ryan sugeriu... - nem vou comentar – Precisa de alguma coisa?
- De sangue. Muito. Pode me trazer uns três litros.
- Midori, sobre isso eu preciso te contar uma coisa...
Nunca vem coisa boa depois de ‘‘preciso te contar uma coisa’’...
- Enquanto a gente te salvava, parece que tinha outro vampiro na cidade, e...
- E...?
- Ele sentiu o cheiro da sua mini geladeira e roubou quase todo o seu sangue.
Sem pânico, sem pânico, sem pânico.
- Como é que é!? Eu fico inconsciente 5 minutos vocês deixam minha comida ser roubada?!
- Na verdade você está aqui há quase duas horas...
- Como isso aconteceu? Eu empacotei tudo! Tudinho estava em volta de um saco plástico, dentro da maldita geladeira, dentro de outro saco com gelo, dentro de uma das malas!Nem eu conseguia sentir o cheiro de dentro do carro! – eu me levantei rápido – Vocês viram...
Uma escuridão de tomou, eu apaguei. Senti o chão de terra no meu rosto. Ele estava morno, me senti fraca, não conseguia levantar nem o meu pescoço. Kurt chegou mais perto e segurou minha cabeça do chão.
- Sam! Ryan! – gritou Kurt. – Sam! - ninguém veio. Kurt segurou minha cabeça. Colocou a mão no bolso de trás e tirou um canivete.
- O que você está... Fazendo?- eu murmurei.
- Te salvando.
Ele cortou o meio do antebraço, em um corte não muito fundo, mas o suficiente para escorrer. Ele colocou o corte próximo da minha boca.
- Kurt, não... – eu disse, embora meu estômago estivesse gritando Sim!Sim!Sim!
- Tome, mas não tudo. – ele ainda disse sorrindo.
Fazer o que!? Eu tomei. Acho que foi 500 ml (e pelo gosto, o sangue dele é A negativo, o mais forte), o suficiente para me levantar.
Ele enrolou o braço num pedaço de pena velho que estava ao lado da geladeira.
- Obrigada. – eu disse – Acho que apesar de você ser durão, não confiar em mim e me odiar, você é carinhoso.
Ele ficou me olhando com cara que não entendeu nada do que eu disse.
-Eu? – ele perguntou pasmo – Carinhoso?
- Já coagulou você já pode tirar o pano. – eu disse sorrindo.
Kurt saiu e foi até o carro pegar uma mala, já que eu estava molhada até os ossos. Notei que a minha blusa branca estava transparente. Ele deixou a minha mala no chão e me deu licença. Certifiquei-me que podia me trocar ali, no ar livre. Agradeci por ter somente mato a minha volta. Eu me sequei com uma toalha na minha mala e coloquei as roupas molhadas com terra dentro de um saco plástico. Nem acredito que fiz isso. Vou usar a máquina de secar na próxima cidade que passarmos. Prendi o meu cabelo molhado mesmo, peguei a jaqueta de Kurt, que ele esqueceu em cima da geladeira, e também peguei a minha mala. Fui até o carro, e lá estava bem frio, do jeito que eu gosto. Sam e Ryan estavam no carro, e já tinham enchido tanque. Estavam pronto para sair. .Kurt estava me esperando do lado de fora do carro. Antes de chegar no carro eu disse:
- Sobre o que houve lá dentro... Agora vou poder seguir você, sentir você, e escutar você de distâncias absurdas... E você também vai saber como me achar. Estaremos conectados para sempre. Quando você cortou o braço, você pensou no que estava fazendo?
- Você pensou no que estava fazendo quando tomou o meu sangue? – ele disse, e entrou no carro.
Para falar a verdade, ele tem razão. Eu não pensei no que ele estava fazendo, nem ele. Agora só falta descobrir se isso foi um erro, ou uma salvação. Entrei no carro e voltamos para a estrada. Coloquei a jaqueta do Kurt ao meu lado. Ele usava uma camisa branca simples, mas ficava muito bem nela. Sam começou agora a montar o notebook. Aquele monte de metais e plásticos era o que me salvaria, pois só assim eu saberia onde tem hospitais, para roubar sangue.
- Enquanto você estava inconsciente, eu terminei de consertar.
Ele apertou os parafusos e ligou o notebook. Funcionou normalmente. Ele se conectou internet e usou um tal de ´´Google Earth´´, um mapa por satélite, onde mostrava um monte de instalações. O hospital mais próximo era e Beaver, 27 quilômetros de Paragonah.
No meio do deserto quente, com apenas areia vermelha e cactos de diferentes tamanhos com flores, que vão do vermelho sangue, ao rosa chiclete. Começa uma grama verdinha, como um oásis. Ali tinha um rio, ou provavelmente um lago, pois começou a ter cerquinhas. Ao lado direito da estrada, começou a passar casinhas, várias. Ali era mais uma cidadezinha de fim de mundo. Passou um retorno para a cidade. Logo depois, passou uma plaquinha ‘Bem – Vindo a Benver! 2 461 habitantes’ e em letras azuis ‘‘último retorno’’.
- Pára o carro! – eu gritei. Ryan freou o carro, e todos se inclinaram para frente bruscamente.
- Que foi sua louca?! – ele perguntou bravo para mim.
- Beaver é aqui. - Eles olharam para a placa de retorno.
Ryan deu um suspiro mal humorado. Virou o carro.
- Precisa assustar a gente desse jeito, mulher?!
- Se eu não assustar, perde a graça.
Sam conseguiu o endereço. Chegamos no lugar 20 minutos depois de ter saído de Paragonah.
- Volto logo – eu disse já saindo do carro.
- Você vai sozinha? – perguntou Sam – ter certeza que sabe fazer isso?
- Isso Sam, é o que eu faço de melhor. - disse rindo.
Eu entrei no hospital.


- E se ela fugir? – perguntou Ryan – Se a gente perder a garota de vista, já sabem. É a nossa cabeça que vai rolar.
- Ryan tem razão. Ela vai fugir. Não devemos ir ao hospital ajudá-la? – perguntou Sam.
- Mas e se ela voltar? Ela vai ficar brava, caso nós atrapalharmos o roubo. E se ela for presa?
Aí já era.
- Ela não vai fugir. – cortou Kurt.
- E como você pode ter tanta certeza?
- Por que eu tenho. Sei lá.
- Kurt... – disse Ryan com voz de sabe que aí tem.
- To falando que ela não vai fugir!
- O que aconteceu enquanto você estava lá tomando conta dela? – perguntou Sam se inclinando para frente. Ele é um cara esperto, por incrível que pareça.
- Nada. Ela me chamou quando acordou, e eu trouxe a roupa para ela e voltamos.
Ryan e Sam olharam para Kurt, com cara de quem não está acreditando.
- Claro. – Sam encostou de novo no banco de trás.
- Óbvio. E esse corte no seu braço é mera coincidência – disse Ryan.
Afinal ele estava sem jaqueta, então foi meio óbvio.
- Ela é materialista. Todas as coisas dela então aqui no carro, por isso eu acho que ela não vai fugir. – os meninos ficaram quietos – E outra coisa Sam, ela está brava por você só ter salvado o sapato dela, porque tudo que ela estava usando era de marca.
- Tudinho? – perguntou Ryan curioso.
- Tudo – repetiu Kurt.
- Não disse que meu plano era melhor?! – disse Ryan bravo.
Eu voltei do hospital correndo com uma mini geladeira cheia de delícias AB. Entrei no carro.
- Cheguei! – eu disse toda feliz.
- O que aconteceu no banheiro quando você acordou? Por que Kurt ta com corte no braço? – perguntou Ryan todo atropelado.
- E como você conseguiu todo esse sangue? E por que você não fugiu? – perguntou Sam.
Que interrogatório todo é esse?! Pois é... Acho que tenho a leve impressão de que eles não confiam em mim.
- Eu... Preciso de um advogado? – nenhum deles respondeu.
Eu cheguei super feliz, e esses caçadores sempre sabem de um jeito para acabarem com a minha felicidade. Essa semana vai ser difícil, caso eu sobreviver a ela.
- Vamos embora, se não nós nunca vamos chegar a Green River. – disse Kurt.
Ficou aquele silêncio chato a viagem toda. Eu fiquei meio chateada com todo aquele interrogatório que houve quando entrei no carro. Se eu vou passar uma semana inteirinha com eles, eles terão que começar a acreditar mais em mim. Passou uma placa, enfim, após mais três horas de viagem,´´ Bem- Vindo a Green River´´.
Finalmente todo aquele tédio, silêncio, tensão, e cansaço iriam acabar. Pelo menos por hoje. Minha nuca ardia com o fim de sol que vinha de trás do carro, já que a estrada era em sentido oeste – leste. Relaxei a ver a linda paisagem lá de fora. No deserto de areia branca, matinhos cor de caramelo nascem salpicados entre as rochas cor de creme iluminados pela cor vermelha do sol qual fazia uma mancha no céu que acaba em um azul profundo acima de nossas cabeças. A lua cheia se escondia do outro lado, atrás dos canyons depois de Green River. Os canyons eram cor púrpura no chão e laranja – vermelho no topo, refletindo o sol. Ao lado da estrada passava o rio, que começa entre os canyons, atravessa Green River e acaba no deserto, e a última coisa que ele era, era ser verde, como diz o nome da cidade. Ele era marrom e lamacento, com uma faixa de grama baixinha e igualmente lamacenta em sua volta. A lama na encosta mostra que o rio subiu, mas não era época de chuvas nem de cheia.
Sam foi buscar a janta, Ryan encher o tanque do carro, e Kurt e eu fomos procurar um lugar para dormir.
Sem muito esforço (já que há 13 hotéis na cidade), eu e Kurt achamos um hotel e fomos alugar o quarto.
- Boa noite – disse Kurt. A recepcionista na portaria fechou a revista de fofoca com mau humor.
- O que vão querer? – disse a mulher mascando um chiclete roxo nojento. Ela usava uma maquiagem pesada e um rabo de cavalo que prendia um cabelo cacheado, pintado de loiro.
- Um quarto com quatro camas de solteiro, ou três camas e um sofá cama. – disse Kurt, que nem pareceu se incomodar com a mulher. O que mais me incomodou foi o pedido dele.
- Um quarto!? – eu exclamei – Pode ser três camas de solteiro ou duas com um sofá cama, para eles. Para mim, um quarto com cama de casal, televisão a cabo e ar condicionado. – abri minha carteira e peguei o meu cartão platina. A face da mulher se iluminou. Ela pegou meu cartão, e sorridente me entregou a chave.
- Aqui está. Vou chamar o manobrista e ele levará suas malas. A opção de TV a cabo acrescenta paperview.Na compra de três filmes, o quarto é por nossa conta. Tenha uma boa noite, senhorita... ?
- Wattson. Michelle Wattson. – eu respondi. Fui andando cansada para o meu quarto. Não vejo a hora de deitar na minha caminha e assistir meu episódio de Friends.
Kurt me olhava pasmo enquanto andávamos pela noite clara. Ele simplesmente não acreditava na cena de falsidade e futilidade que tinha visto. Problema dele!
- O que foi? – eu perguntei, enquanto andávamos para o quarto.
- Ela te cobrou 80 dólares pela noite, você se cadrastou com nome falso, pagou no cartão de crédito platina, e ainda pensa que nós vamos te deixar dormir sozinha?!
- Qual é o problema de pagar 80 dólares por uma noite, sendo que no Bellagio eu gasto de 150 a 750 a diária? Por que eu daria meu nome verdadeiro, já que eu tenho 89 anos e pareço ter 21? Qual é o problema de cartão de crédito platina? E você sabe muito bem, melhor que todos que eu não vou fugir!?
- Por que você não fugiria?!Digo, não há nada te prendendo.
Eu parei de andar, e ele conseqüentemente parou também. Eu o peguei pelo braço, e olhei profundamente em seus olhos cor de mel.
- Olha nos meus olhos e me diz que você acredita que eu vou fugir!
Ele ficou quieto, hipnotizado pelos meus olhos. Após alguns instantes ele respondeu.
- Você.. Está brava. E não vai fugir por que o que mais quer é ir para Atlantic City.
- Exato. – eu respondi. – Então que tal me deixar em paz um pouco?! – e o soltei.
Andei mais três metros, abrindo a porta do meu quarto, quando aparece Sam e Ryan.
- Não vão acreditar no que aconteceu! Manobraram nosso carro e ainda pegaram nossas malas!
Nunca manobraram nada para mim em toda minha vida! – Ryan estava aos pulos comendo um hambúrguer enorme, todo engordurado e desmanchando, enrolado em um papel escrito Burger King. Atrás dele estava um cara, mal humorado, empurrando aqueles carrinhos de aeroporto com as minhas malas e mais duas, que deveriam ser deles.
- Boa noite – eu disse mal humorada para os três.
O homem das malas entrou deixou as malas ao lado da cama e saiu antes que eu entrasse. Entrei e fechei a porta.
Assim como o banheiro em Paragonah, este quarto não era muito diferente: pequeno, escuro, e com pouca coisa, minhas malas pareciam ocupar um quinto do quarto. Havia dois criados mudos em cada lado da cama, um móvel de madeira com um vaso de flores e a televisão 29’’ polegadas e um espelho atrás. As paredes eram pintadas de cor de pêssego. A cama com um colchão alto, que parecia um bolo de casamento de tanta atenção que ela chamava. Sentei-me nela e quase me afoguei. Ou eu estava gorda demais ou essa cama é estofada com ar. Deitei-me e tentei relaxar, e boiar na cama. Dei um profundo suspiro. Senti cheiro de flores do quarto, do Joe e... Respirei fundo de novo para confirmar.
Ah não!Que droga! Acho que essa noite eu não vou dormir mesmo!
Levantei-me e fui até o quarto dos meninos. Bati na porta e Sam me atendeu. Eu entrei sem dizer nada.
- Que foi com esse mau humor todo? – ele perguntou, com um balde de frango frito pela metade na mão. Ainda bem que eu não sinto cheiro de comida humana. Credo!
- Senti cheiro bruxas. Vocês caçam esse tipo de coisa?
- Claro que sim. Mas com assim? Você saiu farejando por aí? – perguntou Kurt com uma lata de Cerveja na mão.
Notei que Ryan estava sentado na cama afiando uma estaca. Encarei –o.
- Só por... Precaução.
- Não, eu tenho um olfato sensível.
- Do que exatamente você sentiu cheiro? – perguntou Kurt sentando ao lado do Ryan.
- Sangue de galinha, estramônio, zendária, manjericão, dente- de – leão e cheiro de bruxa oras!
- Como é cheiro de bruxa?
- Bruxa tem cheiro de salsinha.
Nós rimos. Eu nem me lembro mais do cheiro de salsinha direito, mas quando eu era mais nova e me lembrava dos cheiros, sempre assimilava o cheiro de bruxa com o cheiro de salsinha.
- Vamos caçá-las então! – disse Kurt.
Mas... Eu disse que há bruxas, não que há pessoas más. Lembrei do nível do rio, que havia subido fora da época de cheia. Joey já me contou que as maiorias das bruxas que vivem no anonimato usam seus poderes para seu bem próprio, como serem promovidas, terem sorte, conseguirem empréstimos, ou hipotecas menores. Nada de tão errado assim.
- Mas... Por quê? Que a gente saiba elas não fizeram nada de errado.
- Bruxas sempre saem da linha. Está no sangue. – respondeu Sam, acabando com o balde de frango.
O que eu posso fazer? Isso tem lá seu fundo de verdade...
- Vamos fazer o seguinte, nos armamos e usamos a Midori como rastreador, aí matamos ou exorcizamos as bruxas.
- Exorcizar? – eu perguntei – Por quê?
- Você não sabe da última? Agora, as bruxas que morreram há muito tempo atrás, estão voltando como demônias e possuindo corpos. Melhor levar bastante sal.
- Credo. Dessa, eu não sabia...
Ryan pegou as chaves do carro e nós quatro fomos junto. Ryan abriu o porta malas, que estava vazio.Ele levantou o tapete do porta malas e lá estava um buraco para chave no chão. Ele colocou a chave e abriu a tampa do fundo falso. Lá dentro havia armas de todos os tamanhos e tipos, granadas e amuletos, estacas e potes.
- Inteligente. – eu comentei.
Sam pegou um colar com um pingente e me deu.
- Para que serve? – eu perguntei curiosa.
- Para elas não te possuírem.
- Ah... – bom saber, não? – mas e vocês?
Os três puxaram a gola da camiseta e mostraram uma tatuagem um abaixo do pescoço um pouco para a esquerda, era uma estrela de cinco pontos dentro um arco com 13 triângulos para fora, igual ao pingente do colar.
- Inteligente. – eu comentei de novo.
Entramos no carro.
- Agora coloque a cabeça para fora, e sinta o cheiro. – disse Kurt para mim – E Sam, procure alguma coisa dessa cidade.
Sam abriu o Notebook, e começou a procurar. Fui guiando o Ryan.
- Aparente mente o cheiro vem de algum lugar próximo ao rio. – ele disse.
- ‘‘Green River tinha 978 habitantes em 2000 e diminuiu para 900 em 2003. Estima-se que o número de pessoas esteja diminuindo ainda mais, pois a taxa de natalidade é muito baixa’’. – leu Sam – eu duvido que seja a taxa de natalidade! Aposto que é coisa de bruxa mesmo!
Cada vez mais o cheiro parecia vir da área rural. Entramos em uma estradinha que seguia o percurso do rio, entre os canyons. Estava já escuro, devia ser 19:30 horas. Pela janela do carro, vi pelo canto do olho luzes amarelas e fracas. Mas não no céu, no chão. Ou melhor, no rio. A lua cheia era forte, mas havia nuvens, não nos permitindo enxergar completamente.
- Acho que vi algo no rio. – eu disse.
- Tipo o quê?
- Luzes. Luzes de vela, talvez.
- No rio?
- É! – Ryan diminuiu a velocidade.
Um som entrou no carro como hipnose. Era uma canção que ecoava pelas montanhas onde o rio passa entre, ela era um murmúrio, um lamento. Uma música triste cantada em latim, pela voz de mulheres.
A nuvem saiu do lugar e lua brilhou como se fosse dia. O som era cantado por mulheres que estavam em pequenos barcos, como canoas, algumas com panos pretos e outras com panos brancos enrolados na cabeça. Todas com uma vela acesa na mão. Havia mais ou menos oitenta bruxas.
As canoas não eram pintadas, e iam duas bruxas em cada canoa. Em todas as canoas havia um caldeirão na proa, de onde vinha o cheiro de sangue de galinha e ervas.
Os meninos estavam impressionados. Nunca viram nada igual. E nem eu. Nunca vi tanta bruxa junta. Se forem todas bruxas, espero que não seja nenhuma que eu já tenha conhecido, por que se não, ou eu passei a perna, ou eu roubei, eu estou devendo muitos favores.
A estrada fez uma longa curva para a esquerda e perdemos as bruxas de vista. A música foi ficando baixinha até sumir no ar. Alguns segundos depois, a estrada voltou a seguir o rio, que apareceu vazio, apenas com sua água lamacenta sob a luz branca da lua.
Será que foi tudo um truque?

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