A última noite do grande espetáculo era hoje, e a estrela era eu. O teatro lotado, e ingressos esgotados, vendidos a preço de ouro. No meu camarim lotado de flores e presentes que ganhei nas duas últimas semanas, eu estava me arrumando, prendendo os últimos botões do meu espartilho, que vai logo debaixo do meu vestido. Dei uma boa olhada naquele lindo branco em cima da mesa de centro, todo rendado, costas semi- abertas. Ele era o resultado de seis árduos anos de trabalho neste teatro. Ele era meu prêmio, meu orgulho. Hoje era a minha despedida dele.
Faltavam poucos minutos para o início da apresentação. Claramente, podia – se ouvir gritos, correria, atores atrasados, produtores controlando a ansiedade dos bastidores. Alguém bate na porta, então entra Carol, minha melhor amiga até então.
- Tenho uma surpresa para você! – ela andava na pontinha dos pés, em um vestido rosinha bebê, de bailarina. Ela usava hoje, não um coque, mas um cabelo mal preso com cachos aparentes, igual ao meu. – Pegue! Abra! – seu olhar negro era pura alegria. Ela estendia uma pequena caixinha azul bebê com fita branca.
Eu peguei, sem hesitar, e abri. Era um enorme bombom de chocolate escuro com listras de chocolate branco, e com um cheiro forte de cereja. Eu dei uma mordida. Na minha boca um líquido grosso invadiu a minha boca. Ele era melado e muitíssimo doce. Ele entrou debaixo da língua, grudou nas bochechas, secou a saliva. Tentei cuspir, mas ele endureceu e não deixou a minha boca se abrir. Não conseguia nem engoli-lo, nem cuspi-lo. O que Carol tinha feito comigo?
Olhei para ela. Ela ali, parada na porta com o meu vestido nos braços, tinha um brilho ainda mais negro nos olhos, e maldade incrustara neles. Fechou a porta e quando o som do trinco sendo trancado ecoou na sala estalou puro pânico dentro de mim. Meu coração disparou, pude senti-lo mesmo sem tocá-lo no peito. A risada de Carol surgiu na minha mente, quando tínhamos lá uns 15 anos.
- Vamos! Quero te mostrar uma coisa, se prometer que vai dividir comigo!
- Prometo, Carol. – eu disse.
Fomos correndo para o camarim da estrela. Era lindo. Todo decorado com flores de todas as cores. Escondido atrás de um buquê de gérberas havia um furo na parede onde antigamente havia uma lâmpada.
- Olhe pelo buraco! É o palco. É como se você estivesse em um camarim. Não é legal? - Seu olhar profundo, entre malícia e inocência sempre me intrigou. – Quando eu for estrela você vai poder-me assistir daqui, que é bem melhor que os bastidores.
Carol tinha um raciocínio lógico puramente fantástico e agora sei, totalmente voltado para hoje. A vida dela era planejada para hoje, o dia em que ela iria finalmente brilhar me substituindo, se colocando em meu lugar, e logo eu que esforcei tanto, sua mente estava, este tempo todo, me traindo. Uma imagem explodiu em minha cabeça: as pétalas de uma rosa branca tocando a ponta de seus dedos fez a minha perna balançar. Eu caí no chão com a mão no peito. As minhas mãos começaram a formigar.
Corri até a porta e comecei a arranhar e a socar em puro desespero, tentei gritar, mas nenhum som saía da minha voz. Isso me fez socar com mais força. Bati. Bati. Bati. Bati de novo. Ninguém me ouviu. Os corredores estavam silenciosos. O show iria começar em poucos minutos, e eu tinha muito menos para impedi-la. Parei de socar a porta quando o som da orquestra entrou na sala. Era tarde demais. Mas não! Não podia ser! Não podia! Lágrimas começaram a escorrer em meu rosto. Eu corri até o buraco da parede e lá estava ela. Cantando como um pássaro em seu ultimo dia, mas como se fosse o primeiro entre tantos que ela vai fazer, agora que ela era a estrela. Percorri o olhar para cada acento do camarote. Ela estava cantando no palco mas ele, meu amor, não estava lá para assisti-la. Minhas mãos pararam de formigar. Dei um longo suspiro, tentando liberar o nervosismo de mim. Corri até o buraco da parede. Carol ainda não tinha entrado, estavam no palco as bailarinas. Posição que eu estava há 7 anos atrás. Eu consegui ouvir meu coração. No camarote, que alívio, ele não estava lá.
- Mais calma? – uma voz grossa falou atrás de mim.
E lá estava ele. O amor da minha vida estava bem ali na minha frente. Muitíssimo bem vestido como sempre e segurando uma rosa branca na mão, igualmente como sempre. Estava confusa. Como ele entrou aqui? Ele era muito mais belo de perto do que lá de cima.
- Deve estar se perguntando como entrei aqui. Quando me procurou na platéia, não precisou de palavras para me dizer que estava me chamando. Qual é seu nome.
Tentei dizer, mas ele não viu nenhum som e sim uma gosma marrom e dura dentro da minha boca. Ele deu uma risada abafada. Senti uma enorme vergonha que não pude conter uma lágrima que escorreu na lateral do meu nariz.
- Não chore.. – Ele secou a minha lágrima com a rosa. - Além de bela, é ingênua. - Ele andou até a mesa de maquiagem e serviu um copo de água. Veio ate mim. – Tome. Vai diluir o doce.
Eu peguei e tomei. O doce se quebrou em partes pequenas e minha saliva pode molhar minha boca novamente e começou a diluir-se lentamente. Ele se sentou em minha poltrona e ficou me fitando. Eu, tímida, sentei no pufe, ao lado da porta, olhando para os meus pés, e sentindo o sabor diluído de cereja na minha boca. Fiquei ouvindo a música da orquestra. Era a parte em que o casal da história dança pela primeira vez, juntos.
- Me permite? – Ele perguntou para mim, com a mão direita estendida.
- Claro. - Eu peguei sua mão. E dançamos aquela valsa a noite toda, até o fim da peça.
Faltavam poucos minutos para o início da apresentação. Claramente, podia – se ouvir gritos, correria, atores atrasados, produtores controlando a ansiedade dos bastidores. Alguém bate na porta, então entra Carol, minha melhor amiga até então.
- Tenho uma surpresa para você! – ela andava na pontinha dos pés, em um vestido rosinha bebê, de bailarina. Ela usava hoje, não um coque, mas um cabelo mal preso com cachos aparentes, igual ao meu. – Pegue! Abra! – seu olhar negro era pura alegria. Ela estendia uma pequena caixinha azul bebê com fita branca.
Eu peguei, sem hesitar, e abri. Era um enorme bombom de chocolate escuro com listras de chocolate branco, e com um cheiro forte de cereja. Eu dei uma mordida. Na minha boca um líquido grosso invadiu a minha boca. Ele era melado e muitíssimo doce. Ele entrou debaixo da língua, grudou nas bochechas, secou a saliva. Tentei cuspir, mas ele endureceu e não deixou a minha boca se abrir. Não conseguia nem engoli-lo, nem cuspi-lo. O que Carol tinha feito comigo?
Olhei para ela. Ela ali, parada na porta com o meu vestido nos braços, tinha um brilho ainda mais negro nos olhos, e maldade incrustara neles. Fechou a porta e quando o som do trinco sendo trancado ecoou na sala estalou puro pânico dentro de mim. Meu coração disparou, pude senti-lo mesmo sem tocá-lo no peito. A risada de Carol surgiu na minha mente, quando tínhamos lá uns 15 anos.
- Vamos! Quero te mostrar uma coisa, se prometer que vai dividir comigo!
- Prometo, Carol. – eu disse.
Fomos correndo para o camarim da estrela. Era lindo. Todo decorado com flores de todas as cores. Escondido atrás de um buquê de gérberas havia um furo na parede onde antigamente havia uma lâmpada.
- Olhe pelo buraco! É o palco. É como se você estivesse em um camarim. Não é legal? - Seu olhar profundo, entre malícia e inocência sempre me intrigou. – Quando eu for estrela você vai poder-me assistir daqui, que é bem melhor que os bastidores.
Carol tinha um raciocínio lógico puramente fantástico e agora sei, totalmente voltado para hoje. A vida dela era planejada para hoje, o dia em que ela iria finalmente brilhar me substituindo, se colocando em meu lugar, e logo eu que esforcei tanto, sua mente estava, este tempo todo, me traindo. Uma imagem explodiu em minha cabeça: as pétalas de uma rosa branca tocando a ponta de seus dedos fez a minha perna balançar. Eu caí no chão com a mão no peito. As minhas mãos começaram a formigar.
Corri até a porta e comecei a arranhar e a socar em puro desespero, tentei gritar, mas nenhum som saía da minha voz. Isso me fez socar com mais força. Bati. Bati. Bati. Bati de novo. Ninguém me ouviu. Os corredores estavam silenciosos. O show iria começar em poucos minutos, e eu tinha muito menos para impedi-la. Parei de socar a porta quando o som da orquestra entrou na sala. Era tarde demais. Mas não! Não podia ser! Não podia! Lágrimas começaram a escorrer em meu rosto. Eu corri até o buraco da parede e lá estava ela. Cantando como um pássaro em seu ultimo dia, mas como se fosse o primeiro entre tantos que ela vai fazer, agora que ela era a estrela. Percorri o olhar para cada acento do camarote. Ela estava cantando no palco mas ele, meu amor, não estava lá para assisti-la. Minhas mãos pararam de formigar. Dei um longo suspiro, tentando liberar o nervosismo de mim. Corri até o buraco da parede. Carol ainda não tinha entrado, estavam no palco as bailarinas. Posição que eu estava há 7 anos atrás. Eu consegui ouvir meu coração. No camarote, que alívio, ele não estava lá.
- Mais calma? – uma voz grossa falou atrás de mim.
E lá estava ele. O amor da minha vida estava bem ali na minha frente. Muitíssimo bem vestido como sempre e segurando uma rosa branca na mão, igualmente como sempre. Estava confusa. Como ele entrou aqui? Ele era muito mais belo de perto do que lá de cima.
- Deve estar se perguntando como entrei aqui. Quando me procurou na platéia, não precisou de palavras para me dizer que estava me chamando. Qual é seu nome.
Tentei dizer, mas ele não viu nenhum som e sim uma gosma marrom e dura dentro da minha boca. Ele deu uma risada abafada. Senti uma enorme vergonha que não pude conter uma lágrima que escorreu na lateral do meu nariz.
- Não chore.. – Ele secou a minha lágrima com a rosa. - Além de bela, é ingênua. - Ele andou até a mesa de maquiagem e serviu um copo de água. Veio ate mim. – Tome. Vai diluir o doce.
Eu peguei e tomei. O doce se quebrou em partes pequenas e minha saliva pode molhar minha boca novamente e começou a diluir-se lentamente. Ele se sentou em minha poltrona e ficou me fitando. Eu, tímida, sentei no pufe, ao lado da porta, olhando para os meus pés, e sentindo o sabor diluído de cereja na minha boca. Fiquei ouvindo a música da orquestra. Era a parte em que o casal da história dança pela primeira vez, juntos.
- Me permite? – Ele perguntou para mim, com a mão direita estendida.
- Claro. - Eu peguei sua mão. E dançamos aquela valsa a noite toda, até o fim da peça.

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