domingo, 25 de janeiro de 2009

Capitulo 16

Domingo, 1971. Passei a tarde sentado, assim como agora, fingindo ler jornal, mas espiando o mar azul entre as persianas fechadas. Mesmo não estando em casa, o cheiro de Midori fica no quarto. É quase tão engraçado quanto quando ela sai correndo do banheiro para o quarto enrolada na tolha. Moramos juntos há 30 anos e ela ainda tem vergonha. Mitch a escolheu perfeitamente. Por isso estou tão farto de suas ligações semanais, que recebo há 30 anos, perguntando por ela. Ela é esperta, inocente e infelizmente com instintos assassinos. Vou explicar o porquê.
Alguns momentos depois de Mimi ter saído daquela igreja, percebi que algo havia de errado. Não em não querer virar vampiro, mas sua reação. Seu desejo de vingança era insaciável a ponto dela se satisfazer torturando aqueles como ela os chamou ‘traidores’. Desde os tempos de Freud eu me apaixonei pela psicanálise secretamente. Ninguém sabe, mas Midori é a minha paciente involuntária, por ser um caso especial. Nem ela mesma sabe que tem um problema. Eu sei. E é um problema sério, e ainda não estudado. A elite da psicologia, entretanto, é pequena. E Midori intriga a todos nós.
Quem conhece sabe: Midori é uma menina especial. Para minha idade, menina sim. Não sei dizer ao certo o que ela é, mas sei dizer o que ela não é: uma pessoa singular. É um pessoa plural, por assim dizer. Elas sofre de um tipo de distúrbio de múltipla personalidade, cuja suas parte sabem das existências das outras, assim é difícil compreendê-las, conversar, interagir e estudar cada parte. Dividimos Midori em três partes: Mi, Do e Ri. Não ache idiota. Mi, chamamos de Michelle. Do, Dafne Ohio, e Ri, de Rose Insten. A escolha dos nomes, não foi feita por acaso, mas sim, pelo subconsciente da paciente. Michelle, Dafne e Rose, foram pessoas importantes para ela. Michelle e Dafne eram amigas de escola. Michelle, a delicada, ela, Dafne, a esperta, e ela, ambos. Rose foi sua heroína. E também condenada à morte por dezesseis assassinatos, tortura, invasão de propriedade, calúnia, e enterrar as vítimas debaixo da própria horta, e como se não bastasse, vendeu os legumes a toda a cidade em que morava. Legumes que cresceram nutridos da carne de seus próprios vizinhos, irmãos, filhos e pais. E no dia de sua condenação, ela morreu rindo. Rose Insten foi considerada a primeira mulher psicopata do mundo.
Entre oscilações de humor e cadastros de hotéis, é perfeitamente capaz de se distinguir que pessoa está ativa em Midori. Michelle é fraca, a parte inocente, graciosa, mãe, delicada, fresca, e a mais próxima de sua humanidade, voltada ao passado. Dafne parte pilantra, esperta, sedutora, trapaceira, materialista, improvisa tudo no caminho, é seu modo de relação com as pessoas ao seu redor, sua parte vampira. E Rose, a parte sanguinária, agressiva, sedenta, psicopatia. Agradeço todos os dias por isso, só ficou ativa por seus dois primeiro messes de vampira. Foi por isso que sai que doido procurando – a. Ela cometeu horrendos assassinatos. 14 para ser mais específico. Assassinatos todos a vampiros. Desde crianças, a grávidas, homens e mulheres. A maior parte da família de Mitch que ela considerava sua família também.
Claro que depois de ver esta definição detalhada sobre Midori, deve achar que ela é completamente louca. Mas, neste caso não. Vampiros tendem realmente a se dividir entre seu lado fraco, o humano, e seu lado forte retraído a lado vampiro. A existência do segundo é puramente para encobrir o primeiro, pois tiveram que fazer certos sacrifícios que os tormentam pela eternidade. Mas não no caso de Midori, pois nenhuma parte sua é feita para encobrir outra. A que tecnicamente chegar perto dessa definição, seria Dafne.
Com ela longe de mim tive que rastreá-la, monitorando suas personalidades. Não vou mentir, mas Mitch é a fonte do se pior lado. Por isso temo que Rose volte, e caso isso aconteça não temo mais só por ela. Mas temo por todos nós.

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