Graças a Carol (ou não) eu tive o gosto (ou o desgosto) de conhecer Mitch, e que, sem ele, você não estaria sabendo da minha história, então pelo menos uma coisa boa ele me deu. Claro que o nosso relacionamento era espantoso, de tão bom que era. Para você ter uma idéia, nos 29 messes que passei com ele, não houve uma briga sequer. Contudo, o nosso relacionamento foi igual à pular de um penhasco de 100 metros. É muito legal nos primeiros 99 metros, mas horrível no último, como diria Chuck.
O sol estava alto, e minhas pernas começaram a arder. Coloquei a jaqueta de Kurt que estava jogada atrás do meu banco no colo, assim me dando um enorme alívio. Contudo, O couro começou a esquentar com forme passava o tempo. A Melinda me atendeu.
- Melinda? – eu perguntei. Havia muito barulho no fundo. – Onde você está?
- Mi?! Midori?! É você?! – A ligação estava cortando.
- Sim, sou eu. Onde você está? E que lugar barulhento é esse em plena luz do dia?
- Escute, eu acho que – ficou mudo por alguns instantes. – vá pra Atlantic City.
- Ahn, quê? Sim, eu estou indo para lá... A ligação está cortando Mel. – ninguém me respondeu – Mel?!
- Mimi, ele está... – a ligação caiu.
- Que estranho... – melhor ligar mais tarde.
Contudo aquela ligação me preocupou bastante. Era de Mitch que ela estava falando. Disso eu tenho certeza. Toda essa história explodiu na minha mente. E quando eu chegar lá? O que vai ser de mim? E se ele quiser reatar comigo? E se ele quiser se vingar? E a Emma? Ela é uma criança vampira? Ou ela é uma humana de 67 anos, que viveu órfã, sendo que sua mamãe viveu todo esse tempo?Será que ela vai sentir raiva de mim, achando que eu a abandonei? E como eu vou explicar para ela o que houve?E se ela achar que eu sou louca? Ou será que ela viveu com Mitch? O que será que ele disse de mim para ela? ´´Mamãe tentou matar papai?´´ Meu Deus! E se tudo for uma farsa? E se ele não estiver com ela coisíssima nenhuma? Não... Ele não seria tão baixo assim.. Ou seria?E os meninos? Eles vão me deixar lá, pegar a grana e ir embora?E a Jennifer? Ela vai fazer o que com o Mitch? Vai interrogá-lo sobre a morte do irmão? Eu comecei a sentir uma forte dor de cabeça..
- Você está bem, Midori? – Sam me perguntou. Ele sabe quando não me sinto bem, o que me intriga muito.
- Sim, estou. – ele notou que eu estava mentindo.
Olhei pro Kurt. Ele olhava para todos os lados, com a testa franzida. Ele parecia meio perdido.
- Onde nós estamos? – Jennifer perguntou.
- Boa pergunta... – ele murmurou.
- Como assim, você não sabe onde estamos?! – Ryan grasnou.
- Não, não sei. Acho que não peguei o caminho para Denver. Acho que estamos indo para Aspen.
Finalmente uma boa noite teremos hoje.
- Graças a Deus! Conheço ótimos hotéis em Aspen.
- Hotel aberto, você quis dizer...
- Por quê?
- Por que Aspen no final do verão não tem neve! – ele disse alto. Realmente, não tinha pensado nisso.
Kurt voltou um pouco na estrada, já que Aspen não fica aberta no verão. Ficamos na ponta de uma cidade chamada Glenwood Springs. A cidade era bem diferente sem neve, assim como qualquer outro lugar. Tinha pouca coisa, algumas pessoas na rua, e a estrada seguia o percurso de um rio. Kurt parou o carro em um Motel de esquina. O hotel parecia coisa de cinema. No mau sentido.
- Por que paramos aqui? Eu conheço hotéis melhores em Aspen, que fica mais pra frente...
- Só são cinco horas? Por não vamos para Denver? Fica duas horas e meia daqui.. – sugeriu Jennifer.
Ryan deu um sorrisinho.
- Hein, Kurt? Por que você está adiando Denver?
Kurt fugiu com os olhos.
- Parei aqui, para amanhã sairmos mais rápido. E não vamos para Denver hoje, por eu estou cansado.
- Então tudo bem... Achei que era por causa da Julia.
Sam deixou escapar uma risada.
- Por quê?Quem era Julia?
- A ex-esposa dele. – esposa?Por essa eu não esperava.
- Ela não era minha ex-esposa, por que eu não casei com ela. Eu só morei uns anos com ela...
- Uns anos? Você morou com ela tipo, 8 anos, só brigavam, não tinham sexo, e a casa ainda ficou com ela. Diga-me se isso não era casamento. Fora que vocês só brigavam por causa daquele laboratório idiota.
Kurt não respondeu, e Sam parou de rir. Embora tudo fosse realmente engraçado, pois não consigo imaginar Kurt levando a pior de uma mulher, mas algo naquele comentário sobre o laboratório os fez calar a boca. O será que houve?
Nós saímos do carro, e fui correndo para a sobra da recepção. Lá dentro era meio quente, mas dava para agüentar. Só tinha um quarto disponível com duas camas de casal e um sofá cama. Ryan alugou aquele. Não acreditei. Eu ia dividir o quarto com... Eles. Espero sobreviver.
Eu nem tirei as minhas coisas do carro, só peguei uma muda de roupa e minha nécessaire, eu preciso de um banho gelado. Logo depois de ter entrado no quarto eu fui direto para o banheiro. O banheiro era espaçoso e limpinho, e bem melhor do que o de Green River. Eu me deparei com espelho. Meu rosto estava branco como sempre. Eu sei que não tenho rugas nem marcas de idade, mas não estou acostumada ainda a viver a eternidade. Lembro-me que quando era pequena a minha mãe sempre procurava pés de galinha antes de dormir, e eu a imitava toda noite, e toda noite ela me perguntava o que eu estava fazendo. Nem eu mesma sabia responder. Ela me dizia: você não vai ser jovem para sempre. Quando você tiver rugas, você procura. Ela sempre me dizia brava, mas depois ria de tudo. Ela era assim. Ficava irritada com tudo, mas depois ria. Infelizmente ela estava errada. Tantos anos ouvindo a minha mãe, e quase nada do que me disse se aplicou. Isso é algo que eu lamento muito. Uma brisa trouxe um cheiro de cachorro molhado para dentro. Era um lobisomem, e pelo som, estava há uns dois quarteirões. Alguém bateu na porta.
- Tá viva ainda? – era Kurt. – O seu celular ta tocando de novo. – ele passou o meu celular por de baixo da porta. Isso é algo que devia virar propaganda.
Eu ia falar para o Kurt sobre o lobisomem, mas vi que quem estava ligando era alguém bem mais importante. Eu liguei o chuveiro para eles não ouvirem a conversa, afinal era de negócios. Após ter falado com o velho, fiz o maior negócio. Ia vender um amuleto raríssimo por um milhão e duzentos mil. Era só integrar hoje a noite em Denver as oito em um galpão. Mas e agora? Eu estou sem carro, e também sem o amuleto, o que geralmente não é problema, só vai dificultar um pouco. Tive uma idéia. Eu tomei banho, fiz uma ligação e saí.
- Finalmente, achei que tive criado raízes.
- Não... Já que você me pagaram a noite, eu pedi uma pizza ótima para vocês, fica dois quarteirões daqui, foi uma amiga humana que me indicou.
- Pediu de quê? – Ryan perguntou. E agora?
- Metade de queijo, metade de pepperoni... – eu chutei.
- Nossa, onde fica a gente vai agora! – deu certo! – Me dá o endereço.
- Você.. – Eu olhei pela janela, e entre as persianas eu vi uma grande letreiro- É na Domino´s pizza do outro lado da rua.
Eles saíram. Olhei pela janela e vi que estavam a pé. Que bom, assim não vou ter que roubar nenhum carro, além do deles. Peguei a minha nécessaire no banheiro e as chaves do carro que estavam jogadas no aparador, e abri a porta.
- Aonde você vai? – uma voz veio até mim, do sofá. Sam estava lendo. E agora?!
- Eu vou... Pegar comida no carro.
- Oh sim, e mandou todo mundo sair pra quê? – ele é mais inteligente do que eu pensei. – Pois eu vou junto. Se eu te perder de vista eles me matam.
Não sei se sou mais esquisita do que eu pensei, mas na minha teoria, ele tentaria me impedir e não ir comigo, certo?A não ser que ele saiba que ele só não conseguiria me impedir. Fantástico! Um caçador com uma incrível capacidade de raciocínio lógico... Ou a raça humana está ficando mais inteligente... (olha a besteira que eu estou falando).
- Por que você não foi comer pizza?
- Por que eu, ao contrário dos 99% dos humanos, não gosto de pizza. – por essa eu não esperava. Ele se levantou. – É bom nós irmos logo já que eles vão devorar a pizza e voltar.
- Eles vão demorar, eu tenho certeza. Mas e você não vai comer?
- Não estou com fome. Para onde você vai? – não acredito que estou levando uma criança comigo...
- Vou fazer uma entrega. Eu recomendo você não ir.
- Entrega de quê?
- Melhor você não saber. – Nós saímos e entramos no carro. Já estava escuro.
Sam se viu no banco do passageiro. Ele franziu a testa quando me viu no volante.
- Você sabe dirigir?
- Claro que eu sei. – eu olhei para os pedais nos meus pés. Por algum motivo, havia três ali.
- Não entendi. Como assim tem três pedais? Eu só tenho duas pernas!
- Isso aqui é um carro manual não automático. – legendas, por favor. Ele deu um suspiro – O pedal da esquerda é a embreagem.
- Ok, ok, eu me viro. – Eu liguei o carro e saí dirigindo. Não era tão difícil assim. Pensei no plano da entrega. Por que bem... Eu não tenho o que ele me pediu, mas estou acostumada com isso. Peguei o celular e adiantei a entrega e o local. Sete horas em ponto na cidade anterior a que estamos Gleenwood Springs. – Em quinze minutos chegamos.
Sam parecia m tanto desconfortável.
- O que foi? Você parece tenso.
- É que se esse seu plano der errado eles me matam.
- Mas eles não vão descobrir.
- Você acha mesmo que o tempo que você gastar para ir a Gleenwood springs, entregar, receber e voltar, vai ser o mesmo tempo deles devorarem uma pizza?!
- Meu querido, você se esqueceu de uma coisa. Eu sou a Midori lembra? Eu já pensei nisso. Há um lobisomem atrás da pizzaria, e eu pedi três pizzas, o que vai demorar para ficar pronta. Então eles vão sair para tomar um ar fresco, e se deparar com o lobisomem e ai vão caçá-lo, e quando voltarem, estaremos sentados no sofá assistindo friends.
- Ah... Bem pensado, mas ainda tenho uma pergunta. Como é que eles vão caçar um lobisomem, se as armas estão aqui no carro?
Mas qual é a desse garoto?! Ele tinha total razão de novo.
- Eles tem a Jennifer. Ela não precisa de armas – Ha! Peguei ele agora.
- A Jennifer não tem poderes. Ela não os recebeu ainda.
- Eu já lutei com muitos lobisomens na minha vida, e eles são tão burros que nem é necessário armas. Pode ficar tranqüilo.
- Se você diz... – ele continuou a viagem desconfortável. Realmente o entendo. Ele não parece o Ryan, que enfrenta os irmãos. Ele parece fazer uma espécie de política de boa vizinhança. Achei melhor conversar com ele para quebrar um pouco o gelo.
- Então Sam. O que me conta de você? Por que você preferiu caçar monstros – o que é uma completa e total perda de tempo – do que sei lá... Arrumar um emprego, ou fazer faculdade?
- Nossos pais sempre disseram que não importa o que nós três temos que permanecer juntos. Então quando eles morreram e o laboratório foi destruído, nós meio que... Mudamos o nosso rumo. Resolvemos caçar monstros antes que eles fizessem mais estrago.
- Sobre esse laboratório... O que tem ele?
- Nossos pais eram cientistas em uma clínica. Depois de alguns anos de casados eles resolveram montar um laboratório. Ele ficou muito famoso e nossa família brigou muito por causa dessa droga de laboratório, por que todo mundo queria ter uma parte dos lucros, mas meus pais não queriam de jeito nenhum. O laboratório era a herança de Kurt, eu ia estudar e trabalhar lá. Mas...
- E o Ryan?!
- Ele nunca levou jeito na escola. Então ele foi o que teve mais sorte pois ele podia ser o que quiser. Eu tive que abrir mão da minha vaga de faculdade, e eu tenho ainda o dinheiro da dela. o Ryan não gastou quase nada do que recebeu só comprou o carro. Kurt não recebeu um centavo dos nossos pais, a sorte dele é que ele passou 8 anos casados com a Julia, e ela era rica. Ele disse que não era casado, mas era sim, por que o processo de separação foi realmente um divórcio.
Por essa história eu não esperava. Eles perderam todos os sonhos. Todo o futuro por causa de...
- O laboratório era de quê?
- Na fachada era de exames de sangue, raio x e DNA. Mas o forte era o estudo de criaturas como vampiros, lobisomens, sereias, pessoas que tem poderes sobrenaturais. Por isso acreditamos de primeira que a morte foi por criaturas como essas.
... De uma ciência que pesquisava o proibido.
- Mas vocês vão falir se ganharem dinheiro, ou tem bastante?
- Nós somos bons em multiplicar dinheiro, tenha certeza.
Ficamos em silêncio novamente.
- Não vou contar para ninguém sua história.
- Eu sei que não vai... Mas e você, o que me conta? Você teve uma filha, a Emma. E também foi transformada em vampira no seu casamento. Então a igreja pegou fogo e você sobreviveu. Meio doida essa história, não?
Eu encostei o carro.
- Chegamos. – saímos do carro – A minha história é um tanto confusa, comprida e complicada, você não vai querer saber...
- Não, vou sim. Eu contei a minha, agora eu quero saber da sua. – ele tinha um cabelo lindo, castanho claro e olhos azul bebê de baixo de sobrancelhas grossas. Ele era ainda mais bonito debaixo da luz da lua.
- Tá bom... Eu te conto no caminho, tenho que comprar uma coisa primeiro.
Fomos andando. Eu contei por cima, sem o drama de sempre. Eu conheci Mitch no teatro, tivemos uma filha que morreu com ´´insulficiência respiratória´´, ele me transformou em um mostro e eu o matei, mas aparentemente ele conseguiu voltar.
- Achei que você gostasse de ser vampira.
- Finjo apenas. Eu odeio não poder estar ao sol, como todo mundo. Ter que roubar para viver. Ou matar. Ter que mudar a cada dois anos. Tudo na minha vida é apenas temporário.Foi uma injustiça o que aconteceu comigo. Eu não queria isso para mim. Eu não tive nem escolha. Nem tenho como desfazer o que ele fez comigo. Vocês humanos que tem sorte. Poder se apaixonar, tiver filhos, envelhecer, e o melhor de tudo, poder escolher.
- Ter... Filhos?
- Vampiras não podem ter filhos. Por isso tem que transformar crianças ou engravidar uma humana. Foi o que Mitch fez comigo. Mas uma coisa é certa. Vocês são meio burrinhos.
- Nós ou toda a raça humana?
- Todos no geral. Eu quando era humana também era.
A cidade estava fresca. Era escura, mesmo com todos os postes de iluminação. As lojas já estavam fechando. Achei a loja que eu queria. O dono já estava na porta recolhendo o tapete. Eu parei na vitrine giratória onde giravam vários anéis. Os preços eram ridículos, de 80 a 200 dólares. Eu escolhi um anel de metal preto com uma pedra verde escura bem pequena. Eu me virei para o dono.
- Eu quero o número 23, por favor. – nós entramos. Eu comprei o anel fomos a pé para trás de um grande galpão de supermercado fechado. Esperamos ali, no silêncio. Começou a ventar frio. Uma van preta chegou a alta velocidade. Ela parou na nossa frente. O Senhor Reinalds desceu.
- Boa noite senhora, - ele disse com sua voz grossa. – Boa noite garoto. – Sam acenou com a cabeça.
- Aqui está senhor. – eu entreguei a ele - A forma de pagamento...?
- Está depositado na conta em que Paul me disse. – Ao menos ele consegue falar com Joey. Paul é o nome de trabalho dele. Um segurança de aproximadamente 1,90 de altura abriu um laptop mostrando a transferência de 800 mil dólares. Sam franziu a testa.
- Muito bem, negócio fechado.
- Sra. Dafne. Posso perguntar uma coisa? Gostaria de não sei... Um jantar?
- Não obrigada. Tenho negócios em Seattle pela manha e tenho que pegar um avião com urgência. – fazer negócios com o meu mini vestido azul mesclado com preto, não funciona.
- Deixe – me levá–la no meu jato. O seu motorista pode ir também. – Haha, o Sam como motorista.
- Não, muito obrigada, meu namorado me levará.
Eu virei às costas e andei rápido. Sam me seguiu. A van fez o contorno pelo supermercado e sumiu do outro lado do galpão. Chegamos até o carro.
- Estamos sendo seguidos.
- Como assim?
- Não sei se ele acreditou no anel falso que eu dei para ele.
- E agora?
- A gente despista eles.
Eu liguei o carro e virei da avenida para o bairro. Dei várias voltas.
- Pegue meu celular na minha bolsa, por favor. - ele pegou.
Eu programei para controle remoto. Eu abri a garagem de uma casa e entrei com o carro. A van passou reto e nem me viu. A garagem estava escura, então liguei a luz interna do carro e desliguei o motor.
- Que casa é essa?É sua?
- Não. Espere uns dez minutos e sairemos de novo.
- Como você fez isso com o seu celular? – ele estava com o coração acelerado.
- Ah, isso?Não é nada demais.
- Mas e se tiver gente na casa? Eles com certeza ouviram a gente entrar.
- Não tem ninguém na casa. Pelo menos não alguém vivo.
Ficamos um tempo quietos. Começou a me dar a maior fome. O coração acelerado de Sam mexia comigo. Ele olhou para mim, inevitavelmente, pois não desgrudava os olhos dele. Ele era com certeza, o melhor pedaço daquela família. Pena que teve uma vida tão desgraçada. Minha barriga rugiu. No meu peito algo queria explodir, e eu sabia o que era. Eu ia pular naquele pescoço a qualquer momento. Depois de três minutos eu liguei o carro novamente, antes que eu fizesse besteira, e chegamos no quarto de motel quinze minutos depois. Não tinha ninguém no quarto.
- Será que eles estão bem? – Sam perguntou.
- Claro que sim. – eu me sentei no sofá e liguei a televisão. Friends já tinha acabado.
Fui até o carro, peguei minha comida e voltei. Acho que nunca comi tanto sangue de uma vez só. Kurt, Jennifer e Ryan chegaram rindo.
- Vocês estão bem? – Sam perguntou.
- Sim, claro. – Kurt disse. – por que?
- Ah, nada.
- Vocês não encontraram nenhum monstro hoje? – eu perguntei.
- Não, apenas comemos muita pizza. E vocês?
- Nada demais. – eu disse. Sam concordou com a cabeça. Eles nem sequer encontraram o lobisomem.
Sam foi tomar banho e saiu com a Jennifer para comprar alguma coisa para ele comer, e Jennifer ia com ele para comprar mais band- aids, depois Ryan foi tomar banho. Kurt e eu arrumamos todas as camas. Eu e Jennifer íamos dormir numa cama de casal, Ryan e Sam em outra e Kurt no sofá. Ryan saiu do banho e Kurt entrou. Ele estava usando uma calça de pijama e nenhuma camisa. Ele realmente tinha um corpo muito bonito.
- E ai? Sam beija bem?
- Ahn? A gente não...
- Eu sei, estava brincado. Mas bem que a gente podia digo, Kurt demora no banho.
- Não, não faço caridade. - ele se sentiu ofendido.
- Caridade?! Tudo bem, é você que tá perdendo a chance.
- Eu? – ele deve tá brincado – Escuta aqui, que tal você arrumar o que fazer? – eu me deitei. E vi minhas mensagens no celular.
Kurt saiu do banho e Sam e Jennifer voltaram. Eu corri até o banheiro e pus pijama, me enrolei no roupão, antes de sair. Quando eu sai todos já estavam dormindo e tinham apagado a luz. Eu fui à ponta dos pés até a minha cama. Eu me deitei. Afinal não foi tão ruim assim dividir o quarto com eles todos. Logo adormeci.
Acordei do jeito que eu mais odeio. Com o sol da manhã, o mais fatal, passando entre as persianas e indo direto para meu rosto. Abri os olhos, tentei tampar a luz com a mão, mas ela estava presa. Havia um braço passando pela minha barriga, e uma pessoa colada nas minhas costas. Virei o pescoço e me vi numa cena não muito bonita. Eu peguei o braço e o puxei, fazendo Ryan cair no chão.
- O que aconteceu?O que foi?! – ele nem sabia mais onde estava. – Você? – ele olhou para mim. – Qual é seu problema?!
- O meu problema? – notei que todos acordaram com o barulho de Ryan. Jennifer estava dormindo na outra cama sozinha, e Sam estava dormindo ao lado de Ryan no outro lado da cama. Cheguei a uma triste conclusão. – É que eu dormi na cama errada...
Ótimo. Maravilha. Não podia ser melhor. Eu saí andando e me troquei no banheiro. Fui para o carro logo em seguida. Eu tomei um monte sangue, tanto que até um pingo caiu na no meu vestido azul. Eu estava brava. Muito brava. Pode até ser besteira, mas não sei... Eu nunca dormi na cama de um cara em 67 anos. O único homem com quem dormi junto foi Mitch. E hoje, dormi não só na mesma cama que Ryan, mas que Sam também. Que nojo. Senti um arrepio na espinha. Minhas mãos começaram a suar e a formigar. Dividir o quarto foi bem pior do que eu pensei. De repente todos entraram no carro. Sam foi dirigindo, Ryan foi na frente. Kurt ao meu lado e Jennifer do outro. Sentei no meio para escapar do sol.
Hoje eu acordei brava, e continuo brava. Chegamos a Denver, mas Sam não parou nenhuma vez. Kurt estava aliviado ao meu lado, parecia tranqüilo. Ninguém teve a péssima de tirar uma da minha cara. As ruas de Denver, como sempre eram movimentadas, com um monte de gente andando na rua e um monte carros refletindo sol na minha cara. Que final de verão era aquele afinal? Pelo retrovisor vi uma van preta aparecia e sumia atrás de nós. Dei um suspiro. O Senhor Reinalds era tão previsível, que nem me preocupa. A não ser pelo fato que há 4 humanos comigo carro. Estávamos sendo seguidos novamente. O que é um problema, pois pode muito bem não ser o Senhor Reinalds, então todos nós estaremos perdidos. Mesmo assim, para não colocar os meus meninos, e principalmente o Sam em problemas, então eu cuido deles mais tarde. Meus olhos começaram a arder por causa dos reflexos da luz. Se o ar condicionado não estivesse bem frio, eu já teria morrido.
- Ei? Para onde foi o som? – Kurt me encarou, mas não disse nada. Esticou o braço e deu o som para Sam.
Eu me virei abri uma das minhas malas e peguei um lenço e uns óculos escuros. O enrolei na minha cabeça e ombros, e pus os óculos escuros. Senti um alívio imediato. Nem prestei atenção na música, pois estava pensativa. O que eu ia fazer quando chegasse lá? E minha filha? Todas aquelas perguntas voltaram a minha cabeça. Eu ia precisar de um plano muito mirabolante para sair dessa. Fiquei confusa. Nunca havia misturado meu lado pessoal, com o de trabalho. Minha cabeça voltou a doer, mas dessa vez muito. Algo queria sair do meu peito, algo forte. Minhas mãos começaram a suar e formigar. Vozes e lembranças ecoaram na minha cabeça todas ao mesmo tempo. Uma delas era muito familiar, a minha: Como eles puderam?Como? Lembrei-me de tudo que houve antes do casamento. E pior, o que houve depois dele. Sangue. Muito sangue em todas as minhas roupas, escuridão, chuva e fome. O rosto de Joey, debaixo de uma guarda chuva. As festas, minha teimosia. Meu escritório, minha vida de negócios. As bruxas. Os recados. Meus sonhos com Emma. Ah! Minha querida Emma...
Emma dando seus primeiros passos, suas primeiras palavras. Pares de pequeninos sapatinhos lilases. Comendo bolo sábado a tarde, com chocolate em volta de boca rosinha. Emma dançando no balé. Indo no parquinho, brincando de bola, na areia. O brilho de seus cabelos ruivos mexendo enquanto balançava. Ela brincando pela primeira vez em um carrossel, colorido e iluminado. Seus olhinhos azuis observando cada enfeite dos cavalos. Sua risada ecoando em minha cabeça. Seus vestidos de renda. Sua escola, viagem com as amiguinhas. Por quê? O que aconteceu com a minha menina? Tinha tanto a viver. Eu tenho tanto amor para dá–la. Eu não escolhi o que aconteceu. Eu não tive culpa em virar um monstro. Eu não escolhi, nem opinei nada disso. Não foi justo o que aconteceu. Vivi uma vida que eu não escolhi. E depois que eu tentei concertar, ficou pior ainda. Destruindo qualquer chance de ter uma vida mais normal. E conhecer outro monstro? Não! Eu quero um humano, normal. Que não me traia, e nem seja traiçoeiro. E que eu tenha pelo menos, a minha filha de volta. Mas que infelizmente, não terá uma mãe que se orgulhe muito. Talvez seja por isso que não a consegui. Mas do mesmo modo, se não fosse ele, minha vida teria um rumo diferente e eu estaria, agora, descansando, em paz, e não tendo esses pensamentos horríveis.
- Emma... Sinto muito. – Eu acabei murmurando o meu pensamento.
O sol estava alto, e minhas pernas começaram a arder. Coloquei a jaqueta de Kurt que estava jogada atrás do meu banco no colo, assim me dando um enorme alívio. Contudo, O couro começou a esquentar com forme passava o tempo. A Melinda me atendeu.
- Melinda? – eu perguntei. Havia muito barulho no fundo. – Onde você está?
- Mi?! Midori?! É você?! – A ligação estava cortando.
- Sim, sou eu. Onde você está? E que lugar barulhento é esse em plena luz do dia?
- Escute, eu acho que – ficou mudo por alguns instantes. – vá pra Atlantic City.
- Ahn, quê? Sim, eu estou indo para lá... A ligação está cortando Mel. – ninguém me respondeu – Mel?!
- Mimi, ele está... – a ligação caiu.
- Que estranho... – melhor ligar mais tarde.
Contudo aquela ligação me preocupou bastante. Era de Mitch que ela estava falando. Disso eu tenho certeza. Toda essa história explodiu na minha mente. E quando eu chegar lá? O que vai ser de mim? E se ele quiser reatar comigo? E se ele quiser se vingar? E a Emma? Ela é uma criança vampira? Ou ela é uma humana de 67 anos, que viveu órfã, sendo que sua mamãe viveu todo esse tempo?Será que ela vai sentir raiva de mim, achando que eu a abandonei? E como eu vou explicar para ela o que houve?E se ela achar que eu sou louca? Ou será que ela viveu com Mitch? O que será que ele disse de mim para ela? ´´Mamãe tentou matar papai?´´ Meu Deus! E se tudo for uma farsa? E se ele não estiver com ela coisíssima nenhuma? Não... Ele não seria tão baixo assim.. Ou seria?E os meninos? Eles vão me deixar lá, pegar a grana e ir embora?E a Jennifer? Ela vai fazer o que com o Mitch? Vai interrogá-lo sobre a morte do irmão? Eu comecei a sentir uma forte dor de cabeça..
- Você está bem, Midori? – Sam me perguntou. Ele sabe quando não me sinto bem, o que me intriga muito.
- Sim, estou. – ele notou que eu estava mentindo.
Olhei pro Kurt. Ele olhava para todos os lados, com a testa franzida. Ele parecia meio perdido.
- Onde nós estamos? – Jennifer perguntou.
- Boa pergunta... – ele murmurou.
- Como assim, você não sabe onde estamos?! – Ryan grasnou.
- Não, não sei. Acho que não peguei o caminho para Denver. Acho que estamos indo para Aspen.
Finalmente uma boa noite teremos hoje.
- Graças a Deus! Conheço ótimos hotéis em Aspen.
- Hotel aberto, você quis dizer...
- Por quê?
- Por que Aspen no final do verão não tem neve! – ele disse alto. Realmente, não tinha pensado nisso.
Kurt voltou um pouco na estrada, já que Aspen não fica aberta no verão. Ficamos na ponta de uma cidade chamada Glenwood Springs. A cidade era bem diferente sem neve, assim como qualquer outro lugar. Tinha pouca coisa, algumas pessoas na rua, e a estrada seguia o percurso de um rio. Kurt parou o carro em um Motel de esquina. O hotel parecia coisa de cinema. No mau sentido.
- Por que paramos aqui? Eu conheço hotéis melhores em Aspen, que fica mais pra frente...
- Só são cinco horas? Por não vamos para Denver? Fica duas horas e meia daqui.. – sugeriu Jennifer.
Ryan deu um sorrisinho.
- Hein, Kurt? Por que você está adiando Denver?
Kurt fugiu com os olhos.
- Parei aqui, para amanhã sairmos mais rápido. E não vamos para Denver hoje, por eu estou cansado.
- Então tudo bem... Achei que era por causa da Julia.
Sam deixou escapar uma risada.
- Por quê?Quem era Julia?
- A ex-esposa dele. – esposa?Por essa eu não esperava.
- Ela não era minha ex-esposa, por que eu não casei com ela. Eu só morei uns anos com ela...
- Uns anos? Você morou com ela tipo, 8 anos, só brigavam, não tinham sexo, e a casa ainda ficou com ela. Diga-me se isso não era casamento. Fora que vocês só brigavam por causa daquele laboratório idiota.
Kurt não respondeu, e Sam parou de rir. Embora tudo fosse realmente engraçado, pois não consigo imaginar Kurt levando a pior de uma mulher, mas algo naquele comentário sobre o laboratório os fez calar a boca. O será que houve?
Nós saímos do carro, e fui correndo para a sobra da recepção. Lá dentro era meio quente, mas dava para agüentar. Só tinha um quarto disponível com duas camas de casal e um sofá cama. Ryan alugou aquele. Não acreditei. Eu ia dividir o quarto com... Eles. Espero sobreviver.
Eu nem tirei as minhas coisas do carro, só peguei uma muda de roupa e minha nécessaire, eu preciso de um banho gelado. Logo depois de ter entrado no quarto eu fui direto para o banheiro. O banheiro era espaçoso e limpinho, e bem melhor do que o de Green River. Eu me deparei com espelho. Meu rosto estava branco como sempre. Eu sei que não tenho rugas nem marcas de idade, mas não estou acostumada ainda a viver a eternidade. Lembro-me que quando era pequena a minha mãe sempre procurava pés de galinha antes de dormir, e eu a imitava toda noite, e toda noite ela me perguntava o que eu estava fazendo. Nem eu mesma sabia responder. Ela me dizia: você não vai ser jovem para sempre. Quando você tiver rugas, você procura. Ela sempre me dizia brava, mas depois ria de tudo. Ela era assim. Ficava irritada com tudo, mas depois ria. Infelizmente ela estava errada. Tantos anos ouvindo a minha mãe, e quase nada do que me disse se aplicou. Isso é algo que eu lamento muito. Uma brisa trouxe um cheiro de cachorro molhado para dentro. Era um lobisomem, e pelo som, estava há uns dois quarteirões. Alguém bateu na porta.
- Tá viva ainda? – era Kurt. – O seu celular ta tocando de novo. – ele passou o meu celular por de baixo da porta. Isso é algo que devia virar propaganda.
Eu ia falar para o Kurt sobre o lobisomem, mas vi que quem estava ligando era alguém bem mais importante. Eu liguei o chuveiro para eles não ouvirem a conversa, afinal era de negócios. Após ter falado com o velho, fiz o maior negócio. Ia vender um amuleto raríssimo por um milhão e duzentos mil. Era só integrar hoje a noite em Denver as oito em um galpão. Mas e agora? Eu estou sem carro, e também sem o amuleto, o que geralmente não é problema, só vai dificultar um pouco. Tive uma idéia. Eu tomei banho, fiz uma ligação e saí.
- Finalmente, achei que tive criado raízes.
- Não... Já que você me pagaram a noite, eu pedi uma pizza ótima para vocês, fica dois quarteirões daqui, foi uma amiga humana que me indicou.
- Pediu de quê? – Ryan perguntou. E agora?
- Metade de queijo, metade de pepperoni... – eu chutei.
- Nossa, onde fica a gente vai agora! – deu certo! – Me dá o endereço.
- Você.. – Eu olhei pela janela, e entre as persianas eu vi uma grande letreiro- É na Domino´s pizza do outro lado da rua.
Eles saíram. Olhei pela janela e vi que estavam a pé. Que bom, assim não vou ter que roubar nenhum carro, além do deles. Peguei a minha nécessaire no banheiro e as chaves do carro que estavam jogadas no aparador, e abri a porta.
- Aonde você vai? – uma voz veio até mim, do sofá. Sam estava lendo. E agora?!
- Eu vou... Pegar comida no carro.
- Oh sim, e mandou todo mundo sair pra quê? – ele é mais inteligente do que eu pensei. – Pois eu vou junto. Se eu te perder de vista eles me matam.
Não sei se sou mais esquisita do que eu pensei, mas na minha teoria, ele tentaria me impedir e não ir comigo, certo?A não ser que ele saiba que ele só não conseguiria me impedir. Fantástico! Um caçador com uma incrível capacidade de raciocínio lógico... Ou a raça humana está ficando mais inteligente... (olha a besteira que eu estou falando).
- Por que você não foi comer pizza?
- Por que eu, ao contrário dos 99% dos humanos, não gosto de pizza. – por essa eu não esperava. Ele se levantou. – É bom nós irmos logo já que eles vão devorar a pizza e voltar.
- Eles vão demorar, eu tenho certeza. Mas e você não vai comer?
- Não estou com fome. Para onde você vai? – não acredito que estou levando uma criança comigo...
- Vou fazer uma entrega. Eu recomendo você não ir.
- Entrega de quê?
- Melhor você não saber. – Nós saímos e entramos no carro. Já estava escuro.
Sam se viu no banco do passageiro. Ele franziu a testa quando me viu no volante.
- Você sabe dirigir?
- Claro que eu sei. – eu olhei para os pedais nos meus pés. Por algum motivo, havia três ali.
- Não entendi. Como assim tem três pedais? Eu só tenho duas pernas!
- Isso aqui é um carro manual não automático. – legendas, por favor. Ele deu um suspiro – O pedal da esquerda é a embreagem.
- Ok, ok, eu me viro. – Eu liguei o carro e saí dirigindo. Não era tão difícil assim. Pensei no plano da entrega. Por que bem... Eu não tenho o que ele me pediu, mas estou acostumada com isso. Peguei o celular e adiantei a entrega e o local. Sete horas em ponto na cidade anterior a que estamos Gleenwood Springs. – Em quinze minutos chegamos.
Sam parecia m tanto desconfortável.
- O que foi? Você parece tenso.
- É que se esse seu plano der errado eles me matam.
- Mas eles não vão descobrir.
- Você acha mesmo que o tempo que você gastar para ir a Gleenwood springs, entregar, receber e voltar, vai ser o mesmo tempo deles devorarem uma pizza?!
- Meu querido, você se esqueceu de uma coisa. Eu sou a Midori lembra? Eu já pensei nisso. Há um lobisomem atrás da pizzaria, e eu pedi três pizzas, o que vai demorar para ficar pronta. Então eles vão sair para tomar um ar fresco, e se deparar com o lobisomem e ai vão caçá-lo, e quando voltarem, estaremos sentados no sofá assistindo friends.
- Ah... Bem pensado, mas ainda tenho uma pergunta. Como é que eles vão caçar um lobisomem, se as armas estão aqui no carro?
Mas qual é a desse garoto?! Ele tinha total razão de novo.
- Eles tem a Jennifer. Ela não precisa de armas – Ha! Peguei ele agora.
- A Jennifer não tem poderes. Ela não os recebeu ainda.
- Eu já lutei com muitos lobisomens na minha vida, e eles são tão burros que nem é necessário armas. Pode ficar tranqüilo.
- Se você diz... – ele continuou a viagem desconfortável. Realmente o entendo. Ele não parece o Ryan, que enfrenta os irmãos. Ele parece fazer uma espécie de política de boa vizinhança. Achei melhor conversar com ele para quebrar um pouco o gelo.
- Então Sam. O que me conta de você? Por que você preferiu caçar monstros – o que é uma completa e total perda de tempo – do que sei lá... Arrumar um emprego, ou fazer faculdade?
- Nossos pais sempre disseram que não importa o que nós três temos que permanecer juntos. Então quando eles morreram e o laboratório foi destruído, nós meio que... Mudamos o nosso rumo. Resolvemos caçar monstros antes que eles fizessem mais estrago.
- Sobre esse laboratório... O que tem ele?
- Nossos pais eram cientistas em uma clínica. Depois de alguns anos de casados eles resolveram montar um laboratório. Ele ficou muito famoso e nossa família brigou muito por causa dessa droga de laboratório, por que todo mundo queria ter uma parte dos lucros, mas meus pais não queriam de jeito nenhum. O laboratório era a herança de Kurt, eu ia estudar e trabalhar lá. Mas...
- E o Ryan?!
- Ele nunca levou jeito na escola. Então ele foi o que teve mais sorte pois ele podia ser o que quiser. Eu tive que abrir mão da minha vaga de faculdade, e eu tenho ainda o dinheiro da dela. o Ryan não gastou quase nada do que recebeu só comprou o carro. Kurt não recebeu um centavo dos nossos pais, a sorte dele é que ele passou 8 anos casados com a Julia, e ela era rica. Ele disse que não era casado, mas era sim, por que o processo de separação foi realmente um divórcio.
Por essa história eu não esperava. Eles perderam todos os sonhos. Todo o futuro por causa de...
- O laboratório era de quê?
- Na fachada era de exames de sangue, raio x e DNA. Mas o forte era o estudo de criaturas como vampiros, lobisomens, sereias, pessoas que tem poderes sobrenaturais. Por isso acreditamos de primeira que a morte foi por criaturas como essas.
... De uma ciência que pesquisava o proibido.
- Mas vocês vão falir se ganharem dinheiro, ou tem bastante?
- Nós somos bons em multiplicar dinheiro, tenha certeza.
Ficamos em silêncio novamente.
- Não vou contar para ninguém sua história.
- Eu sei que não vai... Mas e você, o que me conta? Você teve uma filha, a Emma. E também foi transformada em vampira no seu casamento. Então a igreja pegou fogo e você sobreviveu. Meio doida essa história, não?
Eu encostei o carro.
- Chegamos. – saímos do carro – A minha história é um tanto confusa, comprida e complicada, você não vai querer saber...
- Não, vou sim. Eu contei a minha, agora eu quero saber da sua. – ele tinha um cabelo lindo, castanho claro e olhos azul bebê de baixo de sobrancelhas grossas. Ele era ainda mais bonito debaixo da luz da lua.
- Tá bom... Eu te conto no caminho, tenho que comprar uma coisa primeiro.
Fomos andando. Eu contei por cima, sem o drama de sempre. Eu conheci Mitch no teatro, tivemos uma filha que morreu com ´´insulficiência respiratória´´, ele me transformou em um mostro e eu o matei, mas aparentemente ele conseguiu voltar.
- Achei que você gostasse de ser vampira.
- Finjo apenas. Eu odeio não poder estar ao sol, como todo mundo. Ter que roubar para viver. Ou matar. Ter que mudar a cada dois anos. Tudo na minha vida é apenas temporário.Foi uma injustiça o que aconteceu comigo. Eu não queria isso para mim. Eu não tive nem escolha. Nem tenho como desfazer o que ele fez comigo. Vocês humanos que tem sorte. Poder se apaixonar, tiver filhos, envelhecer, e o melhor de tudo, poder escolher.
- Ter... Filhos?
- Vampiras não podem ter filhos. Por isso tem que transformar crianças ou engravidar uma humana. Foi o que Mitch fez comigo. Mas uma coisa é certa. Vocês são meio burrinhos.
- Nós ou toda a raça humana?
- Todos no geral. Eu quando era humana também era.
A cidade estava fresca. Era escura, mesmo com todos os postes de iluminação. As lojas já estavam fechando. Achei a loja que eu queria. O dono já estava na porta recolhendo o tapete. Eu parei na vitrine giratória onde giravam vários anéis. Os preços eram ridículos, de 80 a 200 dólares. Eu escolhi um anel de metal preto com uma pedra verde escura bem pequena. Eu me virei para o dono.
- Eu quero o número 23, por favor. – nós entramos. Eu comprei o anel fomos a pé para trás de um grande galpão de supermercado fechado. Esperamos ali, no silêncio. Começou a ventar frio. Uma van preta chegou a alta velocidade. Ela parou na nossa frente. O Senhor Reinalds desceu.
- Boa noite senhora, - ele disse com sua voz grossa. – Boa noite garoto. – Sam acenou com a cabeça.
- Aqui está senhor. – eu entreguei a ele - A forma de pagamento...?
- Está depositado na conta em que Paul me disse. – Ao menos ele consegue falar com Joey. Paul é o nome de trabalho dele. Um segurança de aproximadamente 1,90 de altura abriu um laptop mostrando a transferência de 800 mil dólares. Sam franziu a testa.
- Muito bem, negócio fechado.
- Sra. Dafne. Posso perguntar uma coisa? Gostaria de não sei... Um jantar?
- Não obrigada. Tenho negócios em Seattle pela manha e tenho que pegar um avião com urgência. – fazer negócios com o meu mini vestido azul mesclado com preto, não funciona.
- Deixe – me levá–la no meu jato. O seu motorista pode ir também. – Haha, o Sam como motorista.
- Não, muito obrigada, meu namorado me levará.
Eu virei às costas e andei rápido. Sam me seguiu. A van fez o contorno pelo supermercado e sumiu do outro lado do galpão. Chegamos até o carro.
- Estamos sendo seguidos.
- Como assim?
- Não sei se ele acreditou no anel falso que eu dei para ele.
- E agora?
- A gente despista eles.
Eu liguei o carro e virei da avenida para o bairro. Dei várias voltas.
- Pegue meu celular na minha bolsa, por favor. - ele pegou.
Eu programei para controle remoto. Eu abri a garagem de uma casa e entrei com o carro. A van passou reto e nem me viu. A garagem estava escura, então liguei a luz interna do carro e desliguei o motor.
- Que casa é essa?É sua?
- Não. Espere uns dez minutos e sairemos de novo.
- Como você fez isso com o seu celular? – ele estava com o coração acelerado.
- Ah, isso?Não é nada demais.
- Mas e se tiver gente na casa? Eles com certeza ouviram a gente entrar.
- Não tem ninguém na casa. Pelo menos não alguém vivo.
Ficamos um tempo quietos. Começou a me dar a maior fome. O coração acelerado de Sam mexia comigo. Ele olhou para mim, inevitavelmente, pois não desgrudava os olhos dele. Ele era com certeza, o melhor pedaço daquela família. Pena que teve uma vida tão desgraçada. Minha barriga rugiu. No meu peito algo queria explodir, e eu sabia o que era. Eu ia pular naquele pescoço a qualquer momento. Depois de três minutos eu liguei o carro novamente, antes que eu fizesse besteira, e chegamos no quarto de motel quinze minutos depois. Não tinha ninguém no quarto.
- Será que eles estão bem? – Sam perguntou.
- Claro que sim. – eu me sentei no sofá e liguei a televisão. Friends já tinha acabado.
Fui até o carro, peguei minha comida e voltei. Acho que nunca comi tanto sangue de uma vez só. Kurt, Jennifer e Ryan chegaram rindo.
- Vocês estão bem? – Sam perguntou.
- Sim, claro. – Kurt disse. – por que?
- Ah, nada.
- Vocês não encontraram nenhum monstro hoje? – eu perguntei.
- Não, apenas comemos muita pizza. E vocês?
- Nada demais. – eu disse. Sam concordou com a cabeça. Eles nem sequer encontraram o lobisomem.
Sam foi tomar banho e saiu com a Jennifer para comprar alguma coisa para ele comer, e Jennifer ia com ele para comprar mais band- aids, depois Ryan foi tomar banho. Kurt e eu arrumamos todas as camas. Eu e Jennifer íamos dormir numa cama de casal, Ryan e Sam em outra e Kurt no sofá. Ryan saiu do banho e Kurt entrou. Ele estava usando uma calça de pijama e nenhuma camisa. Ele realmente tinha um corpo muito bonito.
- E ai? Sam beija bem?
- Ahn? A gente não...
- Eu sei, estava brincado. Mas bem que a gente podia digo, Kurt demora no banho.
- Não, não faço caridade. - ele se sentiu ofendido.
- Caridade?! Tudo bem, é você que tá perdendo a chance.
- Eu? – ele deve tá brincado – Escuta aqui, que tal você arrumar o que fazer? – eu me deitei. E vi minhas mensagens no celular.
Kurt saiu do banho e Sam e Jennifer voltaram. Eu corri até o banheiro e pus pijama, me enrolei no roupão, antes de sair. Quando eu sai todos já estavam dormindo e tinham apagado a luz. Eu fui à ponta dos pés até a minha cama. Eu me deitei. Afinal não foi tão ruim assim dividir o quarto com eles todos. Logo adormeci.
Acordei do jeito que eu mais odeio. Com o sol da manhã, o mais fatal, passando entre as persianas e indo direto para meu rosto. Abri os olhos, tentei tampar a luz com a mão, mas ela estava presa. Havia um braço passando pela minha barriga, e uma pessoa colada nas minhas costas. Virei o pescoço e me vi numa cena não muito bonita. Eu peguei o braço e o puxei, fazendo Ryan cair no chão.
- O que aconteceu?O que foi?! – ele nem sabia mais onde estava. – Você? – ele olhou para mim. – Qual é seu problema?!
- O meu problema? – notei que todos acordaram com o barulho de Ryan. Jennifer estava dormindo na outra cama sozinha, e Sam estava dormindo ao lado de Ryan no outro lado da cama. Cheguei a uma triste conclusão. – É que eu dormi na cama errada...
Ótimo. Maravilha. Não podia ser melhor. Eu saí andando e me troquei no banheiro. Fui para o carro logo em seguida. Eu tomei um monte sangue, tanto que até um pingo caiu na no meu vestido azul. Eu estava brava. Muito brava. Pode até ser besteira, mas não sei... Eu nunca dormi na cama de um cara em 67 anos. O único homem com quem dormi junto foi Mitch. E hoje, dormi não só na mesma cama que Ryan, mas que Sam também. Que nojo. Senti um arrepio na espinha. Minhas mãos começaram a suar e a formigar. Dividir o quarto foi bem pior do que eu pensei. De repente todos entraram no carro. Sam foi dirigindo, Ryan foi na frente. Kurt ao meu lado e Jennifer do outro. Sentei no meio para escapar do sol.
Hoje eu acordei brava, e continuo brava. Chegamos a Denver, mas Sam não parou nenhuma vez. Kurt estava aliviado ao meu lado, parecia tranqüilo. Ninguém teve a péssima de tirar uma da minha cara. As ruas de Denver, como sempre eram movimentadas, com um monte de gente andando na rua e um monte carros refletindo sol na minha cara. Que final de verão era aquele afinal? Pelo retrovisor vi uma van preta aparecia e sumia atrás de nós. Dei um suspiro. O Senhor Reinalds era tão previsível, que nem me preocupa. A não ser pelo fato que há 4 humanos comigo carro. Estávamos sendo seguidos novamente. O que é um problema, pois pode muito bem não ser o Senhor Reinalds, então todos nós estaremos perdidos. Mesmo assim, para não colocar os meus meninos, e principalmente o Sam em problemas, então eu cuido deles mais tarde. Meus olhos começaram a arder por causa dos reflexos da luz. Se o ar condicionado não estivesse bem frio, eu já teria morrido.
- Ei? Para onde foi o som? – Kurt me encarou, mas não disse nada. Esticou o braço e deu o som para Sam.
Eu me virei abri uma das minhas malas e peguei um lenço e uns óculos escuros. O enrolei na minha cabeça e ombros, e pus os óculos escuros. Senti um alívio imediato. Nem prestei atenção na música, pois estava pensativa. O que eu ia fazer quando chegasse lá? E minha filha? Todas aquelas perguntas voltaram a minha cabeça. Eu ia precisar de um plano muito mirabolante para sair dessa. Fiquei confusa. Nunca havia misturado meu lado pessoal, com o de trabalho. Minha cabeça voltou a doer, mas dessa vez muito. Algo queria sair do meu peito, algo forte. Minhas mãos começaram a suar e formigar. Vozes e lembranças ecoaram na minha cabeça todas ao mesmo tempo. Uma delas era muito familiar, a minha: Como eles puderam?Como? Lembrei-me de tudo que houve antes do casamento. E pior, o que houve depois dele. Sangue. Muito sangue em todas as minhas roupas, escuridão, chuva e fome. O rosto de Joey, debaixo de uma guarda chuva. As festas, minha teimosia. Meu escritório, minha vida de negócios. As bruxas. Os recados. Meus sonhos com Emma. Ah! Minha querida Emma...
Emma dando seus primeiros passos, suas primeiras palavras. Pares de pequeninos sapatinhos lilases. Comendo bolo sábado a tarde, com chocolate em volta de boca rosinha. Emma dançando no balé. Indo no parquinho, brincando de bola, na areia. O brilho de seus cabelos ruivos mexendo enquanto balançava. Ela brincando pela primeira vez em um carrossel, colorido e iluminado. Seus olhinhos azuis observando cada enfeite dos cavalos. Sua risada ecoando em minha cabeça. Seus vestidos de renda. Sua escola, viagem com as amiguinhas. Por quê? O que aconteceu com a minha menina? Tinha tanto a viver. Eu tenho tanto amor para dá–la. Eu não escolhi o que aconteceu. Eu não tive culpa em virar um monstro. Eu não escolhi, nem opinei nada disso. Não foi justo o que aconteceu. Vivi uma vida que eu não escolhi. E depois que eu tentei concertar, ficou pior ainda. Destruindo qualquer chance de ter uma vida mais normal. E conhecer outro monstro? Não! Eu quero um humano, normal. Que não me traia, e nem seja traiçoeiro. E que eu tenha pelo menos, a minha filha de volta. Mas que infelizmente, não terá uma mãe que se orgulhe muito. Talvez seja por isso que não a consegui. Mas do mesmo modo, se não fosse ele, minha vida teria um rumo diferente e eu estaria, agora, descansando, em paz, e não tendo esses pensamentos horríveis.
- Emma... Sinto muito. – Eu acabei murmurando o meu pensamento.

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